O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apelou diretamente
nesta quinta-feira ao povo israelense para que se colocasse no lugar dos
palestinos sem Estado e reconhecesse que a atividade de assentamento
judeu em território ocupado prejudica as perspectivas de paz.
Em um discurso em Jerusalém para estudantes da
universidade israelense, Obama fez seu apelo ao mesmo tempo em que
reconhecia os temores de segurança do Estado judeu em uma região
desestabilizada pelo impasse nuclear do Ocidente com o Irã e pela guerra
na Síria.
Mas ele pediu à geração mais jovem de Israel que
exigisse que seus políticos assumissem riscos pela paz, em um discurso
frequentemente interrompido por aplausos, incluindo uma ovação em pé ao
presidente durante uma breve interrupção de um desordeiro.
"Vocês devem criar a mudança que querem ver", disse ele a sua plateia jovem.
Obama, em sua primeira visita oficial a Israel e à
Cisjordânia ocupada, disse que apenas a paz poderia trazer a verdadeira
segurança, mas não ofereceu novas ideias sobre como reviver as
negociações de paz entre israelenses e palestinos, paralisadas desde
2010.
"Dada a demografia a oeste do Rio Jordão, a única
maneira de Israel persistir e prosperar como um Estado democrático e
judeu é através da realização de uma Palestina independente e viável",
disse.
Era uma advertência clara de que o controle continuado
de Israel sobre a Cisjordânia, território ocupado junto com a Faixa de
Gaza e Jerusalém Oriental na guerra de 1967, iria acabar levando a uma
maioria árabe em terra controlada pelo Estado judeu.
"Os israelenses devem reconhecer que a continuada
atividade de assentamento é contraproducente à causa da paz, e que uma
Palestina independente deve ser viável, que as fronteiras reais terão
que ser traçadas", disse Obama, sem chegar a pedir um congelamento das
construções.
"Coloquem-se no lugar (dos palestinos). Olhem para o
mundo com os olhos deles", ele disse. "Não é justo que uma criança
palestina não possa crescer em um Estado próprio, e tenha que viver com a
presença de um Exército estrangeiro que controla os movimentos de seus
pais todos os dias".
Obama recebeu uma recepção efusiva em Israel desde sua
chegada na quarta-feira, esperando zerar sua relação problemática com o
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
"A América fará o que deve para evitar um Irã nuclear",
ele disse a sua plateia entusiasmada, reforçando o principal tema de
sua visita a Israel e acrescentando que Washington e seus aliados ainda
achavam que havia tempo para uma solução diplomática.
Em uma breve declaração após o discurso de Obama,
Netanyahu agradeceu o presidente norte-americano por seu "apoio
incondicional ao Estado de Israel" e disse que compartilhava da visão do
presidente de que a paz, garantida a segurança dos israelenses, deveria
ser buscada.
Obama enfrentou a dura tarefa de conquistar israelenses
céticos depois de ter ignorado o país em 2009 quando visitou o Egito e
ofereceu um "novo começo" ao mundo islâmico em um discurso na
Universidade do Cairo.
Depois de quatro anos, estudantes na escola disseram que Obama não cumpriu suas promessas.
"Não vejo nenhuma mudança na política americana com
relação ao Oriente Médio desde o discurso de Obama", disse Mayada
Mohammad Yousef, de 19 anos.
"Isso é porque Obama prometeu a implementação de uma
solução de dois Estados e parar os assentamentos... e não conseguiu nada
disso."
Antes, na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, Obama
expressou sua oposição à construção de assentamentos, mas pressionou o
presidente palestino, Mahmoud Abbas, a abandonar sua exigência de um
congelamento antes que as negociações de paz pudessem ser retomadas.
"Meu argumento é o de que embora ambos os lados tenham
áreas de fortes desacordos, estejam engajados em atividades que o outro
lado pensa ser uma violação da boa fé, precisamos passar sobre essas
coisas para tentar chegar a um acordo", disse Obama.
A principal questão agora, disse Obama, era como
alcançar a soberania para os palestinos e a segurança para os
israelenses.
"Isso não é dizer que assentamentos não são
importantes. É dizer que, se solucionarmos esses problemas, a questão de
assentamento será resolvida", acrescentou Obama.
Cerca de 150 manifestantes palestinos se reuniram em
Ramallah para protestar contra a visita de Obama. Eles foram contidos
por fileiras de policiais, que não os deixaram se aproximar do complexo
de Abbas.
(Reportagem adicional de Noah Browning em Ramallah,
Nidal al-Mughrabi em Gaza, Matt Spetalnick, Allyn Fisher-Ilan e Crispian
Balmer em Jerusalém e Ayman Samir no Cairo)(Reuters)
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