Participei da entrevista coletiva com direção e bailarinos da Cia Pina Bausch que apresentaram o espetáculo Ten Chi em Porto Alegre, uma das últimas criações da coreógrafa Pina Bausch, falecida em 2009. As apresentações acontecem no Rio de janeiro, São Paulo e Porto Alegre. O espetáculo faz parte da programação do Porto Alegre em Cena, um dos grandes festivais de teatro da atualidade. O espetáculo foi exibido nos dias 23 e 24 de abril no Teatro do Sesi. Nesta edição, mostrarei trechos da coletiva para meus leitores.
Montagem inspirada na cultura da cidade de Saitama, no Japão, Ten Chi (Céu e Terra) foi encenada pela primeira vez em 2004 e faz parte da famosa série de quinze produções em que Pina retratou através da dança os lugares por onde passou em suas turnês. Para conceber as peças, a coreógrafa e sua companhia moravam por cerca de três semanas nas cidades que escolhiam homenagear, com a intenção de se integrar à cultura local, visitando personalidades e conhecendo pontos turísticos.
“Depois, tudo isso se transformava no palco em fragmentos de cartões postais, onde cada bailarino anotava suas leituras particulares de situações vividas. O resultado nunca foi uma mera ilustração dos lugares por onde a trupe passou, mas uma cartografia sentimental”, explica o escritor e jornalista Fabio Cypriano, autor da biografia Pina Bausch.
Em Ten Chi, os 17 bailarinos da Tanztheater Wuppertal, hoje dirigida pelos coreógrafos Dominique Mercy e Robert Sturm, exploram aspectos da cultura japonesa moderna com humor e delicadeza, em um cenário composto por partes de uma baleia gigante e outros elementos da terra do sol nascente, como bonsais e flores de cerejeira.
Embalado por uma trilha que inclui Norah Jones e Gustavo Santaolalla, e textos de Bertolt Brecht e José Saramago, entre outros, o espetáculo traz no elenco a brasileira Regina Advento, integrante da companhia desde 1993. A bailarina esteve presente, ao lado da conterrânea Ruth Amarante (que também faz parte da Tanztheater Wuppertal, mas não atuará nesta montagem de ‘Ten Chi’), na última passagem do grupo pelo Rio, quando este apresentou a versão da ópera Ifigênia em Tauris, de Christian Willibald Glück, e Cravos (Nelken). Ten Chi estreou em Wuppertal, em maio de 2004, de onde seguiu para Saitama. Nos anos seguintes excursionou por Paris, Tóquio, Lisboa (2005); Wiesbaden (2006); Los Angeles e Berkeley (2007).
Pina Bausch foi nomeada diretora artística da então Wuppertal Opera em 1973, época em que começou a desenvolver uma mistura de dança e teatro. Nas suas montagens, os bailarinos não só dançavam como também falavam, cantavam, riam e até choravam. “Não me interesso em como as pessoas se movem, mas o que as move”, dizia Pina, em uma de suas frases mais célebres, explicando o que a motivou a criar este novo gênero, que revolucionou a dança no século 20 e inspira até hoje coreógrafos ao redor do mundo. Pina Bausch, tema do último documentário de Wim Wenders, exibido pela primeira vez este ano no Festival de Berlim e sem data de lançamento no Brasil, faleceu repentinamente aos 68 anos de idade, em Wuppertal, sua cidade natal.
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