BRASÍLIA
- Mesmo com a redução das desigualdade, a expressão Belíndia (a
combinação de Bélgica e Índia) para descrever o Brasil e as suas
diversas realidades ainda é válida. O país continua entre os 12 mais
desiguais do mundo, mas, na última década, os 10% mais pobres viram a
sua renda crescer nada menos que 550% mais depressa do que a dos 10%
mais ricos. Os dados constam do comunicado do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) "A década inclusiva (2011-2011):
desigualdades, pobreza e políticas públicas, o primeiro da gestão do
novo presidente da entidade, Marcelo Néri.
Segundo o estudo, enquanto a renda per capita dos brasileiros no
topo da pirâmide subiu 16,6% de 2001 a 2011, os mais pobres tiveram um
ganho de 91,2%. Esta é maior redução das desigualdades documentada no
país desde a década de 60.- Os pobres estão num país como a China e o topo da pirâmide está no equivalente a um país estagnado, como na Europa. O termo Belíndia continua valendo - destacou
Ao todo, 21,8 milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza no período, sendo que 3,7 milhões apenas entre os anos de 2009 e 2011. De acordo com o estudo do Ipea, se o trabalho foi o carro-chefe da redução das diferenças entre ricos e pobreza e justifica 58% da sua queda, as políticas públicas voltadas para os mais pobres também tiveram impacto significativo sobre a renda e custam mais barato aos cofres públicos do que os gastos com a previdência. A previdência foi responsável por 20% da redução das desigualdades, enquanto os rendimentos do Benefício de Prestação Continuada (BPB) e do Programa Bolsa Família, por 4% e 13%, respectivamente.
- Mas cada real gasto com o Bolsa Família tem um impacto sobre a desigualdade 362,7% maior do que a previdência. Já o BPB, de 129,7%. Isso significa que as desigualdades poderiam ter caído ainda mais se o país tivesse feito uma opção mais forte pelos mais pobres - destacou Néri.
Enquanto a renda da população cresceu 40,7% até 2011, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgada na semana passada pelo IBGE, o PIB per capita do país aumentou 27,7%. De acordo com o Ipea, as famílias chefiadas por analfabetos tiveram um aumento de renda de 88,6%, contra uma queda de 11,1% nos rendimentos das famílias cujas pessoas de referência têm 12 ou mais anos de estudo completos.
- Houve um crescimento importante na base para quem tinha mais anos de estudo. No topo, a queda se explica pelo fato de ter havido nestes anos um aumento da oferta de quem tinha nível superior. Não era mais tão exclusivo assim ter mais tempo de estudo - afirmou.
No Nordeste, a renda teve um aumento de 72,8%, contra 45,8% do Sudeste. Entre os negros e pardos, os ganhos foram de 66,3% e 85,5%, respectivamente, enquanto para os brasileiros declaradamente brancos, esse aumento foi de 47,6%. Já a renda das crianças de zero a quatro anos subiu 61%, contra 47,6% daqueles entre 55 e 59 anos, tradicionalmente os que registravam maiores ganhos.
A queda das desigualdades não chega a ser um fenômeno exclusivo brasileiro. Apesar de dois terços dos países do mundo terem vivenciado um aumento das diferenças entre ricos e pobres na última década, China e Índia, países que concentram metade da pobreza do Planeta, puxaram para cima o indicador. Na maioria dos países da América Latina, as diferenças estão caindo. Nos países em desenvolvimento, os BRICS, onde a desigualdade é mais baixa, ela subiu nos últimos anos. O crescimento da renda dos 20% mais ricos no Brasil foi inferior ao de todas as nações incluídas no conceito BRICS. Já a renda dos 20% mais pobres também teve um aumento acelerado, mas ainda perdeu para a China.
"A saga dos chineses e indianos rumo a melhores condições de vida é a similar de analfabetos, negros e nordestinos", diz o documento do Ipea. (O Globo)
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