Ex-gerente do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o
agora condenado por corrupção José Dirceu poderá exercer seus talentos
de "capitão do time" para administrar os problemas de seu novo emprego
no hotel Saint Peter, em Brasília. Muito diferente da sala no 4ª andar
do Palácio do Planalto, com vista livre para a Praça dos Três Poderes, o
novo endereço do ex-ministro será um espaço no subsolo do hotel, em um
corredor mal iluminado próximo à garagem. Na mesa do futuro gerente
administrativo, problemas não faltarão. Ainda assim, nada se compara a
uma cela do sistema penitenciário de Brasília, de onde poderá sair todos
os dias por nove horas.
Se
José Dirceu realmente se envolver no dia a dia do Saint Peter, terá que
lidar, por exemplo, com as constantes reclamações dos hóspedes sobre a
lentidão no serviço de balcão e a confusão no café da manhã, com
constantes problemas de manutenção e com uma reforma que, apesar de já
durar dois anos, não parece ter melhorado muito a qualidade do hotel.
Nas diárias, o Saint Peter se compara a outros hotéis de luxo de
Brasília. Um quarto em um dia de semana custa em torno de R$ 300 - menos
em sites de descontos, bem mais na tarifa de balcão. No entanto, não
oferece alguns serviços básicos. Garagem, por exemplo.
A
reportagem do Estado se hospedou no hotel, um prédio de 30 anos. No
corredor escuro de um andar já reformado, o carpete cheio de manchas
parece ter muito mais do que dois anos. O quarto usado pelo Estado ainda
tinha as etiquetas do fabricante dentro do armário, mas a tranca da
porta da sacada estava quebrada, quinas do piso de granito estavam
lascadas e as lâmpadas eletrônicas enfiadas no lugar de spots dão um
certo ar de desleixo.
No saguão do hotel a reforma começa em
dezembro, de acordo com os funcionários. Apesar de razoavelmente bem
cuidado, espelhos de tomadas e do botão de elevador faltando mostram a
dificuldade com a manutenção do hotel. Ainda assim, não faltam hóspedes
ao hotel. Como a maioria dos estabelecimentos em Brasília, consegue ter
uma lotação acima de 80% nos dias de semana, na época em que o Congresso
está em sessão. Também se dá ao luxo de manter no cardápio um misto
quente por R$ 18, uma fatia de pudim pelo menos preço, um frango
grelhado por R$ 39,90 e um salmão grelhado por R$ 49,90 - preços que
quase tornam factível o salário de R$ 20 mil anotados na carteira de
trabalho de José Dirceu. AE
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