Prevista para ir à votação final na tarde desta quarta-feira, 2, pelo
Senado, e mesmo diante da pressão da opinião pública, a proposta de
emenda à Constituição (PEC) que institui o voto aberto para todas as
modalidades de votação no Poder Legislativo pode ter ainda um longo
caminho a percorrer no Congresso Nacional. A Casa decidiu devolver a PEC
para ser apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça, colegiado
que duas semanas atrás havia aprovado a mesma matéria.
A maior dificuldade para apreciar o tema se deve à falta de consenso
entre os parlamentares sobre quais tipos de votações devem ser abertas.
Outra disputa decorre da briga de bastidores entre congressistas,
principalmente da base e da oposição, quanto à "paternidade" da
proposta, uma vez que há PECs nas duas Casas Legislativas que tratam do
assunto.
Após a conclusão nesta quarta do prazo de cinco sessões regimentais
para que a proposta estivesse apta para ser votada em plenário, o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou que a pauta do
plenário estava trancada pela Medida Provisória que abria crédito
extraordinário de R$ 1,5 bilhão municípios, matéria legislativa que
geralmente passa pela Casa sem quaisquer divergências em votações. Ele
justificou que não havia acordo entre os líderes partidários para
apreciar a MP, o que impediria a análise logo em seguida da PEC do voto
aberto.
Renan Calheiros também disse que a Mesa Diretora do Senado havia
recebido novas emendas à proposta. Pelo regimento da Casa, as novas
emendas remeteriam a PEC mais uma vez para a CCJ, que terá prazo de até
30 dias para dar seu parecer. As emendas, entretanto, dizem respeito à
manutenção de votações secretas para modalidades como a escolha de
autoridades e a apreciação de vetos presidenciais, deixando apenas o
voto aberto para cassação de mandato parlamentar. Esses debates já
haviam sido feitos pela própria comissão.
Após a mudança na análise da PEC, senadores protagonizaram troca de
acusações. O vice-líder do PSDB na Casa, Alvaro Dias (PR), questionou o
motivo de a Câmara dos Deputados estar adiando a votação de outra PEC,
de sua autoria e já aprovada pelo Senado, que prevê o voto aberto apenas
para perda de mandato. Segundo ele, há uma "manobra escusa" para se
"beneficiar os mensaleiros" condenados pelo Supremo Tribunal Federal. "É
hora de o PT na Câmara dos Deputados apresentar sua justificativa e
explicar porque não quer a aprovação daquela proposta. A aprovação
daquela não exclui a mais abrangente", disse.
O senador petista Walter Pinheiro (BA) rebateu. Segundo ele, não se
pode reclamar da Câmara não ter votado uma PEC, sendo que há uma
proposta pronta para ir à votação final no Senado. "Vamos fazer a nossa
parte, não temos nada a ver com ninguém", disse Pinheiro. Caso o Senado
aprovasse nesta noite a PEC do voto aberto irrestrito, que foi
apresentada em 2001 pelo ex-deputado Fleury Filho, ela iria diretamente à
promulgação. Se as novas emendas forem aceitas, ela terá de retornar
mais uma vez para a Câmara dos Deputados.
O relator da PEC na CCJ, senador Sérgio Souza (PMDB-PR), afirmou em
plenário que estaria apto a discutir o assunto em plenário. "Se fosse
para dar parecer aqui, estaria pronto porque conheço bastante a
matéria", disse. Ele afirmou que até quarta-feira, 9, dia da próxima
sessão ordinária da comissão, estará pronto para dar seu parecer sobre
as novas emendas.AE
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