O
presidente da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, vereador
Gilberto Natalini (PV-SP), disse ontem que vai convocar o jornalista
Raul Bastos para prestar esclarecimentos sobre a morte do ex-presidente
Juscelino Kubitschek. Segundo reportagem publicada em 1996 na revista
Interview, Bastos, que à época da morte era chefe de produção do jornal O
Estado de S. Paulo, teria informações de que JK, opositor da ditadura
militar à época, fora vítima de um complô. O autor da reportagem da
Interview, Valério Meinel, morto no mesmo ano da publicação, trabalhou
com Bastos na sucursal do Estadão no Rio.
Kubitschek morreu em agosto 1976 após um acidente de carro. O
ex-presidente viajava de São Paulo para o Rio num Opala dirigido pelo
seu motorista, Geraldo Ribeiro, que também morreu, depois de perder o
controle e se chocar com uma carreta.
No texto publicado em 1996, Meinel conta que, no dia da morte de JK,
recebeu ordens do então chefe de produção do jornal para que esperasse a
chegada de Wanderley Midei, subchefe de produção, que viria de SP.
Midei, diz a reportagem, “revelou que, na cobertura do acidente,
repórteres do jornal, mandados de São Paulo, obtiveram de guardas da
Polícia Rodoviária a informação de que o Opala de Juscelino se
desgovernara porque o motorista Geraldo levara um tiro na cabeça”.
A reportagem localizou Bastos, mas ele não respondeu aos telefonemas e e-mails. Midei não foi localizado.
O tiro, de acordo com essa versão, teria vindo de uma Caravan que
também trafegava pela Dutra, na altura de Resende, no Rio, segundo
depoimentos colhidos de passageiros de um ônibus que estava atrás do
Opala onde viajava o ex-presidente.
O ônibus 1.348 da Viação Cometa era dirigido por Josias Nunes de
Oliveira, de 69 anos. Oliveira foi ouvido ontem pela comissão na Câmara
Municipal paulistana. Durante o regime militar, o motorista de ônibus
foi acusado de ter sido o responsável pelo acidente de JK. Ele nega ter
visto a Caravan.
Emocionado durante o depoimento ontem, que durou cerca de duas horas,
Oliveira negou ter sido responsável pela morte do ex-presidente e,
conforme antecipou o Estado, disse que dois homens lhe ofereceram
dinheiro para confessar que tinha culpa no acidente.
“Cinco ou seis dias depois apareceram em casa dois homens cabeludos.
Eles me ofereceram uma mala cheia de dinheiro para eu dizer que tinha
matado o presidente”, contou Oliveira. Ele disse que vai pedir
indenização por ter sido considerado por tanto tempo responsável pelo
acidente que matou JK.
Natalini afirmou que vai pedir nova perícia do corpo de Gilberto, o
motorista de JK. Em 1996 foi feita exumação do corpo e encontrado um
fragmento de metal identificado como prego do caixão. Membros da
Comissão da Verdade levantam a suspeita de se tratar de uma bala. Na
perícia, constatou-se ainda buraco no crânio de Gilberto, provocado por
“esfarelamento ósseo”. AE
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