Nelson Motta fala de Glauber Rocha na Feira do Livro de Porto Alegre - Parte 2
VALÉRIA REIS
Na época em que começou a fazer cinema, Nelson Motta conta que Glauber queria mudar o cinema no Brasil e no mundo.Ele achava que escrevendo dois livros, ia ganhar prêmios literários no mundo. Ele descreve que Glauber fez um clássico do cinema com uma câmera bambardeada. - Imagina o que não faria ele se tivesse na época uma câmera de celular-, observa, acrescentando que o cineasta fez um cinema de ação e invenção. Motta diz que hoje dá para ouvir tudo na internet como clássicos americanos e espanhóis, além de coisas passageiras que acontece todo dia. - Isso enche o saco e se vai buscar músicos do passado! Ele comenta que em 1958, João Gilberto fez a bossa-nova. - Essa possibilidade das pessoas entrarem em contato com o tesouro da música popular, através da web. Disse ainda que não é do tipo nostálgico. Segundo o jornalista, hoje, o Brasil produz uma música de primeira classe. Motta descreve que antigamente era de baixa qualidade. O Brasil era um país fechado não importava nada em função dos tempos da Repressão. Hoje, com a liberdade de criação, pode -se ter acesso à produção da Favela da Rocinha , além de tudo que rola em termos de música em Nova York. - Atualmente, o básico é o mesmo, só difere o cenário. Motta acrescenta que gosta de encontrar pessoas que lêem seus livros e se interessam pelo seu trabalho. Disse que viaja muito divulgando seu trabalho - de Berlim a Porto Alegre. Conta que sempre ouve as mesmas perguntas. É duro! Já tenho um banco de respostas e ninguém nunca reclamou. (risos) Elogiou que na capital gaúcha, o debate foi na base do improviso geral. Foi como um jazz total, uma jam session. Nelson Motta disse que morava em Nova York nos anos setentrionais. Hoje, ele dá preferência aos jovens artistas que têm menos auto-crítica e são menos sofridos. Diz que faz um esforço pesado para tornar o livro mais leve possivel. Sobre a música nacional, observa que hoje tem muita gente boa como Maria Rita, Maria Gadú entre outros. - Muita gente entrou forte nos Anos 60. Hoje está tudo muito confuso para meu pobre coração ! (risos). O jornalista acrescenta que há mais de 25 ano, não fazia música com Lulu Santos. - Ele me mandou uma música para eu fazer a letra. Será inserida no comemorativo dos 30 anos de 'Como uma Onda'. Se chama ' Nós e o vento'. Acho que vocês vão gostar -setenciou. Questionado sobre seus autores preferidos, responde que são: Fernando Sabino, Jorge Amado. - Viajei naquele mundo. Até perdoaria Gabriela pela traição. Também gosta de Rubens Fonseca, Gabriel Garcia Marques, entre outros. Sobre sua rotina, disse que não gosta mais da noite. Anda na praia todo dia de manhã bem cedo. - Às 11h da noite já estou cabeceando - confessa. Assim, me sinto energizado e trabalho se estende até às 19h, sempre com bom humor, classifica. Nelson Motta conta uma passagem engraçado do livro: O Glauber tinha uma irmã chamada Aneci. Naquela época, no Farol da Barra, um alemão atravessou de moto no local e encantou a moça. Ele gostou da onda baiana, resolveu ficar e casou com a jovem. Mas, o tal alemão bebia muito, era cinegrafista, doidão e sumia o tempo todo. Ela cansou e conheceu Caetano. Levou-o até o Forte de São Marcelo.O casamento com o alemão estava péssimo. Aneci leva Caetano para casa. Chega Glauber, ciumento como um muçulmano com a irmã. e diz: - sinto cheiro de homem! Vai até o quarto e encontra a dupla tentando disfarçar e em apuros. Quem é esse cara, pergunta Glauber? A irmã responde: - É uma bicha amiga da Bahia - (risos ). No final do debate, Nelson Motta contou que entrevistou a mãe do cineasta. Era uma mulher muito inteligente. Através dela, falou com várias pessoas. Também pesquisou jornais e revistas onde Glauber Rocha trabalhou em Salvador . Contou também. que Glauber tinha excelente formação literária e escreveu muitas cartas a amigos. - Ele tinha uma câmera meia-boca que dava problema e uma ideia na cabeça. Era extremamente rigoroso na hora de filmar, e livre. Fez nove roteiros diferentes, comentando as diferenças. Era chatérrimo em termos de exigência e mostrava esse rigor dele. Na hora de filmar, mudava tudo. Entrava num transe, tinha que liberar o inconsciente e improvisava -, descreve Motta. Em 1966, Sarney foi eleito governador do Maranhão e chamaram o Glauber filmar a posse. Sarney tinha 30 e poucos anos. Glauber fez o filme de Sarney numa praça paupérrima do Maranhão. O bigode preto e falando aquele discurso triunfalista. Entre o discurso, o cineasta coloca cenas de esgoto a céu aberto, crianças com o nariz escorrendo. A gente não sabe se ri ou chora. Espetacular aquilo!, descreve o jornalista . Nelson Motta também comentou sobre clássicos de Glauber Rocha como Terra em transe e o Sertão vai virar mar - filmes que são atualíssimos. Terra em transe foi considerado um dos 100 melhores filmes do seculos 20, mostrando o Brasil e a politica, completou Motta. (Valéria Reis). Foto: Bruno Alencastro/Lara Ely
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