56a. Feira do Livro de Porto Alegre - Ivan Izquierdo ensina a arte de esquecer
Nesta sexta-feira, 5 de novembro, Ivan Izquierdo, um dos maiores pesquisadores do mundo na área de fisiologia da memória, brindou a plateia presente no Auditório Barbosa Lessa (no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo) com preciosas recomendações sobre a arte de esquecer. Estas lições estão em seu mais recente livro, de mesmo título – “A arte de esquecer”. Como e por que esquecemos ou precisamos esquecer? Esta é a principal pergunta a que o livro pretende responder, questão sobre a qual o neurocientista argentino palestrou durante da programação da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre. Izquierdo começou falando do quão difícil é arte de esquecer, pois aprender a distinguir entre as informações que devemos deixar de lado e as que devemos guardar é o que nos permite pensar. “Nossa memória de trabalho tem uma capacidade enorme, que lhe torna possível absorver e processar as informações. Ela tem a característica física da resiliência, sendo pressionada por mais e mais dados que chegam. Mas, para pensar, precisamos fazer generalizações, analogias etc. E, para isso, devemos liberar espaço em nossa memória. Assim, retemos a maioria das informações por pouco tempo e logo as esquecemos”, explicou o professor.
Não saturar a memória é algo inato, que impede o ser humano de naufragar em meio às recordações, de enlouquecer. Mas isso só acontece mediante a ação de alguns mecanismos. O primeiro seria a repressão, sobre a qual o famoso psicanalista Sigmund Freud já falava no século XIX. As pessoas reprimem as memórias nocivas, de acontecimentos negativos. Quando isso não acontece, o indivíduo sofre com o estresse psicológico. “Aqueles em estado de estresse pós-traumático são exemplos de pessoas nas quais o mecanismo da repressão falhou. O caso recente mais emblemático é o de sobreviventes do 11 de Setembro”, comentou Izquierdo. A repressão pode ser voluntária ou involuntária. O cérebro verifica sensores como o aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos e constata que tal memória causa sensações ruins como o medo. Assim, a reprime naturalmente. O segundo mecanismo da arte de esquecer é a extinção. O neurocientista retomou o exemplo do 11 de Setembro para que o público pudesse compreender esta técnica que é muita utilizada na terapêutica psiquiátrica. “O estímulo visual, as imagens dos aviões colidindo contra os prédios naquele trágico acontecimento foram mostradas para os sobreviventes que sofriam de estresse pós-traumático. Depois, não existia a consequência, nada de mal acontecia. Desse modo, se dissocia a imagem evocada na memória do sofrimento causado naquele dia. Com isso, as pessoas puderam parar de evocar tais lembranças tão dolorosas de forma estressante”. O último mecanismo seria a “dependência de um estado”, o bloqueio. “A vida se parece com a comida chinesa, é sempre agridoce, um pouco amarga, um pouco doce”, brincou o pesquisador. Ele frisou que todas as memórias são criadas na presença de emoções. Não existe momento da vida de um indivíduo sem emoção. E na hora de evocar uma memória, repete-se uma emoção parecida com aquela vivida no momento em que se reteve a informação. Izquierdo ilustrou isso com um fato bem simples: “no velório, lembramos de coisas tristes. A emoção tristeza está presente”. Segundo o autor, esse mecanismo tem uma importância biológica enorme, pois ativa hormônios e neurotransmissores essenciais para as ações rotineiras. “Sem isso, a pessoa não se encaixa na vida real, em sociedade”, concluiu. Feira/Foto: Bruno Alencastro
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