Ex-deputados e protagonistas do Movimento da Legalidade foram homenageados em sessão comemorativa na tarde desta quarta-feira (31), na Assembleia Legislativa. Emocionados, agraciados e representantes ocuparam o Plenário 20 de Setembro para receber a medalha alusiva ao cinquentenário do episódio histórico. Os 56 nomes foram sugeridos pelo Grupo de Trabalho responsável pelas comemorações no Parlamento gaúcho. Entre os homenageados in memoriam, figuras como o ex-governador Leonel Brizola, o ex-presidente João Goulart e o presidente da Assembleia à epoca, Hélio Carlomagno. Viver para contarCom lágrimas nos olhos, o advogado e um dos comandantes dos alistamentos no edifício Mata-Borrão, Vitor Nuñez, definiu o momento como inesquecível. “É muito comovente receber esta homenagem e viver para contar as coisas que aconteceram, pois, até hoje, elas são muito mal relatadas. A historiografia pinta a epopéia da Legalidade de uma maneira preconceituosa”, afirmou o homenageado. A representante de Homero Simon, responsável pelo esquema de transmissão da Rede da Legalidade, Viviane Simon, destacou a importância da divulgação dos acontecimentos na época e na atualidade. “Meu pai foi um ícone nas telecomunicações por ter conseguido colocar no ar uma rede de transmissão que não tinha o apoio dos militares”, declarou. Também com importante papel na Rede Legalidade, o operador técnico das transmissões, Celso Costa, falou sobre o trabalho desenvolvido nos porões do Palácio Piratini. “Às 11 horas do dia 27 de agosto de 1961 fui encarregado pelo diretor da Rádio Guaíba de instalar, até às 15 horas, a Rede da Legalidade. Saí à procura de equipamentos e operei as 30 primeiras horas, por ocasião do pronunciamento feito pelo governador Leonel Brizola”, relatou. Costa também acompanhou o desembarque do presidente João Goulart em Montevidéu e o retorno para Porto Alegre. “Eu estava lá. Foi um trabalho bastante intenso, mas fico muito feliz por ter dado tudo certo”, enfatizou Costa, aos 81 anos. Agradecimento e emoção O ex-deputado petebista Ney Ortiz Borges, aos 87 anos conserva a voz firme e a memória afiada. “Só posso encarar uma cerimônia como essa com simpatia e agradecimento; faz bem à alma”, afirmou, enquanto subia as escadas que levavam ao Plenário 20 de Setembro. Vice-líder de Brizola na Assembleia, Ortiz Borges contou que estava em um avião retornando a Porto Alegre quando ouviu a notícia da renúncia de Jânio. “Vim direto para a Assembleia”, recordou. “Graças à voz de Brizola e ao clamor popular, estabeleceu-se a unanimidade na Assembleia, e mesmo os oposicionistas apoiaram a Legalidade”, explicou, resumindo o estado de espírito no Parlamento à época. No Salão Júlio de Castilhos, a esposa de Danilo Groff, assessor do governador Brizola e líder estudantil da época, Ionne de Carvalho Groff, disse lembrar, como se fosse hoje, das angústias vividas em 1961. “Morávamos no Rio de Janeiro, mas viemos para o Rio Grande do Sul para apoiar o Brizola e ficamos até o final. Vivenciei todos os importantes momentos e sofria quando meu marido era preso e eu não recebia notícias”, relembrou Ionne, que disse estar emocionada há muitos dias com a homenagem. “Tenho tremido e chorado muito, pois gostaria de dividir este momento com o Danilo”, garantiu ela. O filho da poetisa e autora do Hino da Legalidade, Lara de Lemos, e do consultor-geral do Estado, Ajadil de Lemos, ambos falecidos, Elói Flores, também esteve no Palácio Farroupilha. “É enorme meu contentamento em poder representá-los neste encontro maravilhoso para o Rio Grande do Sul, que reverencia uma memória que mudou o Brasil, que criou uma convicção de que a Constituição, como carta magna, deve ser respeitada sempre pela nação”, ponderou. Ele também salientou a relevância de Ajadil e Lara para o Movimento da Legalidade. “O Ajadil era um homem com grande capacidade de articulação e desenvolvia um papel importante ao lado do Brizola. Já a Lara ajudou a criação do hino, para motivar o canto da rua e encantar a população. Foram duas pessoas que marcam a história do Rio Grande”, considerou Flores. Momentos inesquecíveisPara o secretário particular de Leonel Brizola e ex-deputado Hélio Fontoura, o principal aspecto observado durante o Movimento da Legalidade foi a mobilização popular. “Todos os momentos são inesquecíveis. Passei todos os dias dentro do Palácio Piratini, mas uma das coisas que mais me impressionou foi a quantidade de pessoas concentradas na praça, mesmo após as ameaças de bombardeio à sede do governo”, disse o agraciado, que avaliou as comemorações organizadas pela Assembleia como positivas. “É muito bom para mostrar para as novas gerações este grande episódio capitaneado pelo governador, em que todo o povo se uniu.” (AL) | |
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