O último ato que arrematou a cassação do ex-senador Delcídio Amaral veio justamente de Romero Jucá, o ministro do Planejamento que deve oficializar a própria demissão ainda nesta terça, 24. Acusado de tentar obstruir as investigações da Lava Jato, Delcídio teve sua cassação acelerada após uma cartada de Jucá, que apresentou um requerimento de urgência para a realização da votação. Agora, é o ministro quem foi flagrado em uma gravação tentando travar as mesmas investigações.
"Depois da gravação do Mercadante, Lula e Dilma e essa agora do Jucá, com todo respeito, a minha conversa é uma Disney, uma grande brincadeira", afirmou Delcídio, em referência aos recentes grampos que tornaram públicas supostas tentativas de impedir o funcionamento da Justiça.
O ministro Mercadante foi flagrado pelo próprio assessor de Delcídio, enquanto supostamente oferecia vantagens para comprar o silêncio do senador. Dilma e Lula foram grampeados em diálogo rápido que sugere que a nomeação do ex-presidente à Casa Civil era uma manobra. Jucá sugere para Sérgio Machado que se troque o governo para "estancar" a Lava Jato. Já Delcídio foi pego tramando um plano de fuga para o ex-diretor da área internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró.
As comparações foram muitas. Em protesto, durante a vinda de Temer e Jucá ao Senado na tarde de segunda, 23, deputados petistas e servidores do Congresso trouxeram placas com os dizeres "Jucá = Delcídio: Prisão e Conselho de Ética Já!".
Para o ex-senador, a ação de Jucá foi muito mais explícita e comprometedora. "Ele fala de tudo, e por muito menos eu fui pro saco. Ele cogita uma mudança de governo para se fazer um pacto contra a Lava Jato. É absurdo!" Delcídio cobrou que seja feito o pedido de cassação de Jucá, que é senador licenciado, mas que seja dado a ele o direito de defesa que, segundo Delcídio, ele próprio não teve.
O ex-líder do governo Dilma no Senado também analisa que o diálogo entre Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado demonstra mais do que uma atuação solo, mas uma ação "institucionalizada".
"O que essas gravações provam é que há uma obstrução de justiça institucionalizada, à nível presidencial e no Legislativo. Uma obstrução de justiça em cima de um pacto que passa pelo afastamento de uma presidente, isso é muito grave!" Para o ex-senador, a gravação de Jucá transmite a ideia de que não havia argumento constitucional para o impeachment de Dilma e que os motivos eram outros.
Ministério
Delcídio não quis se comprometer em dizer se Jucá deveria ou não ser preso, dada a semelhança do caso com o seu. Mas apostou que o senador licenciado não volta mais ao Ministério. "Ele não devia nem ter sido nomeado. Ele não volta mais para o Ministério, não tem condições. Com essa gravação, o Romero se inviabilizou", disse.
O ex-senador relembrou que Jucá já teve outra curta passagem pelo posto de ministro, à frente da Previdência em 2005. Sob pressão de denúncias, ele deixou a pasta em menos de quatro meses. "Essa indicação também foi um equívoco e durou muito pouco. Romero, o Breve", brincou Delcídio.
Impeachment
Na avaliação do ex-líder do governo, a revelação do diálogo de Jucá tem o seu peso, mas não será suficiente para reverter o processo de impeachment em curso no Senado. "A gravação deu munição, é um discurso muito forte para a base parlamentar da Dilma, mas não reverte o impeachment por questões absolutamente práticas", analisa. Para Delcídio, o governo Dilma está inviabilizado politicamente, sem condições gerenciais.AE/Foto: Estadão
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