Alvo de críticas por seu comportamento, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, ganhou uma "segunda chance" do presidente interino Michel Temer. Depois de ter a demissão cogitada, foi mantido no cargo e orientado a ter mais cuidado nos atos e falas.
— Ninguém sai. Questão interna a gente resolve dentro do governo — resumiu o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, responsável pela indicação de Medina Osório.
Jurista gaúcho, o advogado-geral desagradou Temer em suas primeiras semanas na função. Ex-promotor de Justiça e elogiado pela formação acadêmica, estaria "deslumbrado", segundo auxiliares do presidente interino. Assessores relatam que Medina Osório solicitou uma sala exclusiva para despachar do Planalto, sendo que não há esse espaço para a Advocacia-Geral da União (AGU). Em outro episódio, teria pedido para entrar no gabinete de Temer sem ter audiência marcada, provocando um bate-boca desnecessário. Procurado por Zero Hora, Medina Osório não quis se manifestar.
Na semana passada, o novo chefe da AGU teria sido barrado na tentativa de usar um avião da FAB para uma viagem a Curitiba, embarcando graças a um "carteiraço". Ele nega a versão. Em nota, a FAB informou que "o atendimento seguiu todos os procedimentos formais e legais". Outro ato que provocou polêmica foi o questionamento à atuação de José Eduardo Cardozo, quando estava na AGU, na defesa da presidente afastada Dilma Rousseff. Contudo, o pedido recebeu elogios de parlamentares do PMDB, considerando que a manobra ajudou a "desestabilizar" Cardozo.
A reação de Medina Osório à especulação de sua demissão também desagradou. Padilha não gostou da entrevista concedida pelo advogado-geral à Rádio Gaúcha, no sábado, na qual ele disse sofrer "uma série de ataques" no governo. O chefe da Casa Civil o orientou a não se manifestar.
Por trás da instabilidade na AGU está uma disputa pela proximidade com Temer entre o advogado-geral e o subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha. Atribui-se a Rocha o vazamento das críticas internas a Medina Osório, que tem reclamado do aumento da pressão depois de ter ajuizado ações de improbidade contra empreiteiras e executivos investigados na Lava-Jato.
Apadrinhado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de quem é advogado, Rocha tinha interesse na AGU, porém a relação com o presidente afastado da Câmara o impedia de assumir um cargo de visibilidade. Próximo de outros caciques do PMDB, foi convencido de que seria mais útil e ficaria mais próximo de Temer na Casa Civil.
Pelo crivo do subchefe passam os principais projetos e pendências do governo. Foi Rocha, por exemplo, que chancelou o parecer que restringiu o uso de aeronaves da FAB para os deslocamentos de Dilma. A rusga no setor jurídico do governo ainda chegou à paternidade do fracasso na tentativa de afastar Ricardo Melo do comando da EBC. Demitido, Melo voltou por uma liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A equipe de Rocha atribui o revés a Medina Osório. Aliados do gaúcho creditam o tropeço a Rocha.
— É uma briga silenciosa que ocorre em todos os governos, pois o subchefe despacha do Planalto e disputa a preferência do presidente com o advogado-geral — contemporiza um antigo servidor da AGU. (Zero Hora)
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