Finalmente, chegou o dia. 8 de novembro, eleições americanas.
Depois de uma campanha agressiva de ambos os lados, Hillary Clinton e Donald Trump se enfrentam nas urnas para decidir quem vai comandar os EUA e suceder o democrata Barack Obama na Casa Branca.
E, ao que tudo indica, a disputa vai ser apertada. Entre as pesquisas divulgadas nos últimos dias, a imensa maioria dá vantagem para a democrata, mas em uma margem bem apertada- ela aparece entre 3 e 6 pontos percentuais na frente de Trump, que diminuiu a distância nos últimos dias.
A última semana de campanha, foi, inclusive, bastante tumultuada. No começo do mês de novembro, Hillary foi novamente colocada em suspeita pelo FBI de usar um servidor particular para trocar mensagens confidenciais do governo quando era secretária de Estado, entre 2009 e 2013. A agência de inteligência, no entanto, pôs fim à especulação no último domingo (6), quando afirmou quenão encontrou nenhum indício de irregularidade nas mensagens.
Já Trump, depois de muito provocar muitas polêmicas nos debates, nos comícios e até em sua conta no Twitter, passou a última semana um pouco mais "comedido". Para evitar novos escândalos, no entanto, até o acesso do republicano as suas redes sociais foi restringido por sua equipe de assessores.
Independente de quem vença a eleição, o fato é que o novo presidente dos EUA vai herdar alguns desafios enfrentados pela administração Obama.
1. O sistema de saúde
Popularmente conhecido como "Obamacare", o Affordable Care Act foi um dos temas mais polêmicos da administração Obama e que causou muitos conflitos e desgastes entre o executivo e o Congresso - de maioria republicana.
Basicamente, segundo a reforma levada a cabo por Obama, todos os americanos devem ter um plano de saúde privado, mesmo que os com renda mais baixa paguem apenas um valor simbólico, e o resto seja subsidiado pelo governo. Se por um lado o projeto fez com que mais de 20 milhões de americanos tivessem acesso aos cuidados de saúde, por outro, as seguradoras conseguiram driblar algumas regras e subiram bastante o preço dos serviços. Em meio a erros e acertos, o fato é que o sistema de saúde norte-americano vai ter que ser lapidado (ou reformulado?) pelo próximo chefe do Executivo. A questão, inclusive, foi amplamente discutida nos três debates entre os candidatos.Enquanto Hillary afirma que vai manter a reforma e batalhar por melhorias, Trump diz que vai implementar um novo sistema, supostamente mais eficiente.
2. O controle ao acesso às armas
Embora os dois candidatos se classifiquem pró Segunda Emenda, há uma diferença substancial na abordagem que cada um faz no controle ao acesso às armas.
Enquanto a postura de Hillary se assemelha à de Obama, que defende um controle maior para a compra de armas - em várias situações o presidente lamentou a facilidade com a qual se compra armas nos EUA.
A luta de Obama por um controle mais rigoroso ao acesso às armas ficou ainda mais intensa após 49 pessoas serem mortas no ataque contra a Boate Pulse, em Orlando, no pior massacre com armas de fogo na História do país.
Desde então, o presidente pediu, em vários discursos, que os parlamentares se unissem para ajudar que ataques como esse fossem evitados.
No começo deste ano, Obama anunciou uma série de medidas que não dependem do Congresso para tentar dificultar a compra de armas. Suas críticas foram agudas:
"O lobby das armas pode estar fazendo o Congresso refém atualmente, mas eles não irão manter a América refém. Nós não aceitaremos essa carnificina como o preço pela nossa liberdade."
Se Obama criticou o lobby das armas, é importante lembrar que o mesmo lobby apoia Donald Trump. No último debate, o republicano se disse orgulhoso dos seus aliados e afirmou que a Segunda Emenda é intocável, e que não seria alterada.
Em várias situações Trump disse que ataques terroristas poderiam ser evitados se as vítimas estivessem armadas.
3. O combate ao Estado Islâmico e a guerra na Síria
Embora não seja um problema dos EUA, o país é o líder da coalizão que combate o Estado Islâmico na Síria. Hillary e Trump concordam em manter a opção de Obama, de não mandar tropas para o terreno.
Trump, no entanto, insiste na importância de primeiro combater o Estado Islâmico, e depois pensar na questão da liderança do país. É importante lembrar que o atual líder da Síria, Bashar Al-Assad, é aliado de longa data da Rússia. E que Trump e o presidente da Rússia, Vladimir Putin vem trocando elogios publicamente desde o começo da campanha. Basicamente, ninguém sabe o que pode sair dessa nova amizade.
Nesse aspecto, Hillary tem a posição (de novo) alinhada com a de Obama: Quer intensificar o apoio aos rebeldes, ao mesmo tempo em que combate o Estado Islâmico.
4. Relações com o Brasil
As relações dos EUA com o Brasil e com a América Latina não têm sido um aspecto prioritário na campanha de nenhum dos dois candidatos. Especialistas e observadores entrevistados pelo HuffPost Brasil afirmam que, caso Trump seja eleito, há duas variáveis em jogo: as prioridades do republicano em termos de política externa, e a postura do governo de Michel Temer em relação aos EUA.
O que vinha acontecendo, entre Obama e Dilma era uma tentativa de aproximação. Agora a gente está na incerteza com o governo Temer. Com o Trump, veremos uma queda nessa importância de estreitar relações, mas isso também não depende só dele, pois os rumos da política externa aqui também estão indefinidos, depende da própria postura do governo brasileiro", avalia Rita do Val, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina.
Já para Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM, o comércio entre os dois países é um aspecto crucial para o Brasil. "Tradicionalmente, os republicanos tem uma posição mais pró-mercado, o que para o Brasil seria mais fácil de negociar. O Trump, no entanto, tem uma posição bastante protecionista e a Hillary é mais aberta", explica.
Holzhacker acrescenta ainda que os EUA reconhecem o Brasil como uma importante nação na América Latina, e mantiveram uma posição neutra diante do processo de impeachment de Dilma Rousseff. "Para o Brasil, no primeiro momento, a situação é de entender quais serão as prioridades em termos de comércio internacional, e qual será o papel da América Latina para esse novo governo", explica.
Coordenador do curso de MBA de Relações Internacionais da FGV, professor Oliver Stuenkel, é complicado ser taxativo ao afirmar que um ou outro candidato seria mais vantajoso para o Brasil.
"Em geral, a Hillary representa continuação, e a América Latina não é prioridade para os EUA. Isso é positivo, pois o forte envolvimento dos EUA, historicamente, causa ruído na região, e um dos interesses nacionais do Brasil há bastante tempo é o de reduzir a influência de atores extra-regionais. Há uma relação cordial, sem que os EUA deem tanta atenção como para assuntos que são mais importantes para eles, como o Oriente Médio e a Ásia."
Stuenkel afirma, no entanto, que uma eventual eleição do republicano pode dar "um susto" no mundo. "A eleição dele aumentaria a instabilidade política e financeira no mundo. Nesse sentido, a eleição da Hillary seria melhor, porque ela não teria um impacto negativo no sistema internacional", afirma o acadêmico, que classifica Trump como uma "incógnita total". (HuffPostBrasil) Foto: Reuters
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