A explicação para o tamanho ódio a Lula e ao PT parece óbvia, diante do fato que os promotores do MPF paranaense acusam um cidadão apenas baseados em “convicções”
Por Redação – de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador
O ambiente de ódio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao partido que representa, o PT, torna-se cada vez mais irrespirável desde a última quinta-feira, quando procuradores do Ministério Público Federal afirmaram, em espetáculo midiático ilustrado com gravuras de Power Point, que Lula seria o chefe do esquema de corrupção da Operação Lava Jato.
Os ataques ao líder petista, no entanto, parecem exercer efeito contrário junto à opinião pública. Quanto mais acusações, maior o prestígio de Lula junto ao eleitor, conforme a pesquisa do Instituto Datafolha constatou em sua última pesquisa, em Julho deste ano, ratificada esta semana por outro levantamento, desta vez do Instituto Bahia Pesquisa e Estatística (Babesp).
A explicação para o fenômeno parece óbvia, diante do fato que os promotores do MPF paranaense acusam um cidadão apenas baseados em “convicções”. Nesta quinta-feira, o advogado Maurício Rands, professor da Universidade Federal de Pernambuco e autor do livro A Era Lula, lançado em 2010, comentou a atitude dos promotores que atuam ao lado do juiz Sergio Moro, titular da Justiça Federal, naquele Estado.
Segundo Maurício Rands, “no último dia 14, os Procuradores do Ministério Público Federal afirmaram, em espetáculo midiático no Jornal Nacional, que Lula seria o chefe do esquema de corrupção da Lava Jato. E que seria o dono dos famosos sítio e tríplex. Trata-se do maior ataque já desferido contra Lula. Capaz de torna-lo inelegível até 2018. Com estardalhaço, fizeram uma sessão de marketing político”.
“Li a denúncia penal. Notei, como muito muitos, a falta das provas em que se fundamentam. Ou, no caso do sítio, do tríplex e do acervo, vi que avançaram sua interpretação a partir de alguns poucos indícios. Chegaram a classificar Lula de ‘comandante máximo da organização criminosa”, completa.
Imagem danificada
Apesar das graves denúncias, ainda segundo Rands, “sequer fizeram o enquadramento nesse tipo penal, definido no § 1º do art. 1º da Lei 12.850/2013. Limitaram-se a enquadrá-lo nos crimes de corrupção passiva (art. 317, caput e §1º, do Código Penal) e lavagem de dinheiro, (art. 1º c/c o art. 1º §4º, da Lei nº 9.613/98). Ficaram nas generalidades do tipo ‘temos convicções’ ou ‘não dá para o Lula dizer de novo que não sabia’. Ora, ‘convicção’, cada um tem a sua. Mas, para acusar judicialmente, requerem-se provas. Pelo menos no Estado de Direito”.
“Acabaram por usar com fins políticos a estrutura do MPF. Prejudicaram a imagem de uma instituição essencial à administração da justiça, cuja maioria de seus membros exerce o ofício sem excessos e desvios de finalidade. De quebra, enfraqueceram a Lava Jato e vitimizaram Lula, dividindo ainda mais a nação”, acrescentou.
Crítico do PT, partido do qual se desfiliou em 2012, Rands pensa que “Lula tornou-se um personagem bem menor do que já foi. Por seus próprios erros. Deixou de usar seu imenso capital político para promover as mudanças na forma de fazer política e na estrutura do Estado brasileiro, contra as quais ele reclama como se não tivesse governado 8 anos. Um capital político, aliás, merecidamente acumulado por ter reduzido a miséria e a desigualdade em seus governos”.
Doutor em Direito pela britânica Universidade de Oxford, Rands aponta que, sob a presidência de Lula, “é fato que se ampliou a corrupção endêmica do país. Nas campanhas, cedeu ao expediente fácil de delegar a linha política a marqueteiros inescrupulosos como Duda Mendonça e João Santana, sempre inclinados a mentir aos eleitores. Errou também quando escolheu para sucessora uma pessoa que, muitos já sabiam, não tinha a menor aptidão política e administrativa para governar um país tão complexo. Ou, ainda, ao alimentar um estilo personalista autoindulgente e populista macunaímico”.
Lula lidera
“Todos esses erros, todavia, só podem ser punidos de dois modos. Os erros políticos e administrativos, pelo voto. Os ilícitos, pelo devido processo legal, que requer provas. Não apenas meras interpretações midiáticas. Ironicamente, o MPF valeu-se das mesmas apresentações fofas em Power Point com as quais Dilma entediava tantas reuniões em Brasília. Há leitores que gostam de Lula. Outros que não o toleram. Mas todos amam as liberdades e as garantias individuais. Mormente quando o que está em jogo é a sua própria”, acrescenta.
