Durante sua passagem por Buenos Aires, o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva negou-se nesta quarta-feira (17) a falar com os correspondentes
brasileiros na capital federal, mas concedeu uma longa entrevista
exclusiva ao jornal local La Nación. Lula falou sobre temas
espinhosos para o governo de Cristina Kirchner, como da inflação, da
reeleição de mais de dois mandatos consecutivos e da liberdade de
imprensa. O ex-presidente evitou fazer comentários diretos sobre o caso
do mensalão. Porém, disse que não teme a possibilidade de também ser
processado porque já foi julgado pela população, quando Dilma Rousseff
foi eleita.
"Um ex-presidente não pode estar
opinando sobre o que a Suprema Corte está fazendo. Vamos esperar que
termine o processo", disse Lula, ao ser indagado sobre se tem alguma
autocrítica em relação ao caso que condenou ex-ministros e líderes de
seu governo. "Eu já fui julgado. A eleição de Dilma foi um julgamento
extraordinário. Para um presidente com oito anos de mandato, terminar
com 87% de aprovação é um tremendo julgamento. Não me preocupo de jeito
nenhum", afirmou.
Em um momento em que o governo de
Cristina Kirchner trabalha para obter maioria absoluta no Congresso com o
objetivo de reformar a Constituição e garantir a possibilidade de
concorrer a um terceiro mandato consecutivo, Lula opinou que "a
democracia é um exercício de alternância de poder, não só de pessoas,
mas de setores da sociedade". Com base nessa crença, segundo explicou,
proibiu seu partido de apresentar qualquer tipo de emenda constitucional
propondo sua segunda reeleição, mesmo tendo 87% de aprovação popular.
Ao comentar sobre Hugo Chávez, que recentemente conquistou seu quarto
mandato presidencial na Venezuela, Lula elogiou o líder e defendeu sua
reeleição, mas opinou que o venezuelano "deve começar a preparar sua
sucessão".
Perguntado sobre se voltaria a ser presidente do
Brasil, Lula afirmou que "isso não se discute no Brasil porque creio
que é um direito da presidente (Dilma) ser candidata à reeleição". O
ex-presidente afirmou que "um político nunca pode descartar" uma
candidatura. "O problema é que, cada vez que fazem essa pergunta, se eu
digo que não descarto, a imprensa diz: 'Lula admite que vai ser
candidato'. Se eu digo o contrário, dizem: 'Lula nunca mais vai ser
presidente'. Eu sou um político e creio que já cumpri minha parte",
ponderou o ex-presidente.
Inflação
O
ex-presidente também opinou que "a inflação é uma desgraça para qualquer
país e, principalmente para os trabalhadores". Por isso, continuou,
"quando assumi a presidência e a inflação estava em 12%, trabalhamos
forte, estabelecendo uma meta de 4,5% e cumprimos essa meta e se está
cumprindo agora. E, isso é um benefício salarial extraordinário para os
trabalhadores". Na Argentina, a inflação oficial aponta um índice de
10%, enquanto todos os institutos privados e consultorias afirmam que a
alta dos preços gira em torno de 25%.
O ex-presidente
brasileiro comentou ainda sobre a liberdade de imprensa, outro assunto
polêmico na Argentina em função dos controles exercidos pelo governo de
Cristina Kirchner aos meios de comunicação mediante a pauta publicitária
oficial e da Lei de Mídia, desenhada especialmente para enfraquecer o
grupo Clarín, que edita o jornal homônimo. "Aprendi a não andar
reclamando e dizer que a imprensa é culpada de tudo", disse Lula. (Agestado)
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