Buenos Aires – Quarenta anos depois, a morte do
poeta e Prêmio Nobel de Literatura chileno, Pablo Neruda, continua sendo
um mistério. Conhecido por suas poesias de amor e sua militância no
Partido Comunista, Neruda morreu no dia 23 de setembro de 1973 – duas
semanas depois do golpe militar que derrubou o governo socialista de
Salvador Allende.
O poeta estava internado na Clínica Santa Maria, em Santiago, a
capital chilena, com câncer de próstata, quando o general Augusto
Pinochet bombardeou o Palácio La Moneda, levando Allende a cometer
suicídio e inaugurando 17 anos de ditadura. Em março passado, seu corpo
foi exumado porque existe a suspeita de que a doença não matou Neruda –
ele teria sido envenenado por ordem de Pinochet.
A denúncia, que levou à exumação do corpo do poeta
e amigo de Allende, foi feita pelo motorista e secretário de Neruda,
Manuel Araya. Segundo ele, Neruda foi envenenado no hospital, um dia
antes de partir para o exílio no México. Ele contou que – apesar de ter
sido diagnosticado com câncer de próstata – o poeta não estava à beira
da morte. Como prova, disse que Neruda pesava 124 quilos na época e
escreveu, até o último momento, seu livro de memórias Confesso Que Vivi.
“Neruda ainda tem muito a oferecer e continuamos a
apreender com ele”, disse nesse domingo (22) um dos sobrinhos do poeta,
em cerimônia para marcar os 40 anos da morte do Premio Nobel de
Literatura de 1971. Os resultados das investigações sobre as causas da
morte – que estão sendo feitas nos Estados Unidos e na Espanha – devem ficar prontos no próximo mês.
Mas este não é o único caso que está sendo
investigado. O ex-presidente Eduardo Frei Montalva (1964-1970) teria
morrido em 1982 de uma infecção hospitalar na mesma Clínica Santa Maria
onde Neruda foi internado. Mas há indicações de que ele teria sido
envenenado.
“Os primeiros indícios de que a morte de meu pai
era suspeita surgiram em 2000, quando eu era presidente e pude reformar o
sistema judicial e reabrir vários processos, fechados na época da
ditadura”, disse o ex-presidente
Eduardo Frei Tagle (1994-2000), filho do ex-presidente Eduardo Frei
Montalva. “Começamos a desvendar um capítulo desconhecido, até pouco
tempo, da ditadura de Pinochet. Além das execuções e torturas, o regime
militar usava produtos químicos para liquidar a oposição”. ABr
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