FSM - Geográfo David Harvey defende transição revolucionária do modelo anti-capitalista
Porto Alegre - O neoliberalismo não acabou e a possível transição para um modelo anti-capitalista só acontecerá com mudanças na relação com a natureza, com as tecnologias, nas relações sociais, no sistema de produção, e com novos arranjos políticos e institucionais. O diagnóstico é do geógrafo David Harvey, professor da City University, de Nova York, e nome conhecido do Fórum Social Mundial. Ele participou hoje (25) de debate sobre a conjuntura econômica mundial dez anos após a primeira edição do evento. “As transformações revolucionárias ainda são possíveis e é imperativo que aconteçam”, defendeu. Harvey fez duras críticas à desregulamentação da economia que, segundo ele, desencadeou não só a recente crise financeira internacional, mas outras pelas quais o mundo passou. “Nos últimos 30 anos vimos crises centradas no sistema financeiro, por causa da disjunção entre a quantidade de riqueza em papel e a quantidade de valor real, que é a que possibilita o construir.” O geógrafo apontou que o esgotamento do sistema financeiro é previsível por ser baseado na manutenção de níveis de crescimento insustentáveis. “Leva um pouco de tempo e a bolha vai estourar de novo. O capitalismo entrou numa fase em que sua tendência à destruição criativa tem cada vez mais a ver com destruição e menos com criação”, criticou. A alternativa, segundo Harvey, não será encontrada isoladamente ou com ataques aos que estão enriquecendo com as desigualdades. “Tem que haver uma transformação social ampla, um processo de longo prazo. Podemos criar algo diferente, mas só temos uma pequena janela até que isso também seja reabsorvido pela prática dominante”, ponderou. Apesar de sinais de alianças mais consistentes entre movimentos sociais e organizações não governamentais em torno de agendas comuns, Harvey avalia que a convergência – necessária para pressionar transformações sociais mais profundas – ainda está distante. “As concepções mentais da esquerda têm que mudar, as universidades têm que mudar. Os estudantes têm que propor um levante contra o que aprendem na universidade e não tem nada a ver com o resto do mundo”, sugeriu. ABr
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