Entre os convidados de honra do casamento do príncipe Harry com Meghan Markle, no último sábado (19), estava a duquesa Camilla. Assim como ocorreu no casamento do príncipe William com a duquesa Kate (em 2011), a madrasta do noivo prestigiou o evento com o marido, príncipe Charles, primeiro na linha de sucessão ao trono britânico, e ao lado dele ficou tanto na cerimônia quanto nas fotos oficiais do novo casal com suas famílias. E então começaram os ataques.
Ao ver as fotos nas redes sociais, muitas pessoas – principalmente mulheres – decidiram ofender Camilla e questionar sua presença. “Nem deveria estar no casamento”, “Que vergonha ver essa Camilla na foto”, “Ela deveria ter vergonha na cara e não aparecer”. Também criou-se uma suposta rivalidade com lady Diana, mãe de William e Harry, morta em 1997, quando já era separada de Charles havia cinco anos (o divórcio saiu apenas em 1996). “Diana deve estar se revirando no túmulo”, “Era para Diana estar nesta foto, não essa Camilla”.
Esse comportamento anti-Camilla é problemático por diversos motivos, mas três se destacam.
Em primeiro lugar, não condiz com a postura da própria família real e em especial dos filhos de Diana e Charles, que sempre respeitaram o segundo casamento do pai e demonstram publicamente bastante carinho por Camilla – afinal de contas, é ela quem faz o pai deles feliz.
A felicidade do casal é a segunda razão pela qual não faz sentido atacar Camilla. Logo mais entraremos nessa história com detalhes, mas Camilla é o grande amor da vida de Charles, e ele, o grande amor da vida dela. Um amor que foi interrompido por ela ser plebeia e só se tornou possível décadas depois, com a modernização da monarquia britânica.
Por fim, a criação de uma rivalidade entre Diana e Camilla em pleno ano de 2018 não tem lógica nenhuma, além de ser um desserviço às mulheres. Isso merece ser detalhado.
Sororidade: Diana já entendia disso nos anos 1990
Parte da luta pelo nosso fortalecimento como gênero consiste em nos apoiarmos e entendermos que mulher nenhuma é responsável pelo comportamento de um homem. Na década de 1990, Diana deixou claro que entendia de sororidade – em resumo, a empatia entre mulheres – muito bem.
Em entrevistas após a separação, a princesa falou abertamente sobre como se ressentia do fato de “haver gente demais” em seu casamento, referindo-se ao caso que Charles manteve com Camilla por anos e nunca fez força para esconder dela. Mas em nenhum momento Diana faltou com o respeito publicamente em relação a Camilla, sempre reforçando que o errado dessa história era o marido. Que se fosse o caso de apontar o dedo para alguém por ela ter sido traída, que fosse na direção de Charles.
Além disso, Diana não era nenhuma coitadinha vítima da “vilã” Camilla, e é improvável que ficasse contente ao saber que muitas a enxergam desta maneira hoje em dia.
Quando morreu, em um acidente de carro em Paris no dia 31 de agosto de 1997, estava plena em um relacionamento com Dodi Al-Fayed, milionário egípcio radicado na Inglaterra e herdeiro da rede de lojas de departamentos Harrods (que também morreu no acidente). Apesar do desequilíbrio emocional causado pelos últimos anos do casamento com Charles, Diana era uma mulher forte que se reergueu depois da separação e já havia conseguido reconstruir sua vida afetiva. Ao lado de Dodi, ela fez viagens incríveis, frequentou os melhores restaurantes da Europa e foi muito feliz.
Claro que só podemos imaginar como seria o casamento real se Diana ainda estivesse viva, mas é claro que ela teria lugar de honra e ao seu lado estaria seu companheiro, que poderia ser Dodi Al-Fayed ou não – nada impede que ela tivesse terminado o namoro com ele e reencontrado o amor com outro homem.
No caso das fotos oficiais, não dá para ter uma ideia precisa de como seria, porque nunca ocorreu algo semelhante na família real britânica. Mas é possível que fizessem duas versões: uma com Charles & Camilla e Diana & seu companheiro e outra apenas com Charles e Diana, os pais do noivo. Nobres e elegantes que sempre foram, colocariam a felicidade do filho em primeiro lugar e dificilmente criariam climão para ficar um ao lado do outro em uma simples foto.