Em defesa das garantias constitucionais do cidadão brasileiro, Rands afirma que “o excesso cometido no dia 14 coloca em risco direitos sagrados de todos os cidadãos. O risco passa a ser à vida, à liberdade, à honra e ao patrimônio de cada um de nós”. Tamanha voracidade no cerceamento das liberdades individuais podem, claramente, explicar porque Lula lidera, isoladamente, as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de 2018.
Após dividir a liderança com a ex-senadora Marina Silva (Rede) nos últimos levantamentos, o petista oscilou positivamente e abriu vantagem sobre a potencial adversária, que caiu na preferência dos brasileiros. Os nomes do PSDB consultados também tiveram oscilação negativa ou mantiveram os índices anteriores, o que favoreceu o petista no quadro geral da pesquisa. Além do ex-presidente, o único a ganhar espaço numa eventual disputa presidencial foi Michel Temer, que tinha entre 1% e 2% em abril e, há dois meses, aparece com índices que variam de 4% a 6%.
Acima da média
Pesquisa realizada pelo Instituto Bahia Pesquisa e Estatística (Babesp), há uma semana, no entanto, comprova os dados do Datafolha. Segundo o estudo, o ex-presidente Lula segue na liderança folgada das intenções de voto para 2018. Com 49%, na capial baiana, o petista está a frente na pesquisa espontânea. Na fila, José Serra (PSDB) vem logo a seguir, com 21,4%. Marina Silva (Rede) tem 9,4% e o juiz Sérgio Moro — um dos responsáveis pelos processos da Operação Lava Jato — tem 4%. Dos entrevistados, 5,4% ainda não sabem em quem votar e 7,9% disseram que anulariam o voto.
No cenário nacional, é Marina Silva que vem na segunda posição, com 17%, de acordo com o Datafolha. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) aparece tecnicamente empatado com a líder do partido Rede Sustentabilidade, com 14%. Em seguida aparecem Jair Bolsonaro (PSC), com 7%, Ciro Gomes (PDT), com 5%, Michel Temer (PMDB), com 5%, Luciana Genro (PSol), com 2%, Ronaldo Caiado (DEM), com 1%, e Eduardo Jorge (PV), também com 1%. Votariam em branco ou nulo 18%, e 7% não opinaram.
O panorama observado há 60 dias, no entanto, não difere muito do momento atual ou do instante observado em outra pesquisa, realizada em abril deste ano, com os mesmos nomes. Lula tinha 21% e estava empatado com Marina, que aparecia com 19%. No mesmo patamar que a ex-senadora, Aécio tinha 17%, e em seguida vinham Bolsonaro, com os mesmos 8%, Ciro Gomes, que tinha 7%, Luciana Genro, com os mesmo 2%, Michel Temer, que tinha 2%, e Ronaldo Caiado e Eduardo Jorge, que mantiveram o 1% anterior. Havia ainda 17% que votariam em branco ou nulo e 5% que não opinaram.
Lula segue com desempenho acima da média entre os mais pobres e menos escolarizados, e é ultrapassado pelos adversários conforme o avanço da renda e do nível de escolaridade. Entre os que estudaram até o ensino fundamental, 30% votariam no petista neste cenário; entre os que estudaram até o ensino médio, esse índice cai para 20%, e fica em 13% na parcela que estudou até o ensino superior.
Na fatia dos mais pobres, com renda mensal familiar de até 2 salários, 28% votariam em Lula. No segmento com renda de 2 a 5 salários, esse índice cai para 17%; entre quem mora em domicílios com renda de 5 a 10 salários, fica em 14%; e na fatia dos mais ricos, com renda familiar superior a 10 mínimos, atinge 11%. O petista também tem ampla vantagem no Nordeste, com 39% das intenções de voto, com larga vantagem sobre Marina, que aparece com 17%.
Empate com
Bolsonaro
Segundo o Datafolha, nos segmentos dos mais escolarizados e mais ricos há uma disputa acirrada pela preferência dos brasileiros. Entre quem estudou até o ensino superior, Maria tem 18% das intenções de voto, e na sequencia aparecem Lula (13%), Bolsonaro (13%), Aécio (12%) e Ciro (7%). Na parcela da população com renda mensal familiar de 5 a 10 salários, Bolsonaro tem 19%, Aécio, 16%, Lula, 14%, e 11% preferem Marina. Entre quem tem renda familiar superior a 10 salários, Bolsonaro fica com 16%, Ciro tem 15%, Marina, 14%, Aécio, 12%, Lula, 11%, e Temer, 9%.
