Lula passa a primeira noite na prisão

Chegada do ex-presidente à sede da PF em Curitiba foi marcada por confrontos entre manifestantes e policiais. Petistas anunciam "vigília” nos arredores do prédio e dizem que o partido vai insistir na candidatura de Lula.
Após dois dias de expectativa, tensão e drama, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou na noite de sábado (07/04) a Curitiba, onde começou a cumprir sua pena de 12 anos e 1 um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Primeiro ex-presidente brasileiro condenado por um crime comum, Lula passou a primeira noite de prisão em uma sala especial na sede da Superintendência da Polícia Federal na capital paranaense.
Na chegada do petista ao prédio, foram registrados vários incidentes entre apoiadores e policiais. Um grupo de manifestantes tentou invadir o prédio e foi repelido por agentes federais que lançaram bombas de gás lacrimogênio. Homens da Polícia Militar também dispararam balas de borracha contra pessoas que teriam atirado pedras. Nove pessoas, entre elas um PM, ficaram feridas.
Neste domingo (08/04), o clima nos arredores do prédio era mais tranquilo. Até agora não foram registrados incidentes. Centenas de apoiadores ainda permanecem no entorno do local. Segundo a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, será feita uma "vigília permanente” em Curitiba até que Lula seja solto.
"Curitiba será o centro de nossa ação política. Nós só sairemos daqui quando Lula também sair. Essa vigília é permanente", afirmou Hoffmann para militantes reunidos nas imediações da sede da PF. Segundo membros da cúpula do partido, mesmo com a prisão, Lula continua como o candidato do PT à Presidência nas eleições de outubro. Não será o PT que vai retirar Lula das eleições”, disse o vice-presidente do partido, Alexandre Padilha, à rede BBC.
Já o ex-ministro José Dirceu, outro condenado no âmbito da Operação Lava Jato, disse que os petistas vao continuar a "lutar” por Lula. "Em eleições livres, limpas, nós venceremos como vencemos sempre. (...) Uma tentativa vã porque Lula voltará”, disse ele em mensagem publicada no blog Nocaute.

Dois dias de suspense

Após a decretação da sua prisão pelo juiz Sérgio Moro na quinta-feira (05/04), Lula se dirigiu para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, entidade que foi embrião do PT no início dos anos 1980. Inicialmente, Moro havia oferecido a opção para que o petista se entregasse na sede da PF em Curitiba até as 17h de sexta-feira. A ordem ocorreu algumas horas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter negado um pedido de habeas corpus preventivo apresentado pela defesa de Lula.
Mas acabaram se passando quase 50 horas entre o anúncio da ordem e a apresentação de Lula á PF. O ex-presidente acabou se entregando 26 horas depois do prazo fixado pelo juiz. Durante o período em que ficou no sindicato, o ex-presidente recebeu solidariedade de várias figuras da esquerda brasileira. Centenas de apoiadores se posicionaram em frente ao edifício. "Eu vou provar a minha inocência. A história, daqui a uns dias, vai provar que quem cometeu um crime foi o juiz e o Ministério Público", disse Lula em um discurso para apoiadores no sábado.
Houve registro de várias agressões a jornalistas cometidas por apoiadores do ex-presidente, ações que foram condenadas por entidades que representam a imprensa. Nos tribunais, a defesa de Lula sofreu mais duas derrotas ao ter mais dois pedidos de habeas corpus rejeitados pelo STF e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Quando finalmente resolveu deixar o local no sábado, Lula teve dificuldade de seguir de carro. Dezenas de apoiadores formaram um cordão humano para impedir que o ex-presidente se entregasse. Lula acabou tendo que sair a pé. Acabou se entregando para um grupo de agentes da PF que aguardava nas proximidades. De lá, seguiu para o aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O petista decolou do local em um avião monomotor. O voo chegou no aeroporto Afonso Pena, na região metropolitana de Curitiba, por volta de 22h (horário de Brasília). Do aeroporto, o petista seguiu de helicóptero até a sede da Superintendência da PF, que fica na região norte da capital paranaense.
© Reuters/R. Moraes
O local abriga outros presos da Lava Jato, como o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, que, segundo o Ministério Público, pagou suborno a Lula na forma de um apartamento tríplex no Guarujá, episódio que levou à condenação do petista por corrupção e lavagem de dinheiro.
Por determinação de Moro, que já havia proibido Lula de ser algemado, os agentes da PF instalaram o petista em uma sala especial do complexo. O local tem 15 metros quadrados e conta com uma cama, uma mesa e um banheiro privativo. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, foi autorizada a instalação de um televisor no local.
(Deutche Welle) (DW) Foto: R. Moraes/Reuters
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