Cientistas políticos analisam desempenho de partidos nas eleições municipais

O desempenho dos partidos políticos no primeiro turno das eleições municipais deste ano mostrou um quadro de diferenças em relação ao tamanho das cidades conquistadas por cada um. O levantamento feito pela Agência Brasil a partir de informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o dia 6 de outubro observou o número de prefeitos eleitos por cada agremiação nas diferentes faixas de número de eleitores das cidades.
Antônio Augusto de Queiroz, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
Para Antônio Augusto de Queiroz, o PSDB se beneficiou com a queda de votos do PTGabriela Korossy / Câmara dos Deputados

Os dados indicam, por exemplo, que o PSDB é o partido que teve melhor desempenho nas grandes cidades brasileiras. Além de ter eleito, em primeiro turno, o prefeito de São Paulo, o partido também elegeu mais um prefeito numa cidade dentro da faixa entre 500 mil e um milhão de eleitores, e 12 prefeitos em cidades com 200 mil a 500 mil eleitores. O PMDB, partido com maior número de prefeitos no total, 1028, elegeu seis nas cidades dessa última faixa.
Para o cientista político Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), os tucanos se beneficiaram indiretamente com a queda de votos do PT. “Havia uma polarização histórica entre PT e PSDB nos grandes centros. Como o PT foi abandonado pelo eleitor e não surgiu outro partido para ocupar esse espaço, o PSDB foi o beneficiário natural desse fenômeno”, afirmou o cientista político.
Para Antônio Queiroz, os eleitores do PT não migraram para o PSDB, mas se pulverizaram em outros partidos ou se abstiveram de votar, o que tornou mais fácil para os tucanos chegar aos votos necessários para eleger em primeiro turno o prefeito de São Paulo.
“Em São Paulo, se mais eleitores tivessem votado provavelmente o João Dória não teria sido eleito em primeiro turno”, acrescentou Queiroz.
Nas cidades menores, no entanto, outros fatores regem a escolha do eleitor. No levantamento da Agência Brasil, PMDB e PP foram os partidos que, proporcionalmente ao número de prefeitos eleitos por eles, mais se destacaram em municípios de pequeno porte, que têm até 8,5 mil eleitores.
Nos municípios com até 3 mil eleitores, por exemplo, o PP elegeu 82 dos seus 496 prefeitos, e o PMDB 127. O PSDB, segundo colocado no número geral de prefeitos, com 793, elegeu apenas 69 nessas cidades. Na faixa de municípios entre 5 mil e 8,5 mil eleitores, o PMDB elegeu 228 prefeitos, o PSDB 155 e o PP 102.
Leonardo Barreto
Para Leonardo Barreto, negociações locais favoreceram PMDB e PPABr/Arquivo
Para Leonardo Barreto, doutor em ciência política da Universidade de Brasília (UnB), o que favorece PMDB e PP é o fato de eles entregarem as negociações aos cuidados dos “caciques locais”, que têm liberdade de escolher os candidatos mais competitivos e fechar alianças mais vantajosas, sem a interferência do comando central do partido.
“O poder local é uma das instituições políticas mais antigas no país, explicou o professor, citando o ex-presidente da República Campos Salles.
“Esses partidos [PP e PMDB] são da mesma escola. Os caciques compõem do jeito que eles acham mais indicado. Tanto que, no Rio Grande do Sul, o PP foi totalmente a favor do impeachment. Mas o PP da Bahia votou todo a favor da Dilma”, exemplificou.
Outras legendas
Antônio Queiroz também chamou atenção para o desempenho de legendas de menos destaque nacional. A Rede, por exemplo, que teve Marina Silva em terceiro lugar nas eleições presidenciais de 2014, não conseguiu bom desempenho este ano nas municipais. No total, o partido elegeu apenas cinco prefeitos em primeiro turno.
Para o cientista político, a líder do partido não conseguiu transferir seus votos porque eles são de eleitores insatisfeitos com as opções em âmbito nacional e não por convicção ideológica. “Faltou o reconhecimento de que a Marina não tem esse prestígio todo”, avaliou.
No sentido inverso, o cientista político afirmou que PCdoB e o PDT conseguiram a maior parte de suas prefeituras em razão de lideranças locais. No caso dos comunistas, o governador Flávio Dino (MA) conseguiu fazer no Maranhão 46 dos 80 prefeitos eleitos pelo partido em todo o país.
“Isso é por causa do governador. Se o governador mudar de partido, os prefeitos migram com ele”, acrescentou Queiroz. Segundo ele, o mesmo fenômeno ocorreu no Ceará, onde os irmãos Cid e Ciro Gomes, que têm tradição na política local, ajudaram o PDT a fazer 51 prefeituras entre as 184 do estado.ABr
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