Buenos Aires – A Argentina terá de investir anualmente US$ 15
bilhões, durante os próximos três anos, para voltar a produzir energia
suficiente para consumo próprio, informou o ex-secretário de Energia no
país e ex-presidente da petrolífera espanhola YPF, Daniel Montamat.
“Essa soma equivale a 3 pontos percentuais do Produto Interno Bruto
(PIB) e o governo não pode fazer esse investimento sozinho. Se quiser
reverter a crise energética, terá que implementar políticas de longo
prazo, para atrair investimentos”, disse Montamat.
A crise energética levou a presidenta argentina Cristina Kirchner a
propor ao Congresso um projeto de lei para a expropriação de 51% das
ações da YPF, que pertence ao grupo Refineria de Petróleos de
Escombreras Oil (Repsol), da Espanha. O projeto foi aprovado na
madrugada de hoje (26) pelo Senado, o que deve ser confirmado na
próxima quarta-feira (2) pela Câmara dos Deputados.
Segundo Montamat, a expropriação em si não resolve os problemas da
crise no país. A falta de investimentos na exploração e na produção de
gás e petróleo e os altos índices de crescimento econômico (média de 7%
ao ano, desde 2003) obrigaram a Argentina a importar US$ 9 bilhões em
energia em 2011 – equivalente quase à totalidade do saldo da balança
comercial do país, de US$ 10,5 bilhões.
Outro problema é que , no país, cada milhão de Unidade Térmica
Britânica (BTU, em inglês), unidade de medida de gás, custa US$ 2,75. A
Argentina importa o produto da Bolívia, no entanto, por US$ 12 – cinco
vezes mais.
“É uma crise grave porque afeta o equilíbrio das contas externas
argentinas e também os gastos públicos. Pagamos preços internacionais
para importar energia que são muito superiores ao cobrado na Argentina.
Resultado: o governo tem que pagar a diferença para manter os preços
internos baixos. Isso afeta suas contas públicas”, explicou o
ex-presidente da YPF.
A presidenta Cristina Kirchner (eleita em 2007 e reeleita em 2011)
culpou o grupo Repsol pela escassez de combustível no país. Segundo
ela, os lucros foram repatriados pela empresa sem que se investisse na
exploração e na produção dos produtos em território argentino. De
acordo Montamat, a culpabilização da empresa não é justificável, pois a
produção da YPF representa apenas 30% da produção de petróleo e gás no
país.
A Repsol, grupo ao qual a YPS pertence, diz que de 1999 a 2011
investiu US$ 20 bilhões na Argentina. Ontem (25), os interventores do
governo argentino, que assumiram o controle da empresa, emitiram um
comunicado acusando a empresa espanhola de ter tido uma “conduta
depredatória” no país.
“Entre 1999 e 2011, as reservas de petróleo da YPF sofreram 40,5%
de redução e as de gás, 47,1%. Ao mesmo tempo, a produção de petróleo
caiu 38,3% e a produção de gás 25,4%”, informa o comunicado.
A senadora oposicionista Maria Eugenia Paz Estenssoro, que se
absteve na votação sobre a expropriação no Senado, disse que era
“simplista” culpar a Repsol por todos os males. Ela explicou que
existem 14 empresas petrolíferas em operação no país e que nove delas –
a Petrobras, inclusive – tiveram queda de produção “maiores ou
comparáveis” às da YPF.
A YPF é uma empresa hispano-argentina. Em 2007, com o aval do
governo, a Repsol vendeu ações ao grupo argentino Petersen (da família
Eskenazi), que hoje tem 25,4% do total. Como os argentinos não tinham
recursos para financiar a totalidade da compra, negociaram o pagamento
por meio de futuros lucros da empresa – o que os levou a contrair uma
dívida. ABr
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