Nelson Motta fala sobre Glauber Rocha na Feira do Livro de Porto Alegre
VALÉRIA REIS
O jornalista, músico e escritor Nelson Motta, esteve essa semana na Feira do Livro de Porto Alegre para falar de seu livro ‘A primavera do dragão’, da editora Objetiva. O jornalista disse que os últimos anos de Glauber Rocha foram difíceis e um fim bastante triste. Então, decidiu contar sobre a juventude do cineasta. Ele comentou que em 1989, descobriu que Zuenir Ventura pensava em escrever sobre Glauber, mas as anotações foram roubadas do carro dele. Anos depois, O jornalista autorizou Motta a escrever o livro. Nelson Motta queria mostrar sobre o lado bom e como ele se tornou o respeitado cineasta. Daí escolheu os anos de sua formação e floração. Ele conheceu Glauber em março de 1964, durante a pré-estreia de Deus e o diabo na terra do sol. Amigos de toda a vida, Motta observa que a turma de Glauber reunia a nata da intelectualidade baiana, como João Ubaldo Ribeiro e Calazans Neto, Cacá Diegues, Luiz Carlos Barreto. Disse que Glauber resolveu fazer cinema após assistir o Rio 40 graus de Nelson Pereira dos Santos. - Ele comprou uma câmera com o dinheiro da venda de dois bois, presente que ganhou de um tio por ter passado no vestibular. Ele fez um curta. Ali surgia o Cinema Novo -, diz, acrescentando que, inclusive o curta ganhou manifesto no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil. Três anos depois, Glauber faz o primeiro longa. Barravento de 1962, sendo sua estréia internacional no mundo do cinema. Dois anos após, Deus e o diabo na terra do sol é selecionado no Festival de Cannes, encerrando ai o livro. Para os gaúchos, Motta disse: - “Sou um biógrafo pop movido por sentimentos amorosos -, autodefine-se. No livro sobre o diretor de Terra em Transe e Deus e o Diabo na Terra do Sol, o escritor se valeu de entrevistas, depoimentos e muito material de arquivo para trazer à luz os anos iniciais de vida deste revolucionário cineasta, que, -com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça - , encabeçou o movimento Cinema Novo nos anos 60 e mudou para sempre a estética cinematográfica no Brasil e no mundo. -Sou encantado nesta parte da vida de um artista, na primavera de um artista florescendo. É quando ele ainda tem ambições, guarda certa inocência e não foi castigado pela vida -, comentou. Com arte do designer Luis Stein, o livro começou a ser escrito em 1989, mas ficou engaveteado. Por insistência do jornalista Zuenir Ventura, a quem Nelson Motta considera seu “mestre”, Motta retomou o projeto este ano, finalizando-o em apenas seis meses. - Glauber, um personagem complexo, rico, contraditório, anárquico, libertário, de vanguarda-, classificou o autor. Questionado se hoje em dia existiria um outro Glauber Rocha, o jornalista foi pessimista: - Esse tipo de personagem hoje é difícil de acontecer. As coisas hoje estão muito politicamente corretas, certinhas, o que não têm nada a ver com Glauber Rocha.-, frisou. (Valéria Reis). Foto: Bruno Alencastro/Lara Ely
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