Os presidentes dos países do Mercosul viajarão hoje (28) a Caracas para a Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, que acontecerá amanhã (29) durante toda a manhã. A última Cúpula do Mercosul aconteceu em julho de 2013 e a seguinte seria em dezembro do mesmo ano, mas alguns acontecimentos - como a crise na Venezuela e incompatibilidades nas agendas dos líderes do bloco - provocaram quatro adiamentos. Como o Paraguai ficou suspenso de junho de 2012 a agosto de 2013, devido à destituição do então presidente Fernando Lugo, e a Venezuela ingressou em julho do ano passado, esta será a primeira reunião dos cinco presidentes na Cúpula do Mercosul.
As presidentas do Brasil, Dilma Rousseff, e da Argentina, Cristina Kirchner, e os presidentes do Uruguai, José Mujica, do Paraguai, Horacio Cartes, e da Venezuela, Nicolás Maduro, anfitrião do encontro, discutirão temas que ficaram pendentes desde a última reuião, em Montevidéu, no Uruguai, como a elaboração da proposta comum que precisa ser apresentada à União Europeia (UE) para avançar o acordo de livre comércio entre os dois blocos. Alguns temas mais urgentes, no entanto, prometem tomar a maior parte das discussões.
Um dos principais, que tem ocupado os noticiários internacionais, é o litígio do governo argentino com os chamados fundos abutres, que eleva o risco do país decretar a segunda moratória da dívida externa em 13 anos, o que pioraria ainda mais a crise econômica no país e teria impactos negativos, também, nos países do bloco, inclusive nas negociações para o acordo com a UE. O governo da Argentina enviou hoje, a Nova York, uma equipe econômica para continuar as negociações com o mediador designado pela Justiça norte-americana, que deu sentença favorável aos fundos abutres.
O litígio entre as duas partes gerou um impasse que impediu a Argentina de pagar um vencimento de US$ 900 milhões aos credores que aceitaram, ao contrário dos fundos abutres, participar de dois planos de reestruturação da dívida após a moratória de 2001. A sentença da Justiça dos Estados Unidos obriga a Argentina a pagar, antes, US$ 1,3 bilhão devidos a esses credores que ganharam o processo em Nova York. Se a situação não for resolvida até quarta-feira, um dia depois da Cúpula do Mercosul, corre o risco de ter de decretar nova moratória.
Além disso, os chefes de Estado também discutirão o conflito na Faixa de Gaza, que já matou mais de mil pessoas, a maioria civis. O Brasil condenou, por meio da presidenta Dilma e de comunicados do Itamaraty, o “uso desproporcional da força” por parte de Israel, assim como o lançamento de foguetes ao território israelense pelo Hamas. Na semana passada, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, declarou que seu país ficou “desapontado” e se sentiu “traído” pelo Brasil, ao qual chamou de “anão diplomático”, após a publicação de mais uma nota do governo brasileiro e da convocação, para consultas, do embaixador brasileiro em Israel, Henrique Sardinha.
Durante a cúpula, a Venezuela passará a presidência pró-tempore à Argentina, durante seis meses. Também participarão do encontro o presidente da Bolívia, Evo Morales, cujo país está associado e em processo de incorporação ao bloco. Na semana passada, o presidente Maduro disse que também estariam presentes os chefes de Estado do Chile, Michelle Bachelet; de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén; e da Nicarágua, Daniel Ortega.
Hoje, um dia antes da cúpula, os chanceleres do Mercosul participam da 46ª Reunião do Conselho do Mercado Comum do Mercosul (CMC), que serve de preparação para o encontro dos chefes de Estado. As atividades dos presidentes começarão às 8h desta terça-feira com uma foto oficial na Praça Simón Bolívar, em frente à Casa Amarela, sede do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, onde acontecerá a cúpula em seguida. Ao fim da reunião, os presidentes almoçarão no local e, depois, regressarão aos seus países.
De acordo com o Itamaraty, os cinco países do Mercosul representam 72% do território e 70% da população da América do Sul, além de deter 80% do PIB do continente e 58% dos investimentos estrangeiros diretos e 65% do comércio exterior. ABr
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