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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Tarso defende expulsão de tesoureiro do PT caso comprovada participação no sistema de corrupção

Uma das poucas vozes do PT que pedem mudanças radicais na estrutura do partido, o governador Tarso Genro disse na quarta-feira que se houver indícios de envolvimento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no esquema de corrupção da Petrobras, ele tem de ser expulso, sem esperar julgamento.
O governador também cobrou ações de Dilma Rousseff para contornar a crise e sugeriu que a presidente envie um projeto de lei ao Congresso que acabe com as doações de empresas para partidos.
Confira a entrevista concedida nos estúdios da RBS TV.
Em 1999, diante de uma grave crise econômica no governo FHC, o senhor sugeriu a renúncia do presidente e a convocação de novas eleições. Agora, com o escândalo da Petrobras, o país vive um momento de instabilidade de grandes proporções. De que forma o governo Dilma sairá dessa crise?
A presidente tem de, rapidamente, fortalecer o Ministério da Justiça e a Casa Civil, colocando pessoas definitivas lá, e apresentar um ministro da Fazenda que tenha coerência com o seu plano de governo e empatia para desbloquear o crescimento econômico do país, que é um problema sério. Ter uma crise política com crescimento econômico é diferente de ter uma crise sem crescimento. O que se espera, e eu confio nisso, é que a presidente vai tomar essas atitudes rapidamente para dar estabilidade ao governo.
Um dos diretores apontados como operador do esquema de corrupção é Renato Duque. Os delatores da Lava-Jato dizem que ele drenava a propina dos contratos com as empreiteiras para o caixa do PT. Como fica a credibilidade do partido diante dessas acusações?
Em primeiro lugar, é preciso saber se essas acusações são verdadeiras. Em segundo, tem de saber se o Renato foi indicado efetivamente pelo PT. Mas qualquer partido que receba dinheiro ilegal, seja PT, PP, PMDB ou PSDB, como é frequente no noticiário, tem de responder publicamente por isso. As pessoas têm de ser processadas e condenadas.
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é citado como um dos beneficiados pelo esquema de corrupção. Como o partido deve agir neste caso?
Se o tesoureiro do partido compartilhou de qualquer procedimento ilegal, tem de ser expulso imediatamente. A minha visão é de que o partido tem de analisar o caso dele através de advogados que manuseiem o processo e verifiquem se existe qualquer indício de participação dele. Se sim, tem de expulsar imediatamente, sem esperar o julgamento. Porque esse nível de comprometimento com esse tipo de ilegalidade tem atrapalhado o prestígio do partido, como atrapalharia qualquer outro, mas é mais importante porque o PT está no governo federal. A nossa obrigação é de reagir mais rapidamente do que qualquer outro partido. Nunca a questão da refundação do PT esteve mais em evidência do que hoje. 

 Quais pessoas seriam capazes de conduzir essa refundação, se parte do partido está ligada a casos de corrupção?
Isso se faz através dos mecanismos internos de debates, através de congressos, de decisões excepcionais, que podem ser tomadas pelo conjunto do partido e que sejam demandadas por correntes como a minha, Mensagem ao Partido, que têm uma visão se não de refundação, mas de reestruturação profunda do PT. O fato é que o PT não vai mudar se não mudar a sua agenda em relação à sociedade. O PT precisa pautar a reforma política, porque é impossível que você consiga renovar um partido apenas pela disputa interna.
Mas nem internamente o PT tem ideias convergentes sobre a reforma política. O projeto do deputado Henrique Fontana foi boicotado pelos próprios colegas petistas.
A minha reforma, enquanto ministro da Justiça, também. Sofreu as mesmas restrições que a do Fontana. Isso demonstra exatamente isso que estou colocando, que essas relações internas não vão mudar se o partido não mudar a sua relação com a sociedade. Então grupos de dirigentes como esses da Mensagem e outros que estão inclusive em outras correntes do partido têm de atuar para que o partido tenha essa agenda com rapidez e urgência, senão não vai haver essa mudança. Se o PT não mudar a sua relação com a sociedade, se não se reestruturar, pode se tornar um partido igual aos outros, igual ao PSDB, ao PMDB.
Já não se tornou?
Não. O PT tem uma lógica interna e uma disputa interna que passam por um processo de refundação que vai e volta e isso se torna cada vez mais atual. O PT ainda não é um partido tradicional, mas pode se tornar.
É possível acreditar em reforma política a partir de um Congresso minado de deputados e senadores que tiveram as campanhas pagas por empreiteiras, a maioria deles por empresas envolvidas em pagamento de propina?
Não. O que esse Congresso pode fazer é analisar, se a presidente mandar um projeto de lei proibindo, a partir da próxima eleição, a doação de empresas para campanhas eleitorais. Isso não é uma reforma, mas é direcionador de uma nova relação dos partidos com as empresas. Então, isso pode ocorrer, mas é necessário que haja iniciativa presidencial para isso. Isso deve ser uma demanda imediata do partido sobre a própria presidente Dilma. É mandar um projeto de lei para sinalizar uma ruptura com esse tipo de prática. 

 Algumas dessas empreiteiras envolvidas na Lava-Jato fizeram doações também para a sua campanha. É possível, no atual sistema político, fazer campanha sem o dinheiro dessas empresas?

Totalmente impossível. As campanhas têm de ser cada vez mais ricas, mais midiáticas, com elaboração tecnológica absolutamente artificial, o que muitas vezes esconde o programa dos partidos ao invés de apresentá-lo de maneira clara. O que tem de fazer é tornar as campanhas mais baratas, recursos mais controláveis e menos espetaculares, para exigir mais dos políticos. Nesse sistema que está aí de financiamento de campanhas, eu não vou ser candidato a mais nada. Vou continuar lutando pela reforma política, para melhorar o meu partido. Porque, na verdade, você tem um controle apenas formal. A lei passa a ser uma baliza ética, mas está se mostrando insuficiente nas circunstâncias atuais.
Mas os partidos também recebem dinheiro fora do período eleitoral. O PT recebeu doações milionárias de empreiteiras em 2011 e 2013.
Sou contra isso. Tem de proibir também fora do período eleitoral. A mistura do financiamento empresarial com os partidos políticos é um elemento impulsionador da corrupção em todas as dimensões. Isso precisa acabar, antes que isso acabe com a democracia brasileira. Fonte: ZH

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