Os leitores do jornal O Municipio não terão mais acesso às colunas de Leonardo Beraldo. O articulista deixou o veículo após receber ameaças que atingiram, inclusive, sua família. Ao se despedir, o profissional lamentou a situação e preferiu não revelar o nome dos agressores. O impresso em que ele trabalhava se solidarizou e ressaltou que condena veemente o caso de violência.
Desde sempre, Beraldo abordava em seu espaço temas relacionados à cidade de São João da Boa Vista, no interior de São Paulo. "O Municipio se solidariza com o articulista e ressalta que condena qualquer forma de intimidação e censura, atitudes que ferem a liberdade de expressão e a democracia", escreveu a publicação.
O jornalista explicou, em texto de despedida, que as pressões contrárias sempre existiram, mas neste momento estão insuportáveis e atingem a família e pessoas próximas. "Após 132 edições deste periódico, chego à derradeira. Foi com um imenso prazer que realizei este trabalho, sempre prezando pela qualidade e progresso de nossa cidade (...) Agradeço toda equipe deste jornal, especialmente a direção, que sempre me proporcionou liberdade irrestrita".
Beraldo aproveitou para alertar os cidadãos. "Estas práticas nefastas continuarão até que sejam extirpados de nosso convívio os que realizam tais atos odiosos. Não é preciso agora nominá-los. O tempo diz tudo a todos".
Veja, abaixo, a íntegra do texto de despedida:

EU ACUSO!
Caros leitores, após 132 edições deste periódico, chego à derradeira. Foi com um imenso prazer que realizei este trabalho, sempre prezando pela qualidade e progresso de nossa cidade. Para isto, foi preciso por vezes questionar o status quo. As pressões contrárias sempre existiram, mas neste momento elas se mostram insuportáveis.
Caros leitores, após 132 edições deste periódico, chego à derradeira. Foi com um imenso prazer que realizei este trabalho, sempre prezando pela qualidade e progresso de nossa cidade. Para isto, foi preciso por vezes questionar o status quo. As pressões contrárias sempre existiram, mas neste momento elas se mostram insuportáveis.
Atingem a minha família e pessoas próximas. Não posso tolerar tais atos. Chantagens, mentiras, intimidações e ameaças. Este é o expediente dos covardes. Daqueles que desejam interditar o contraditório, calar a crítica, cassar a liberdade de pensamento. Faço um alerta a todos os cidadãos: estas práticas nefastas continuarão até que sejam extirpados de nosso convívio os que realizam tais atos odiosos. Não é preciso agora nominá-los. O tempo diz tudo a todos.
Agradeço toda equipe deste jornal, especialmente a direção, que sempre me proporcionou liberdade irrestrita. E olhando em retrospecto aquilo que propus, ouso parafrasear Darcy Ribeiro.
Procurei fortalecer a cultura local, por meio de um Conselho verdadeiramente democrático. Fui ignorado. Procurei melhorar a qualidade urbana de nossa cidade, propondo soluções práticas para problemas existentes. Falhei. Procurei dar mais transparência aos atos públicos. Fracassei. Tentei proteger o pouco que resta de nosso patrimônio histórico e arquitetônico, fruto dos anos de bonança que nossa cidade já viveu. Fui atropelado. Defendi ativamente as árvores e rios, fragmentos naturais que foram sendo arrasados ano a ano por políticas equivocadas. Fracassei. Denunciei as condições precárias de nossa Biblioteca Municipal, de nossas praças, de nosso bosque, do Arquivo Público, pedindo mais equipamentos culturais e de lazer para a população. Fui ignorado. Denunciei práticas ilegais e negociatas. Fui ameaçado. Procurei inspirar, mostrando o que era possível e o que era feito em outros lugares, para que pudéssemos viver em uma cidade melhor. Falhei.
Mas meus fracassos são minhas vitórias. Detestaria estar no lugar de quem me derrotou.
Fonte: Comunique-se
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