Republico cobertura com Kenichi Ohmae , uma das estrelas da Conferência Mundial das Cidades.
VALÉRIA REIS
PORTO ALEGRE - O japonês Kenichi Ohmae , um dos principais estrategistas do mundo em negócios e corporações, é uma das personalidades presentes na Conferência Mundial sobre Desenvolvimento das Cidades e falou sobre: -Cidades, Globalização e Localização: a emergência de cidades transnacionais como novos atores locais no mundo globalizado -. Ele foi conselheiro do primeiro-ministro japonês, Nakasone . É Doutor em Engenharia Nuclear pelo Massachusetts Institute of Techonlogy. Também é reconhecido pelos mais de 100 livros que escreveu. Entre eles, “O fim do estado-nação”, “Fronteiras nacionais”, “O poder da Tríade” e o “Continente Invisível”. Como cientista e consultor, sempre esteve atento ao papel que a tecnologia pode desempenhar na quebra de barreiras e as implicações disso para os negócios e a sociedade.Segundo Ohmae, um país se constitui apartir da soma do capital humano, ou seja, da formação de seus habitantes. Ele é a favor de uma reforma geral no sistema de ensino. E observa: “A educação não deve ser feita através do modelo existente” Ele defende que o professor reflita sobre todas as perguntas junto ao aluno, em vez de apresentar as respostas diretamente. “Isso encoraja as pessoas a debater diferentes pontos de vista. Ouvir os outros é mais importante do que inteligente”, ressalta.O japonês também falou sobre a cola. Kenichi é a favor desta prática. “Porque temos que lembrar de tudo se os chips são tão baratos?”, ironizou. O professor de Políticas Públicas na Universidade UCLA de Pesquisa Pública e Social, em Tóquio, no Japão, diz que hoje é inconcebível, nas escolas de adminsitração, estudos de casos e trabalhos de alunos levarem mais de nove meses para serem finalizados. “É inaceitável, numa época em que tudo se move tão rápido”, dispara. “A capacidade de reflexão instantânea é fundamental”, diz.O japonês deu um “banho” de conhecimento para o público presente no Centro de Eventos da PUC (mais de 6 mil inscritos). Falou desde economia mundial, globalização, decifrou mapas da ONU entre outros. Falou sobre a moda italiana copiada na China. Disse que é muito diferente na percepção. “Nesse sentido, pode-se adquirir a percepção da percepção”, elocubrou. “Podemos até importar inclusive terra. Não precisamos plantar arroz no Japão, adotando políticas regionais inteligentes e sensíves”, observa.Kenichi acrescenta que nos Estados Unidos, o Vale do Silício, na Califórnia (EUA) é famoso por importar todo tipo de pessoas. Por exemplo, em Hollywood , todos vêm da Austrália atualmente. Segundo o intelectual, o Google foi estabelecido, em parte, por um imigrante russo. Ele acredita que os Estados Unidos é um país livre do resto do mundo, por importar pessoas.
CHINA E ÍNDIA
O japonês lembrou que na China e na Índia, algumas regiões estão fazendo progresso e crescendo 20% ao ano, através da revisão do sistema educacional e da forma de pensamento. Para Ohmae, 2008 é uma era de oportunidades globais. O dinheiro está disponível em abundância. Segundo ele, 60 trilhões de dólares não têm pátria. Estão disponíveís e se desenvolvendo em investimentos pelo mundo. Disse ainda que não se deve pensar só no global, mas é preciso regionalizar e não desconsiderar as regiões. Estas, desempenham certo papel e podem ser obstáculos ao progresso econômico. “Não é época dos países avançados crescer 2% e 3%”, diz.Kenichi lembrou que a China é uma máquina de crescimento e tem um apetite muito voraz por recursos. Ressalta que outras pessoas sustentam a União Européia (UE) e sua expansão na Europa Oriental. Explica que o Euro tornou-se poderoso em relação ao dólar americano, ocupando hoje 120% da reserva dos bancos, Segundo o japonês, isso poderá causar tantos estragos na economia dos outros, que terão que criar uma moeda unificada – entre o dólar e o euro. “Atualmente, a economia americana está sofrendo. Já os europeus acham que podem seguir em frente sem a economia americana. Essa é a visão do novo mundo”, enfatiza.Sobre a China, o professor diz que eles têm sede e fome de recursos. Querem crescer uma taxa de 10%. Lembra que as pessoas de quarenta anos na China só leram o livro do Mao Tse Tung e só sabem aceitar ordens. Já os jovens da Universidade de Beijin possuem idéias novas. Também observa que economia coreana integra a chinesa. A economia chinesa tem problemas estruturais. Cinqüenta e cinco por cento dos produtos são da Ásia. Ele cita a empresa taionesa Hon Hai que está ultrapassando a Sharp, Panasonic e possui 300 mil empresas em regiões da China, produzindo Ipods, Playstation.iguais aos da Sony. Dos 40 exportadores chineses, 14 são taioneses – todos eles operando na China.”Sem a contribuição de Taiwan, a China poderá ter problemas. Estes países não se dão e têm políticas diferentes”, frisa.
ECONOMIA SEM FRONTEIRAS
Ohmae citou ainda a distância entre Porto Alegre, Rio de Janeiro e Buenos Aires. Observa que a “Economia Sem Fronteiras” está funcionando de verdade e poderá tornar-se uma realidade como o Leste Asiático, onde a China foi um ‘catalizador’. Para que isso aconteça, explica que a China recebe 60 e 70 bilhões de dólares de fora. Segundo ele, a China é um país pobre. “Não tem dinheiro. Só tem gente”. O dinheiro sempre foi um problema para a China. Atualmente, a infra-estrutura, obras e os postos de trabalho são melhorados de forma incrível a uma velocidade de três meses, para atrair esse dinheiro. Também lembra que o inglês se tornou a língua dessas regiões. “Regiões prósperas são criadas por um único indivíduo, a exemplo do Bill Gates que mora em Seattle (USA).Kenichi observa ainda que o Google surgiu em 1998. “Se tivesse sido criado cinco anos antes, não teria sucesso”, frisa, acrescentando que é fundamental ser específico em termos de ‘timming’ e estratégia. Se o projeto é criado fora do tempo, poderá ter muitos concorrentes. “A boa estratégia consiste nas necessidades básicas do cliente. Não é o recurso que conta, mas sim fazer a diferença”, salienta. “O Estado-Nação que quiser ter sucesso, tem que se regionalizar. Precisa pensar em regiões que possam atrair capital. Lembrou que países controlados e centralizadores, como Japão e Indonésia, podem ter problemas. “É preciso descentralizar para crescer”, completou. (Valéria Reis).
Foto: André Chassot/temporealfoto.com
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