Apenas para encerrar esta parte do assunto, vale lembrar que a história de vida de Diana deu a ela muita clareza sobre as questões de amor e fidelidade. Sua mãe, Frances, separou-se de seu pai, o conde John Spencer, para ficar com o amante que amava de fato, o empresário – também casado – Peter Shand Kydd.
Charles e Camilla: amor verdadeiro
A história de Charles e Camilla vem de muito antes de o príncipe ser apresentado a Diana.
Camilla estudou nas melhores escolas do Reino Unido, da Suiça e da França. Sempre foi educadíssima, conhecedora de todos os protocolos do bom comportamento e frequentadora dos meios mais refinados. Mas, mesmo sendo de uma família muito rica, era plebeia.
Conheceu Charles em um jogo de pólo no começo dos anos 1970 e, segundo amigos do casal, a paixão foi imediata. Namoraram por um ano, mas ela terminou com ele quando soube que não receberia um pedido de casamento. O que se diz – e nunca foi negado – é que Charles queria que ela fosse sua esposa, mas a rainha Elizabeth II vetou o casamento por Camilla não ser de origem nobre.
Magoada, Camilla casou-se em 1973 com Andrew Parker Bowles, ex-namorado da princesa Anne (irmã de Charles). Dizem que Charles ficou devastado com o casamento.
Poucos anos depois, a família real escolheu Diana, filha de aristocratas e já portadora de um título de lady, para ser a mulher do futuro rei. Ela tinha a imagem perfeita: bonita, nobre, discreta, virgem, anglicana praticante. Só que não havia amor entre o casal.
Ainda assim, o casamento foi realizado em 29 de julho de 1981, televisionado e assistido por cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Do relacionamento nasceram William e Harry, mas Diana visivelmente não era feliz.
Rumores dão conta de que Charles e Camilla ficaram separados por pouco tempo, e que eles teriam se tornado amantes antes mesmo de Diana entrar na história.
Na verdade, o caso dos dois não era um problema para Andrew, já que os Parker-Bowles haviam optado por ter um casamento aberto – ou seja, ambos podiam se relacionar com outras pessoas sem que isso comprometesse sua relação. A atual esposa de Andrew, inclusive, era amante dele naquela mesma época.
A separação de Charles e Diana é amplamente conhecida. O que pouco se fala é que houve um acordo entre ele e Camilla para que ambos ficassem livres e desimpedidos, e assim pudessem viver seu grande amor. Em 1995, um ano antes do divórcio de Charles e Diana se concretizar, saiu o divórcio de Camilla e Andrew.
Depois de todos os escândalos envolvendo as traições de Charles e, segundo boatos, de Diana também, da infelicidade pública dos dois e do óbvio fracasso de sustentar um casamento de aparências, a rainha Elizabeth II deu o braço a torcer, decidiu modernizar os protocolos reais e autorizou o casamento de Charles com a plebeia divorciada Camilla sem que isso o tirasse da linha de sucessão ao trono.
O casamento foi no dia 9 de abril de 2005, no Castelo de Windsor, o mesmo em que Harry e Meghan se casaram. Para muitos – nobres, plebeus e analistas da realeza britânica –, representou a vitória do amor e o fim dos relacionamentos por conveniência na família real.
Camilla Rosemary Shand é, desde o casamento com Charles, Duquesa de Cornualha e Duquesa de Rothesay (este título é específico para a Escócia). É uma elogiada patrona e presidente de organizações de caridade ligadas à saúde, à alfabetização e às vítimas de abuso sexual. Quando Charles se tornar rei, será a rainha consorte do Reino Unido.
E, embora a memória de Diana seja adorada até hoje e continue sendo por muito tempo, Camilla merece do público o mesmo respeito que a família real lhe concede. Ela não é vilã, não é rival de ninguém. É apenas uma mulher que, como muitas plebeias que você conhece e inclusive podem estar lendo este texto, se permitiu viver o grande amor.
Com agencias) /MSN/AFP
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