O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) afirmou hoje (27) que nunca houve interferência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-ministro José Dirceu em projetos financiados pela instituição. “Lula jamais solicitou ou interferiu no BNDES a respeito de qualquer projeto específico. Mesmo como presidente, não me recordo de ele ter me perguntado sobre projetos específicos. Nas poucas conversas que tivemos, jamais houve intervenção ou questões relativas a projetos do BNDES”, disse em depoimento na comissão parlamentar de inquérito (CPI) criada para apurar denúncias sobre empréstimos feitos pelo BNDES a empresas e empreiteiras, nos anos de 2003 a 2015.
Luciano Coutinho afirmou que a prioridade do banco é a infraestrutura do país e que os investimentos em projetos de exportação de bens e serviços representam uma "proporção pequena" dos recursos aplicados. “Nos últimos quatro anos, o BNDES direcionou R$ 245 bilhões para infraestrutura no Brasil e R$ 14 bilhões para projetos de exportação”, informou.
O presidente do BNDES acrescentou que as operações do banco não estão restritas a “uma meia dúzia de empresas favoritas”. “Das mil maiores empresas brasileiras, [o BNDES] apoiou 804. Somos abertos a receber toda e qualquer empresa que bate na nossa porta e examinar seus projetos.”
No depoimento, o presidente do BNDES também disse que a instituição adotou procedimentos de maior cautela, diante dos resultados da Operação Lava Jato, que investiga irregularidades na Petrobras. Segundo ele, as operações de financiamento contratadas por essas empresas estão sendo tratadas caso a caso.
“Dentro da lei, estamos reexaminando as condições de rating e capacidade econômica e financeira das empresas”, explicou. Segundo ele, as empresas citadas só estarão impedidas de contratar empréstimos quando forem condenadas pela Justiça. “Não podemos julgar [as empresas] inidôneas antes que a Justiça o faça. Porém, por dever de cautela, temos que rever as condições cadastrais, econômica e financeira. Em alguns casos, essas condições impedem que possamos operar. Em outros casos, é preciso separar de maneira clara, qual o CNPJ [Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica] específico que esteve envolvido em prática de corrupção, separando dos que não estão envolvidos”, afirmou.
Luciano Coutinho evitou tratar de cada caso e pediu “por delicadeza” que isso fosse feito em outra sessão reservada. Perguntado sobre o patrocínio de eventos com dinheiro do banco, como o que ocorreu no Congresso do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no ano passado, Coutinho explicou que o BNDES apoia “amplamente” eventos, congressos e seminários de diversos segmentos. “Nós não fazemos um controle ideológico desses apoios. São republicanamente distribuídos para a sociedade contemplando todos os segmentos, principalmente os empresariais. Não há motivação política e ideológica nesses patrocínios.”
Na abertura da reunião da CPI, Coutinho explicou o funcionamento do banco e quais os procedimentos são seguidos antes da liberação de um contrato de financiamento. Ele afirmou que o BNDES é uma instituição “sólida e prudente” e tem carteira de operações de alta qualidade. “Muito superior à média das instituições financeiras nacionais, com 99,7% da carteira do grupo AA-C [rating de alta qualidade]. Isso se reflete em baixíssima inadimplência [taxa de 0,05%].”
Sobre as operações de comércio exterior financiadas pelo BNDES, Coutinho explicou que as exigências são ainda maiores para assegurar garantias à instituição. Ele ainda acrescentou que o banco não faz repasses para o exterior. “Não há transferência de moeda estrangeira para o exterior. Quando se apoia obra no exterior, não existe transferência de dinheiro. O que se passa é, para a produção de bens e serviços que serão exportados, a produção é auditada passo a passo e, na medida em que vai se concretizando, o BNDES disponibiliza [recursos] em reais, no Brasil, para o exportador. Essa exportação vai gerar obrigação para o importador de pagamento a longo prazo em moeda forte”, explicou, ao reafirmar que não há financiamento de gastos locais no exterior.
Coutinho reforçou ainda que o BNDES tem compromisso “profundo” com a transparência e assegurou que, hoje, todos os dados de operações do banco realizadas entre 2002 e 2015 estão disponíveis e qualquer pessoa pode ter acesso a informações sobre beneficiários, taxas de juros, prazos e locais. O mesmo ocorre para as operações de financiamento à exportação e a obras no exterior desde 2002. Os dados incluem o desembolso, em 2012, de recursos para financiamento à exportação de bens e serviços de empresas brasileiras para Cuba e Angola. “Essas operações já foram desclassificadas como sigilosas e estão todas públicas”, disse. "Não há dinheiro a fundo perdido para Cuba”, acrescentou ao citar a operação de financiamento do Porto de Mariel, em Cuba.ABr
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