Os governos do Brasil e dos Estados Unidos precisam remover barreiras antes de
chegar ao desejado acordo de isenção de vistos, disse o ministro das Relações
Exteriores, Antonio Patriota, em visita à capital norte-americana, Washington.
Em entrevista coletiva concedida ontem (24), ao lado da secretária de Estado
norte-americana, Hillary Clinton, ele acrescentou que o fim da exigência não
está próximo.
"Isso aí não será no curto prazo porque envolve uma série de aspectos que
precisam ser muito bem examinados, inclusive um desequilíbrio muito grande entre
o número de brasileiros que visitam os Estados Unidos e os [norte-] americanos
que vão ao Brasil”, disse o chanceler, lembrando que os dois países avançaram
“significativamente” na facilitação das viagens.
Nos dois casos, o tempo de espera de uma entrevista caiu, em média, de 120 a
140 dias para apenas um ou dois dias em decorrência das medidas de ampliação de
quadros e infraestrutura nos consulados e das mudanças de procedimento.
Atualmente, o Brasil conta com dez representações nos Estados Unidos,
enquanto o governo norte-americano anunciou que vai abrir mais duas
representações no Brasil: em Belo Horizonte e em Porto Alegre. O Brasil já é o
terceiro país em emissão de vistos norte-americanos no mundo, atrás apenas da
China e do México. Só neste ano, mais 1 milhão de vistos foram concedidos.
Patriota se reuniu com Hillary, com a secretária do Departamento de Segurança
Interna, Janet Napolitano, e o conselheiro de Segurança Nacional do país, Thomas
Donilon. Após as reuniões, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores,
embaixador Tovar Nunes, disse que o chanceler procurou mostrar que o diálogo
Brasil-Estados Unidos na questão consular "vai além" da isenção do visto.
"É preciso administrar as expectativas para que não haja uma impressão de que
amanhã o assunto já estará resolvido", disse Tovar Nunes. "Algumas questões de
um lado e de outro precisam ser examinadas, inclusive do lado americano um sinal
verde por parte do Congresso", acrescentou, lembrando que o desequilíbrio no
número de visitantes lado a lado é particularmente importante para os Estados
Unidos devido à receita levantada pela emissão das autorizações de viagens.
O governo brasileiro quer evitar que o fluxo de visitantes leve a situações
constrangedoras como a que opôs Brasil e Espanha em decorrência do número de
brasileiros impedidos de entrar no país, já nos aeroportos espanhois. Há ainda
questões técnicas, como a necessidade de intercâmbio de informações que, hoje,
são recolhidas diferentemente de um lado e de outro.
O critério de recusa de vistos – um país precisa ter menos de 3% dos vistos
recusados para entrar no programa de isenção – é um dos "mais fáceis" de ser
atingido, disse o porta-voz do Itamaraty. O percentual de vistos recusados a
brasileiros é hoje em torno de 4%, informou.
Antes mesmo da inclusão no programa de isenção de vistos, o Brasil poderia
fazer parte de outro programa de facilitação de viagens chamado Global Entry,
uma espécie de via rápida de acesso em 20 aeroportos americanos. Os Estados
Unidos mantêm esse programa, voltado para viajantes frequentes, que têm seus
antecedentes checados previamente, apenas com o México e a Holanda.
Os beneficiados ainda precisam se candidatar ao visto e pagar a taxa, mas ao
desembarcar entram em uma fila prioritária. Em março, a diplomacia
norte-americana anunciou a inclusão de 150 brasileiros no programa, em caráter
piloto, por um ano a um ano e meio. Se este primeiro teste for bem-sucedido, a
lista poderia ser ampliada para 1,5 mil pessoas. BBC Brasil
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