Com Alckmin como candidato do PSDB, Lula é escolhido por 23%, Marina fica com 18%, e o tucano, com 8%. Esse índice coloca Alckmin em situação de empate com Bolsonaro (8%), Temer (6%) e Ciro (6%), e na sequência aparecem Luciana Genro (2%), Caiado (2%) e Eduardo Jorge (1%). Os votos em branco ou nulo somam 20%, e 7% não opinaram.
O mesmo cenário, em abril deste ano, mostrava Lula com 23%, empatado com Marina (23%). Em seguida apareciam Alckmin (9%), Ciro Gomes (8%), Bolsonaro (8%), Luciana Genro (2%), Michel Temer (2%), Eduardo Jorge (1%) e Ronaldo Caiado (1%), além dos 18% que votariam em branco ou anulariam e 6% que não opinaram.
Lula vence
em qualquer cenário
Na simulação em que Serra representa a candidatura do PSDB, Lula continua com 23%, e Marina fica com 17%. O senador paulista aparece na sequência, com 11%, no mesmo patamar de Bolsonaro (7%). Em seguida pontuam Ciro Gomes (6%), Temer (6%), Luciana Genro (2%), Ronaldo Caiado (2%) e Eduardo Jorge (1%). Votariam em branco ou nulo 19%, e 7% não opinaram sobre a disputa.
Em abril, Lula e Marina tinham 22% no mesmo cenário, e em seguida apareciam Serra (11%), Ciro (7%), Bolsonaro (7%), Luciana Genro (2%), Temer (2%), Caiado (1%) e Eduardo Jorge (1%). Votos em branco ou nulo somavam 19%, e 7% não opinaram.
Por fim, no último cenário apresentado, que incluiu o juiz Sérgio Moro (sem partido), além de Serra, Aécio e Alckmin – para que essa disputa fosse possível, os três tucanos teriam que disputar a eleição por partidos diferentes – e os demais nomes já listados nas simulações anteriores, Lula também lidera de forma isolada. O petista tem 22% das intenções de voto, contra 14% de Marina, 10% de Aécio, 8% de Moro, 6% de Bolsonaro, 5% de Serra, 4% de Ciro, 4% de Temer, 4% de Alckmin, 2% de Luciana Genro, 1% de Caiado, e 1% de Eduardo Jorge. Uma parcela de 14% votaria em branco ou nulo, e 6% não opinaram.
Na pesquisa anterior, o cenário com os mesmos nomes tinha Lula com 21%, seguido por Marina (16%), Aécio (12%), Moro (8%), Bolsonaro (6%), Ciro (6%), Serra (5%), Alckmin (5%), Luciana Genro (2%), Caiado (1%), Eduardo Jorge (1%) e Temer (1%). Votos em brancos e nulos somavam 13%, e 4% não opinaram.
Na pesquisa espontânea, quando nenhum nome é apresentado aos entrevistados, Lula tem 6% das citações para a disputa presidencial, no mesmo patamar de Aécio (4%) e Bolsonaro (3%) e Dilma (2%). Também são mencionadas espontaneamente Marina (1%), Temer (1%) e Ciro Gomes (1%), entre outros com menos de 1%. A maioria (64%), porém, não cita nenhum nome.
Após atingir seu índice mais alto em março deste ano, a rejeição ao ex-presidente Lula voltou a cair, mas o petista continua sendo o nome mais rejeitado entre os testados para a corrida eleitoral. Em março, 57% declaravam que não votariam de jeito nenhum em Lula, taxa que caiu para 53% em abril e agora está em 46%, a mais baixa desde novembro de 2015, quando 47% rejeitavam o petista.
A rejeição a Aécio também recuou entre abril e julho, de 33% para 29%, enquanto a rejeição a Temer passou de 27% para 29% no mesmo período. Em seguida aparecem Serra (19%, ante 21% em abril), Bolsonaro (19%, ante 15% em abril), Marina Silva (17%, ante 20% em abril), Alckmin (16%, ante 19% em abril), Ciro Gomes (13%, ante 15% em abril), Luciana Genro (12%, ante 15% em abril), Ronaldo Caiado (10%, ante 12% em abril), Eduardo Jorge (10%, ante 12% em abril) e Sérgio Moro (9%, mesmo resultado de abril). Há ainda 7% que rejeitam todos, 3% que não rejeitam nenhum e 5% que não opinaram.
Rejeição
A rejeição a Lula cresce de acordo com o grau de escolaridade e renda familiar dos entrevistados. Entre quem estudou até o ensino fundamental, é de 36%, vai a 49% entre os que estudaram até o ensino médio, e atinge 53% entre os que chegaram ao ensino superior. Na parcela dos mais pobres, com renda mensal familiar de até 2 salários, 38% não votariam de jeito nenhum em Lula.
