Entidades religiosas foram surpreendidas com a decisão do governo de aprovar sem vetos o projeto
que obriga hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) a prestar
atendimento emergencial e multidisciplinar às vítimas de violência
sexual. Desde que o projeto foi aprovado no Congresso, no início de
julho, dirigentes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
da Federação Espírita Brasileira (FEB) e do Fórum Evangélico Nacional de
Ação Social e Política (Fenasp), se reuniram, pelo menos duas vezes,
com o governo para alertar sobre pontos que consideravam críticos na
proposta.
Para Antonio Cesar Perri de Carvalho, presidente da Federação
Espírita Brasileira (FEB), a decisão da aprovação da lei sem restrições
foi “lamentável”. As representações religiosas queriam o veto de alguns itens do texto, como o que trata da “profilaxia da gravidez”.
Apesar de não mudar as regras, o Planalto anunciou mudanças em
algumas expressões. O termo “profilaxia da gravidez”, por exemplo, será
substituído por "medicação com eficiência precoce para evitar a gravidez
decorrente de estupro”, para desestimular a prática de abortos na rede
pública. O governo também vai ampliar o conceito de violência sexual,
incluindo todas as formas de estupro, independente de situações e leis
específicas.
O presidente da FEB disse que as alterações amenizam as
preocupações, mas não solucionam o problema. Para ele, a aprovação do
texto “gera ambiente de preocupação com relação à efetiva defesa da
vida, desde a concepção”, disse Perri. “O grupo reconhece a importância
da lei para a proteção à mulher que tenha sofrido violência, porém
entende que, certamente, alguns termos indevidos que foram utilizados e
sua generalidade, podem favorecer a prática do aborto”, reforçou Perri
Carvalho.
Pela nova lei, as equipes médicas que atenderem essas vítimas têm
que realizar diagnóstico, tratamento de lesões, exames para detectar
doenças sexualmente transmissíveis e gravidez. As regras também preveem o
atendimento psicológico dessas pessoas.
O presidente do Fenasp do Distrito Federal, Rodrigo Delmasso disse
que a entidade não é contra o projeto. “O projeto é bom porque você
precisa dar prioridade a vítimas de violência sexual no sistema de saúde
e garantir um tratamento diferenciado”, completou.
Para o pastor da Igreja Evangélica Sara Nossa Terra, o ideal seria
criar mecanismos que assegurem o direito à vida. “Não sei tecnicamente
quando a concepção de uma vida ocorre. A gente precisa ouvir mais
médicos”, disse ao se referir ao ponto da lei que prevê distribuição de
contraceptivos de emergência – a chamada pílula do dia seguinte. “Se a
decisão for como medida anticoncepcional, a igreja evangélica não é
contrária, mas se caracterizar como interrupção de gravidez isso é
aborto e somos contra”, explicou.
A CNBB ainda não se pronunciou. Os dirigentes da conferência estão
reunidos desde as 10h da manhã para definir como a entidade vai se
posicionar sobre a aprovação da lei. ABr
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