A presidente Dilma Rousseff não cortará nenhum dos 39 ministérios nem
pretende mexer no primeiro escalão agora. Em conversa de três horas com o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quarta-feira, 24, Dilma
mostrou preocupação com a queda de popularidade do governo, observada
após os protestos de junho, mas disse que não vai ceder, nesse momento, a
pressões por mudanças na equipe.
A
portas fechadas houve muita reclamação sobre o comportamento do aliado
PMDB e também do PT. Não foi só: Dilma pediu ajuda a Lula para
"enquadrar" o PT, que, no seu diagnóstico, não está colaborando como
deveria para defender o governo e o plebiscito da reforma política. Para
a presidente, divisões na seara petista e o coro do "Volta Lula"
prejudicam a governabilidade.
Embora a última pesquisa Ibope, feita por encomenda da Confederação
Nacional da Indústria (CNI), tenha sido divulgada nesta quinta, 25,
Dilma e Lula já sabiam dos números quando se reuniram, em Salvador, para
analisar o cenário político. Apreensiva, a presidente chegou a
perguntar a auxiliares qual seria a repercussão na mídia da má avaliação
do governo, em meio à visita do papa Francisco ao Brasil.
O levantamento do Ibope-CNI mostra que o porcentual dos que
consideram o governo Dilma "ótimo" ou bom" caiu de 55% para 31% em um
período de um mês, após as manifestações de rua. Além disso, a avaliação
pessoal da presidente despencou de 71% para 45% e metade dos
entrevistados não confia nela.
Segundo a reportagem apurou, Dilma e Lula expressaram contrariedade
não só com o racha no PT, mas também com a atitude do presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que pregou o corte de
ministérios como solução para a crise política. A avaliação reservada é a
de que o PMDB quer "surfar" na onda dos protestos.
A proposta de Alves prevê o corte de 14 dos 39 ministérios. Sem
mencionar o número de pastas que deveriam ser extintas e ressalvando que
a decisão é de Dilma, o vice-presidente Michel Temer considerou
"razoável" a ideia de diminuir o tamanho da Esplanada.
Menos de uma semana depois, porém, o senador Ricardo Ferraço
(PMDB-ES) afirmou que seu partido deveria entregar os cinco ministérios
que ocupa (Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Turismo e
Secretaria da Aviação Civil) para dar o exemplo. "Há uma grande
desfaçatez de líderes do PMDB, que exigem o enxugamento da máquina, mas
não abrem mão de seus postos", criticou Ferraço.
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), disse que o corte linear
de cargos não é solução. "Não é reduzindo ministério que se dá
eficiência à máquina pública. É preciso saber para que cada ministério
foi construído e isso todos nós sabemos. Quando criamos a Secretaria
para Mulheres, por exemplo, é porque sabíamos que era preciso ter foco
no que foi abandonado ao longo da história", argumentou ele.
Wagner e o presidente do PT, Rui Falcão, participaram de uma parte da
reunião entre Lula e Dilma. O ex-presidente contou como foi sua
conversa, no fim de junho, com o governador de Pernambuco, Eduardo
Campos (PSB), possível adversário de Dilma na disputa de 2014. Na
avaliação de Lula, Campos só não lançou ainda a candidatura ao Planalto
para não ficar com uma "flecha" sobre sua cabeça, sendo alvo de ataques.
Apesar das queixas recebidas nos últimos dias sobre problemas na
articulação política e na comunicação do governo, Dilma avisou que não
fará mudanças sob pressão. Na prática, ela não quer mostrar fragilidade
num momento em que a própria base aliada está conflagrada. Lula apoiou a
decisão da presidente.
Em conversas reservadas, porém, petistas próximos a Lula dizem que
Dilma "passou do prazo" para promover uma reforma ministerial. Agora,
ela planeja trocas na equipe no fim do ano ou até mesmo no início de
2014, pouco antes do prazo estipulado pela Lei Eleitoral para quem for
candidato deixar o Executivo. (Colaborou Rafael Moraes Moura). AE
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