Eduardo Cunha deixa pistas que levam ao homem-forte do governo Temer. Elas serão seguidas?

Ninguém sabe exatamente como termina um bom escândalo político, mas é quase regra que o ponto de ignição é geralmente atingido quando algum antigo amigo, aliado ou parente, dizendo-se abandonado ou injustiçado, resolve dizer o que sabe sobre quem o abandonou.
Em 2005, o deputado Roberto Jefferson passou três semanas no centro do noticiário em razão de suspeitas que atingiam os Correios e o Instituto de Resseguros do Brasil, estatais à época sob o comando do PTB, seu partido. Ele só saiu do foco quando resolveu dizer em entrevista à Folha de S.Paulo que o governo Lula pagava mesada para obter apoio de deputados, colocando na mira homens-fortes do PT como José Dirceu e o tesoureiro Delúbio Soares. O escândalo, mais tarde conhecido como “mensalão”, tomou tais proporções que, entre os resultados, transformou as denuncias contra Jefferson em notas de rodapé. Ele seria cassado pouco depois, mas manteve a influência política (de fome, ao que sabemos, não morrerá). Tanto que conseguiu eleger a filha, Cristiane Brasil, como sucessora.
Onze anos depois um roteiro similar é reescrito sob o governo Temer. Desta vez o petardo partiu de um colega de partido. Tivesse o mesmo ímpeto da época do “mensalão” para destrinchar as pistas deixadas por Eduardo Cunha na entrevista ao Estado de S.Paulo, a artilharia da imprensa hoje estaria toda voltada à suspeita levantada pelo deputado cassado sobre Moreira Franco, homem-forte de Temer.
Quando a gestão interina foi montada, Franco, descrito por Cunha como o cérebro do governo, não levou nenhum dos principais ministérios, como era esperado. A cargo dele ficou o Programa de Parcerias de Investimento, a menina dos olhos da aventura temerária. Pois esse programa, segundo Eduardo Cunha, nasce sob suspeição em razão das relações de Moreira Franco com o fundo de investimento do FGTS (FI-FGTS), alvo da Lava Jato desde que o ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto citou o ex-presidente da Câmara como beneficiário de propinas em operações milionárias do Fundo.
Em 2015, vale lembrar, o fundo de investimentos, que usa recursos dos trabalhadores para aplicar em obras em infraestrutura, registrou pela primeira vez em oito anos prejuízo anual: perda de R$ 900 milhões do patrimônio líquido. A rentabilidade de 2015 ficou negativa em 3%. Uma das razões para o rombo foi o provisionamento de R$ 1,8 bilhão para cobrir prejuízos da Sete Brasil, empresa criada para construir e administrar os navios sondas do pré-sal.
Menos de uma semana após ser cassado, Cunha colocou em uma só tacada escândalos aparentemente diversos (pré-sal, navios sonda, fundos de investimento, porto) em um mesmo rastro. Na entrevista à repórter Vera Rosa ele afirmou: “O Moreira Franco era vice-presidente (de Fundos e Loterias) da Caixa, antes do Fábio Cleto, que fez a delação falando de mim. Quem criou o FI-FGTS na Caixa foi o Moreira Franco. Toda a operação no Porto Maravilha foi montada por ele. No programa de privatização, dos R$ 30 bilhões anunciados, R$ 12 bilhões vêm de onde? Do Fundo de Investimento da Caixa. Ele sabe de onde tirar dinheiro. Esse programa de privatização começa com risco de escândalo. Nasce sob suspeição”.
Como Jefferson, Temer, ao trazer Moreira Franco para a conversa, tenta se safar da suspeita e/ou trazer um ex-aliado consigo – curioso é que, ao menos na edição publicada da entrevista, ele cita o correligionário, como quem não quer nada, sem sequer ser perguntado. A fala, em condições normais de pressão e temperatura, atingiria como uma bomba o colo do governo peemedebista. As obras do Porto Maravilha são investigadas por indícios de pagamento de propina pela Odebrecht, empreiteira cuja delação articulada com as autoridades viria como uma metralhadora ponto cem, segundo José Sarney. (yahoo/com agências)
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