
A BURQA
VALÉRIA REIS
A burqa ou burca é uma versão radical do xador.Trata-se de uma veste feminina que cobre todo o corpo, até o rosto e os olhos. É usada pelas mulheres do Afeganistão. Segundo definiu a jornalista e escritora Asne Seierstad, a burca é símbolo da opressão dos talebans . Apesar do regime ter caido, as mulheres do Afeganistão continuam com a burca e tudo continua como antes. As burcas têm mais de 100 anos de tradição e foram introduzidas por um rei que tinha um harém que não queria que suas mulheres fossem vistas. A burca era símbolo de riqueza, usada por mulheres de reis, príncipes e pobres.Quando caíram os talebans, as mulheres continuaram usando a indumentária. Asne desafia outros jornalistas a fazer uma reportagem com mulheres afegãs sem a burca. Ela diz que não existem muheres sem a burca, segundo explica, muito raro encontrar uma mulher sem a vestimenta.A escritora conta que trabalhou em jornalismo diário e descreve a história de um pai que tinha perdido seu filho. O homem falava em albanês. – “Eu disse: o senhor pode falar mais rápido, em 30 segundos”. O homem responde: - “Um pai passa o mais terrível ao perder seu filho. Que quer que eu diga em 30 segundos”, descreve a cena. Sobre os afegãos, diz que são pessoas entusiastas, pessoas abertas a conversar e diretas. Asne conta que recebeu críticas. “É o meu livro, a minha viagem. Os críticos ficam atrás de seus computadores e julgam como querem”, alfineta a norueguesa.Perguntei a Asne se ela tinha feito faculdade de jornalismo, mestrado ou algum treinamento para correspondente de guerra. Ela conta que não fez faculdade de jornalismo. Começou por acaso na profissão, aos 24 anos. No principio dos anos 90, ela foi visitar o pai em Moscou e havia muito para escrever. Ela coneçou a tuar como correspondente de guerra. Ela cobriu três ou quatro guerras. “Não é algo que eu queira muito, mas sou uma pessoa muito curiosa. Me interessa entender o mundo como o atentado do 11 de setembro, o Iraque, a Tchetchênia, entre outros”.Asne conta que quando chegou a Cabul, frequentava a livraria, foi convidada a jantar na casa do livreiro e acabou ganhando a simpatia da família. “Eu pensei, isto pode se transformar em um livro” Seu livro retrata a rotina de Shah Mohammad Rais, um afegão aparentemente liberal que resistiu à ditadura taleban para manter sua livraria aberta, e dos parentes próximos.
COSTUMES FUNDAMENTALISTAS
Ela conviveu de forma intensa e contínua com esse grupo de pessoas, a jornalista apresentou um outro lado de Mohammad Rais, que dentro de casa mantinha costumes tradicionais fundamentalistas, sempre no controle e reprimindo as mulheres.
Asne observa: “Tenho certeza que ele não gostou do livro, pois tinha expectativas diferentes em relação ao seu conteúdo”, disse a escritora. Ela explica que existe uma espécie de conflito com o personagem principal já dura quatro anos, e não deve acabar tão cedo. O livreiro disse que ia processá-la, mas, passados mais de três anos, não houve processo. “Ele esperava um livro que o retratasse como um salvador do Afeganistão que seria conhecido no resto do mundo. Mas, eu fiz um trabalho jornalístico. Ele até permitiu que as mulheres da família dessem depoimentos. Entretanto, elas foram honestas e sinceras.”, revela Asne.
VERSÃO
Nada satisfeito com a publicação, o livreiro resolve mostrar sua versão e lançou em 2006, seu próprio livro, “Eu sou o livreiro de Cabul". Asne cobriu as guerras na Tchetchênia, na Bósnia e no Iraque, entre outros. Asne lembra que Mohammad Rais chegou a propor que ela reescrevesse o livro. O livro mostra a realidade. "Na verdade, o que ele queria ser visto como um um herói que salvou os livros e a cultura ”, enfatiza a autora. A jornalista conta que o livreiro era uma boa pessoa e também fez boas iniciativas pela sociedade afegã, na área da Cultura. ressalta. Ela também revela que no Afeganistão, reina a insegurança, com escolas que sofrem atentados, com prédios queimados, professores e crianças. Assim, muitas mães não querem enviar seus filhos para as escolas. (Valéria Reis)
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