ogotá - As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)
comemoram hoje (27) 49 anos de existência. Um dia depois do anúncio de
um acordo sobre o tema agrário entre o governo e a guerrilha, analistas avaliam como positivo o andamento das negociações pelo fim do conflito
O clima de otimismo aparece na aprovação popular ao processo - mais
de 80% da população apoiam as negociações. Além disso, especialistas
apontam mudanças importantes na postura do governo e da guerrilha que
podem conduzir ao desfecho positivo do diálogo. “Ainda que existam vozes
contrárias, vemos elementos que indicam a possibilidade de sucesso do
processo e o maior apoio da sociedade, em comparação às tentativas de
paz anteriores”, disse Victor de Currea-Lugo, professor de ciência
política da Pontifícia Universidade Javeriana da Colômbia e especialista
em conflitos armados.
Ele enumera os pontos favoráveis do diálogo atual, comparando o
processo com a negociação realizada durante o governo de Andrés Pastrana
(1998-2002). À época, as Farc e o governo negociaram na conhecida Zona
de Distensão de San Vicente de Caguán, cidade do departamento de
Caquetá, no Sudeste colombiano.
A região foi desmilitarizada durante a tentativa de negociação. As
conversas fracassaram e deram início a uma fase que intensificou o
ataque militar do governo sobre a guerrilha, no governo de Álvaro Uribe
(2002-2010). “Em Caguán, vimos uma tentativa que ocorreu enquanto o
governo investia em armamento e equipava o Exército. Na época, os dois
lados (conflito e governo) pareciam não estar tão dispostos a abandonar
as armas e chegaram à mesa com menos disposição de ceder do que agora”,
avaliou.
Com relação à guerrilha, o professor também observa uma mudança de
comportamento. Segundo ele, agora as Farc já não falam em construir um
governo socialista. “As Farc conseguiram chegar a exigências mínimas e
deixaram o discurso radical, que a marcou nesses quase 50 anos de
atuação”, acrescentou Lugo.
Após o anúncio do acordo parcial sobre o tema agrário, as rádios e
emissoras de televisão colombianas dedicaram parte da programação a
analisar o comunicado divulgado pelo governo e pelas Farc. Nas redes
sociais também houve manifestações de apoio e críticas ao processo.
A maioria dos comentários no Twitter, na tarde de ontem (26), após o
anúncio dos negociadores, foi de apoio. “Tomara que eles cumpram tudo o
que foi dito nesse discurso” escreveu uma usuária da rede social.
Outro, menos otimista, disse: “Acho difícil isso funcionar, mas mesmo
assim estamos torcendo pela paz”.
Entre os críticos está o analista político Alfredo Rangel, da Universidade Sérgio Arboleda. Ele postou em sua conta no microblog:
"Histórico acordo agrário: uma lista de enunciados sem conteúdo para
enganar a plateia". Rangel é um dos analistas mais respeitados entre os
críticos do processo de paz, como o ex-presidente Álvaro Uribe.
O procurador-geral da Nação, Alejandro Ordóñez, também tem criticado
a condução do processo. Ele acredita que as negociações poderão
favorecer a impunidade e disse que está atento às negociações. No último
sábado (25), Ordóñez disse que irá à Corte Interamericana de Direitos
Humanos, caso a Corte Constitucional do país não declare inexequíveis
algumas partes do Marco Jurídico para a Paz, aprovado no ano passado.
Apesar das críticas, que se intensificam com a proximidade do
período eleitoral – as eleições presidenciais estão previstas para maio
de 2014 -, o sentimento é de que as negociações avançaram e que há
chance para que o processo seja concluído.
O presidente da Fundação Cultura Democrática, professor Álvaro Villarraga, comentou
que o anúncio do acordo parcial é uma “boa notícia”. Ele disse que
ainda que não seja possível saber com exatidão o que o acordo definiu,
pelo resumo divulgado nos comunicados das Farc e do governo é possível
avaliar a dimensão do que está sendo feito.
“Acredito que há vontade política para solucionar a questão agrária –
cerne deste conflito que vivemos. Isto está claro nos discursos e nas
reformas jurídicas que estão sendo preparadas, como a Lei de Vítimas e
de Terras”, comentou.
Ontem (26), o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, também
comentou o processo, mantendo o tom otimista e cauteloso. “Celebramos
este passo fundamental em Havana, em direção a um pleno acordo para pôr
fim a meio século de conflito. Continuaremos com o processo com
prudência e responsabilidade”, escreveu em sua conta no Twitter. ABr
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