A espionagem internacional que ameaça a soberania de alguns países
deve ser um dos temas mais relevantes dos debates na reunião da
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na opinião do
ex-ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. O diplomata está
sendo sabatinado na Comissão de Relações Exteriores do Senado, que
avalia a indicação de seu nome para ocupar o cargo de representante
permanente do Brasil na ONU, indicado pela presidente Dilma Rousseff.
“Novamente temos a tríade de preservar as conquistas duramente
alcançadas [no cenário internacional], como a proteção dos direitos
humanos e dispositivos sobre pactos de direitos civis, apontar
assimetrias e denunciar abusos, mas também mostrar caminhos”, disse.
Patriota elogiou o discurso da presidenta Dilma Rousseff na abertura do
encontro internacional e disse que Dilma apontou uma das saídas para o
problema. “Todos os órgãos [da ONU] vão ser mobilizados para tratar o
assunto de maneira multisetorial. A via cibernética não pode ser usada
para efeitos que afetem a soberania”, alertou.
O diplomata deve dedicar grande parte de sua atuação, na ONU, a
discussões polêmicas e de difícil consenso como a situação na Síria que
foi agravada desde a suspeita de que foram usadas armas químicas contra
civis. O tema da espionagem e da manutenção de conquistas como a
garantia da soberania dos países e proteção dos direitos humanos também
estão no topo das prioridades do ex-chanceler.
Durante sabatina no Senado o ex-chanceler Antonio Patriota destacou o
papel de liderança do Brasil no cenário mundial em temas como o
desenvolvimento sustentável e proteção dos direitos humanos. Patriota
avaliou que “assim como a ONU é fundamental para Brasil consolidar
conquistas e propor caminhos, o Brasil é cada vez mais fundamental para
as Nações Unidas”.
O diplomata disse que a atuação do Brasil nas Nações Unidas deve
ocorrer em torno de três eixos principais. De acordo com Patriota, o
primeiro foco das atenções do governo brasileiro na instância
internacional deve ser a preservação das conquistas do ultimo século
como igualdade soberana dos estados e o conceito de responsabilidades
comuns e diferenciadas na áreas de meio ambiente. Patriota alertou que
esses conceitos estão constantemente ameaçados por ações isoladas de
alguns países.
“O segundo eixo seria o da denúncia das insuficiências, das
assimetrias, dos abusos, das violações e das lacunas existentes no
ordenamento internacional. A partir dai podemos identificar uma agenda
propositiva que seria o terceiro eixo. E o Brasil tem mostrado
capacidade de propor agenda propositiva”, avaliou.
Apesar de destacar o empenho brasileiro para garantir a proteção de
direitos humanos em questões internacionais e protagonizar a inclusão do
conceito de desenvolvimento sustentável na agenda dos países, Patriota
disse que o Brasil ainda tem uma representação pequena nas Nações
Unidas.
Patriota lembrou que hoje alguns brasileiros ocupam cargos
significativos na organização e citou o brasileiro Bráulio Dias, na
liderança da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, Roberto
Azevêdo, que assumiu como diretor-geral da Organização Mundial do
Comércio (OMC) e José Graziano da Silva que ocupa a direção da
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
“Mas há menos brasileiros que argentinos e mexicanos no secretariado
das Nações Unidas. Formamos 0,40 % do secretariado. Estamos tentando
motivar os jovens e brasileiros de todas as regiões para que esse
déficit de participação seja corrigido”, disse.
Antonio Patriota ainda explicou que a organização tem “muito
trabalho” nos próximos anos e lembrou que, em 2015, a ONU completa sete
décadas de existência. Para o diplomata a data será um marco importante
para que os países membros tentem chegar a um consenso sobre a reforma
do conselho de segurança e sobre posicionamentos diante de conflitos.
“Existe grupo que trabalha há 20 anos nesse assunto sem conseguir
romper os impasses. É um reconhecimento que é um tema que não pode sair
da agenda mundial que se torna premente na medida que vemos essas
configurações no mundo”, disse, ao se referir a situação na Síria e das
ameaças de intervenção de países liderados pelos Estados Unidos em
decorrência da suspeita de uso de armas químicas contra civis.
Antonio Patriota, 59 anos, foi ministro das Relações Exteriores
por dois anos e oito meses. Com 34 anos de carreira diplomática,
Patriota serviu na missão permanente do Brasil em organismos
internacionais em Genebra, na Suíça (1999-2003), foi representante
alterno na Organização Mundial do Comércio (OMC) e também integrou a
delegação brasileira no Conselho de Segurança da ONU (1994-1999). ABr
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