A restrição de liminares dadas por apenas um ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), proposta encampada agora pelo ex-presidente da
Câmara Marco Maia (PT-RS), que aumentou o atual mal estar entre o
Legislativo e o Judiciário, já foi defendida no passado pelos principais
líderes da oposição. A ideia chegou a ter apoio, inclusive, de Gilmar
Mendes, ministro do Supremo que, no fim de abril, barrou a tramitação no
Congresso do projeto que limita a criação de novos partidos - medida de
interesse do governo porque evita o fortalecimento dos presidenciáveis
Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva, que tenta viabilizar a sua Rede.
Gilmar decidiu barrar a tramitação do projeto sob o argumento de que
ele não havia sido suficientemente discutido. Foi a partir daí que o
ex-presidente da Câmara decidiu encampar a ideia de limitar as decisões
monocráticas. Os dois fatos - somados à apresentação da PEC 33, do
deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que submete ao crivo do Congresso
decisões do Supremo sobre emendas constitucionais - deram ares de crise à
relação entre os Poderes.
Em 2006, os interesses eram outros. Em meio às investigações do
mensalão pelas comissões parlamentares de inquérito, o então senador
José Jorge (PFL-PE), hoje conselheiro do Tribunal de Contas da União,
apresentou proposta para coibir a concessão de liminares isoladamente
por ministros do STF. O relator da proposta foi o senador cassado
Demóstenes Torres, então no PFL goiano. À época, atos das CPIs, como
quebras de sigilo, eram sempre barradas pelo Supremo em decisões
liminares tomadas monocraticamente.
Coube ao PT, na ocasião, trabalhar contra a aprovação da proposta. O
então senador Aloizio Mercadante (PT-SP), hoje ministro da Educação,
apresentou voto contrário na Comissão de Constituição e Justiça. “O
Supremo está muito sobrecarregado, o pleno tem mais de 120 mil processos
para julgar, as pessoas têm uma expectativa muito grande e a liminar é
exatamente o instrumento provisório para, quando há urgência, o ministro
poder tomar decisão. (...) E é exatamente por isso que ela é um
instrumento indispensável à defesa do cidadão perante o Estado”, disse o
petista durante a discussão do projeto.
O projeto de lei do então PFL, partido que viria a ser rebatizado de
DEM, estabelecia que liminares contra atos do Congresso, como a
concedida na semana passada por Gilmar, só poderiam ser analisadas pelo
plenário da Corte. Somente nos períodos de recesso e “nas causas de
extrema urgência” o ministro do STF poderia, sozinho, conceder a
liminar. Trata-se do mesmo conceito defendido hoje pelo governista Maia e
atacado pelos oposicionistas.
Em seu relatório, Demóstenes dizia que a decisão pelo plenário era
“garantia de um resultado maduro, sensato e razoável”. Afirmava que a
proposta de limitar esse poder do Supremo acabaria “por fortalecer as
instituições democráticas e a harmonia entre os poderes constituídos”. A
ideia, porém, não prosperou.
A atual inversão de papéis entre governo e oposição é motivada não
apenas pela recente decisão de Gilmar contra a tramitação do projeto que
limita a criação de partidos. No ano passado, o ministro do STF Luiz
Fux impediu o Congresso de votar imediatamente a derrubada dos vetos
feitos pela presidente Dilma Rousseff à nova sistemática de divisão dos
royalties do petróleo. AE
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