A Advocacia-Geral da União descarta pedir suspeição do ministro do
Supremo José Antonio Dias Toffoli nos processos movidos pelo Banco
Mercantil do Brasil contra o governo. O órgão alega não ver, "até o
momento", "elementos que justifiquem" o afastamento do ministro da
relatoria dos casos.
De 2007 a 2009, até ser indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ao Supremo, Toffoli comandou a AGU, que representa o governo em
ações judiciais. O atual chefe do órgão, Luís Inácio Adams, sucedeu ao
ministro no cargo.
Como o Estado revelou, o ministro relata ações do
Mercantil, embora tenha obtido no banco, em 2011, empréstimos de R$ 1,4
milhão. Após decisões nos casos, em abril deste ano, a instituição
cortou as taxas de juros de 1,35% ao mês para 1% ao mês, o que assegurou
a ele um desconto de R$ 636 mil no total de prestações, a serem pagas
até 2028.
De acordo com o Código do Processo Civil e o Regimento do
Supremo, cabe arguir a suspeição do magistrado quando alguma das partes
for sua credora. Questionada, a AGU não explicou por que não vê
elementos para pedir afastamento do ministro dos casos. O Estado enviou
ontem questionamentos à assessoria de imprensa do órgão, que não se
pronunciou.
Numa das ações, contra o INSS, o Mercantil tenta ser compensado por
contribuições previdenciárias que, segundo argumenta, não deveria ter
feito. Uma eventual decisão favorável teria impacto sobre toda a sua
folha salarial. Três meses antes dos empréstimos, Toffoli negou recurso
do banco. Depois de obtê-los, suspendeu o processo até decisão em outros
dois casos em que se discute decisão semelhante.
Em outra ação, contra a União, o Mercantil tenta reduzir a alíquota
da Cofins de 4% para 3%. O ministro reconheceu a repercussão geral do
assunto discutido, o que significa que decisão futura no caso servirá de
parâmetro para as demais instâncias do Judiciário em caso parecido.
Para advogados do banco, a decisão é favorável.
Toffoli nega relação entre os processos e a concessão dos
empréstimos, com abatimento dos juros. As prestações somam R$ 16,7 mil
mensais ou 92% da remuneração líquida no Supremo. O ministro sustenta
que seus ganhos não se resumem ao salário, mas se nega a detalhá-los.
Investigação. O Sindicato Nacional dos Funcionários
do Banco Central (Sinal) informou ontem que pedirá à instituição que
fiscalize os empréstimos ao ministro. A entidade quer que o Departamento
de Supervisão Bancária apure se os créditos foram liberados seguindo as
normas do sistema bancário e a política interna do banco.
Também quer saber se foram firmadas operações "atípicas", em
condições semelhantes, que possam comprometer a saúde financeira do
Mercantil. Na próxima terça-feira, o sindicato enviará o pedido para que
o BC faça diligências no banco, que tem sede em Minas e atuação
discreta em Brasília, com apenas uma agência. "Isso tem a ver com a
imagem do BC, pois a responsabilidade de fiscalizar é dele", justifica o
presidente do Sinal, Daro Piffer.
Para empréstimos semelhantes, em geral, os bancos privados permitem
que as prestações comprometam até 50% da renda comprovada. Quando se
trata de operações em valores altos, como no caso das de Toffoli, é
preciso enviar comunicação ao Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, especificando se o cliente
é pessoa "politicamente exposta".
O Mercantil não fornece detalhes da negociação com o ministro,
justificando que a operação é protegida por sigilo bancário. Para
Piffer, o ministro deveria dar mais explicações. "É uma pessoa pública,
quem paga o salário é o contribuinte, e ele tem de dizer quais são as
rendas dele", afirma.
O BC não informou se vai investigar os empréstimos. O Mercantil não respondeu a questionamentos enviados ontem pelo Estado.
AE
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