O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator da Ação Penal 470,
ministro Joaquim Barbosa, disse hoje (20) que o presidente da Câmara dos
Deputados, deputado federal Marco Maia (PT-RS), não tem o poder de mudar as
consequências das decisões tomadas pelo Supremo no processo do mensalão.
Maia tem dito em entrevistas que o STF não pode interferir na questão do
mandato dos parlamentates condenados na ação - João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro
Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) - e tem visto a execução antecipada
das sentenças com ressalvas. Perguntado sobre a hipótese de abrigar os
condenados na Casa Legislativa, caso as prisões sejam decretadas por Barbosa, Marco Maia não descartou a possibilidade e argunmentou que os parlamentares só podem ser presos em flagrante delito ou depois da condenação transitada em julgado, como prevê a Constituição.
“Acredito que o deputado Marco Maia não será a autoridade do Poder
Legislativo que terá a incumbência de dar cumprimento à decisão. Portanto, o que
ele diz hoje não terá nenhuma repercussão no futuro ou no momento adequado de
execução das penas decididas pelo plenário [do Supremo]”, disse Barbosa, em
entrevista coletiva nesta tarde. "A proposição de medidas dessa natureza, de
acolher condenados pela Justiça nas Casas do Congresso, é violação das mais
graves à Constituição brasileira", acrescentou. A Procuradoria-Geral da República apresentou ontem pedido ao Supremo para a prisão imediata
dos condenados. Barbosa deve decidir amanhã (21) sobre a solicitação.
O ministro ainda negou que o STF esteja cometendo ingerências no Poder
Legislativo, alegando que as condenações do mensalão são conseqüências de crimes
praticados por figuras públicas, e criticou os entendimentos contrários. “É
falta de compreensão do nosso sistema político constitucional, falta de leitura,
de conhecimento, do próprio país, da Constituição, não compreender o
funcionamento regular das instituições. Tudo o que ocorreu aqui nesta semana são
fenômenos normais regulares em um sistema de governo como o nosso”.
Barbosa comentou sobre as declarações de Maia, que vinculou a nomeação ou
cassação de ministros do STF à decisão do Parlamento. “Vivemos em democracia em
que não há lugar para qualquer tipo de ameaças. Trata-se de desconhecimento puro
das instituições políticas brasileiras. Não é o Parlamento quem nomeia ministro
do STF. Quem nomeia é o presidente da República, que ouve o Senado [que sabatina
o indicado ao cargo]”. Sobre possíveis processos de cassação contra ministros da
Corte, Barbosa afirmou que o simples fato de o STF cumprir sua função, julgando
processos criminais, não abre espaço para isso. “Há um erro grosseiro de análise
das instituições brasileiras”, concluiu. ABr
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