Entre quem recebe de 2 a 5 salários, o índice sobe para 51%, vai a 58% entre os que ganham de 5 a 10 salários, e atinge 62% na fatia dos mais ricos, com renda superior a 10 salários. Também há grande variação regional na rejeição ao petista: no Nordeste, 27% dizem que não votariam de jeito nenhum no ex-presidente; no Norte, são 42%; no Centro-Oeste, 52%; no Sudeste, 53%; e no Sul, 55%.
Na fatia dos mais escolarizados, a rejeição a Temer (36%), Aécio (35%) e Bolsonaro (33%) também fica acima da média. Entre os mais ricos, a situação é similar: 41% rejeitam o tucano, 37% rejeitam Bolsonaro, e a eles se juntam Marina Silva, rejeitada por 26% do segmento, e Luciana Genro, por 23%. O senador mineiro também enfrente rejeição acima da média no Nordeste (36%), assim como Michel Temer (36%).
Nas situações de 2º turno consultadas pelo Datafolha, Lula se recuperou no embate direto com os tucanos e diminuiu a desvantagem em relação à Marina Silva. A ex-senadora, por sua vez, ganharia de todos os nomes do PSDB consultados. A comparação, neste caso, é com levantamento realizado em novembro do ano passado.
Lula e os alfaiates
Para o jornalista baiano Emiliano José, em artigo publicado no blog Conversa Afiada, do editor Paulo Henrique Amorim, Lula segue como contraponto. “Lula agride os bem-pensantes, os homens brancos engravatados de paletó preto, os jornalistas acomodados à ideologia da Casa-Grande, àquela parcela das camadas médias cuja repulsa a pobres é visceral. Ele é uma irrupção vinda das camadas mais pobres, sem eira nem beira, sem paletó preto gravata e diploma, inaceitável para um País cuja história está marcada a ferro e a fogo por quase 400 anos de escravidão”.
Emiliano José dispara: “Um nordestino pobre não tinha o direito de chegar à presidência da República”.
E acrescenta: “Além disso, não se vergar, não se curvar aos costumes dominantes, não assumir os trejeitos da Casa-Grande, e desenvolver políticas voltadas àquela gentinha tão desprezível, de operários aos catadores de papel. Não tinha o direito de inventar bolsa-família, prouni, pronatec, espalhar universidades públicas, institutos federais, essa baboseira toda. Claro, se não ganharam no voto, vai na tora mesmo, vai no golpe. Está certo, o problema é essencialmente político. Mas, é um problema político muito especial. Lula é o primeiro estranho no ninho a chegar à presidência da República, sempre ocupada por homens engravatados de paletó preto”.
Leia, adiante, um trecho do artigo:
“Não tem jeito: recorro às lições da história para tentar explicar as pretensões dos inimigos de Lula, desejos contidos que sejam.
“Lembro da Revolução dos Alfaiates, dos quatro condenados à morte: João de Deus do Nascimento, Manuel Faustino Santos Lira, Lucas Dantas do Amorim Torres e Luiz Gonzaga das Virgens e Veiga. Foram enforcados na Praça da Piedade, dia 8 de novembro de 1799. Mortos para dar o exemplo, descartado um monte de gente da elite envolvida na conspiração. Sempre assim.
“Os quatro foram esquartejados.
“Pedaços dos corpos expostos em lugares públicos para serem vistos por todos.
“De modo a horrorizar, um efeito-demonstração do terror.
“Durante cinco dias, a população de Salvador olhou nos olhos mortos dos quatro mártires, para suas cabeças despregadas dos corpos, alternando sentimentos de compaixão e indignação.
“Terror, consciente.
“Dia 13 de novembro, as cabeças cortadas, outras partes dos corpos foram retiradas e enterradas, única forma de acabar com o odor exalado pela putrefação dos restos retalhados dos cadáveres.
“A Coroa portuguesa não podia, ou não queria, deixar florescer a ideia da revolução democrático-burguesa, cuja influência crescia na esteira da Revolução Francesa.
“E a Revolução dos Alfaiates, com negros e pobres participando, insinuava uma igualdade que suprimisse a escravidão, inaceitável para a Coroa e também para as elites locais.
“Da mesma forma, inaceitável tenha Lula iniciado um processo de ascensão dos pobres no Brasil, conferindo-lhe, além da melhoria das condições de vida, o estatuto de cidadãos, pois milhões estavam excluídos de tudo quando ele ascendeu à presidência da República.
“Não podem esquartejá-lo.
“Querem, mas não podem”, conclui. Fonte: Correio do Brasil
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