Anistia a caixa 2 pode estimular "desprezo à lei", diz Sérgio Moro
O juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, emitiu
hoje (24) uma nota pública em que contesta as possíveis articulações
para anistiar o crime de caixa 2 no projeto que estabelece medidas
contra a corrupção (PL 4.850/16), em debate na Câmara dos Deputados. O
magistrado responsável pelos processos em primeira instância da Operação
Lava Jato disse sentir-se "obrigado a vir a público manifestar-se a
respeito, considerando o possível impacto nos processos já julgados ou
em curso". Moro
afirmou que "toda anistia é questionável, pois estimula o desprezo à
lei e gera desconfiança", sobre a possibilidade de anistiar o caixa 2Rovena Rosa/ABr
Moro
afirma na nota que "toda anistia é questionável, pois estimula o
desprezo à lei e gera desconfiança". Por isso, diz o juiz, a
possibilidade de anistiar os crimes de doações eleitorais não
registradas deveria ser "amplamente discutida com a população" e "objeto
de intensa deliberação parlamentar".O juiz se diz preocupado
com a possibilidade de que a anistia ao caixa 2 beneficie infratores que
tenham praticado corrupção e lavagem de dinheiro justamente por meio de
doações eleitorais. "Impactaria não só as investigações e os processos
já julgados no âmbito da Operação Lava Jato, mas a integridade e a
credibilidade, interna e externa, do Estado de Direito e da democracia
brasileira", argumenta. Ao encerrar a nota, Sergio Moro manifesta
"esperança" de que a medida não seja aprovada pelos congressistas,
"zelosos de suas elevadas responsabilidades". Juízes federais
O
presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto
Veloso, disse hoje (24) que a possível aprovação de anistia ao crime de
"caixa 2" revela imenso desprezo à população". De acordo com
Veloso, a tentativa de livrar políticos pelos crimes cometidos no
passado não abrirá brecha para que eles deixem de ser punidos. Para o
juiz, um investigado pelo crime de "caixa 2" na campanha eleitoral
também pode ser punido por lavagem de dinheiro, corrupção ou sonegação
de impostos. "Quem pratica caixa 2 hoje já está criminalizado. A
nova lei individualiza as condutas. Ela especifica, ou seja, o que ela
traz de novo é justamente isso. Mas não deixa de ser crime a prática do
caixa 2. A proposta da nova lei apenas amplia as condutas e especifica
quais seriam os seus agentes”, disse Veloso. Contexto O caixa 2 eleitoral está em debate na Câmara dos Deputados, que vota nesta quinta-feira em plenário as medidas anticorrupção,
no PL 4.850/16. O projeto foi protocolado como matéria de iniciativa
popular, após o Ministério Pùblico Federal coletar mais de 2 milhões de
assinaturas em todo o país. A criminalização da prática de caixa
2 foi incluída no texto do relator Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Ontem (23),
Lorenzoni e o presidente da comissão especial que analisou o PL,
deputado Joaquim Passarinho (PSD-PA), divulgaram nota em que manifestam repúdio a suposta manobra para tentar anistiar a prática de caixa 2. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse hoje que não vê brechas para uma anistia ao caixa 2 praticado antes da possível aprovação desta lei. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que há forçação de barra na expressão anistia de caixa 2. Os procuradores da força-tarefa que investiga os crimes apurados no âmbito da Operação Lava Jato tanmbém manifestaram preocupação com a hipótese de o Congresso Nacional aprovar mudanças legislativas que, para eles, ameaçam o combate à corrupção. ABr/Foto: ABr
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