Sobrou apoio popular, faltou 'timing' político

Para entender o sufoco que a Rede Sustentabilidade passa nesta reta final é preciso voltar a 2011. Em julho daquele ano, a ex-senadora Marina Silva e seu grupo, apelidados de “sonháticos”, deixaram o PV e começaram a articular um movimento suprapartidário. Marina acabara de sair das eleições presidenciais com um capital de quase 20 milhões de votos, mas negava a intenção de criar uma nova sigla.
Foi só em fevereiro deste ano que o grupo oficializou a criação da Rede e deu início a coleta das 492 mil assinaturas necessárias para pedir o registro na Justiça Eleitoral. Apoiadores da sigla dizem agora que, se houvesse mais 15 ou 20 dias, o número de assinaturas exigido seria ultrapassado. Mas o tempo se esgotou. O pedido vai ser julgado nesta quinta-feira, 3, pelos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a aprovação da Rede depende, agora, de uma exceção jurídica.
Diante da hipótese de ver a Rede naufragar, parte dos aliados de Marina admite, reservadamente, que a decisão de transformar o movimento “Nova Política” em um partido foi tardia. Outros, no entanto, defendem que tudo foi feito dentro do tempo necessário para o amadurecimento programático.
12 mil voluntários
Assim que optaram pela criação da Rede, os articuladores da sigla deram declarações de que estava cientes do desafio que teriam pela frente. Pelas redes sociais, começaram a recrutar colaboradores pelo País e conseguiram reunir um grupo de 12 mil pessoas que ajudaram no processo de coleta de assinaturas. O grande número de voluntários, nos cálculos da Rede, iria compensar a falta de políticos profissionais, já que apenas três deputados apoiaram a ideia desde o início.
O trabalho demorou para engrenar, mas deu resultados. O grupo diz ter conseguido levantar mais de 900 mil fichas de apoio. Depois de uma triagem, encaminhou cerca de 660 mil aos cartórios. Segundo a Rede, a matemática não fecha porque os cartórios descumpriram o prazo de 15 dias para a validação das assinaturas e invalidaram apoiamentos sem justificativa.
Comparar o processo da criação das duas siglas que foram aprovadas pelo TSE na semana passada com a de Marina ajuda a perceber porque a ex-senadora enfrenta tantas dificuldades.
O Solidariedade começou a ser articulado em outubro do ano passado. Foram só quatro meses de diferença, mas, nesta reta final, dariam o fôlego que a Rede tanto precisa. Outra diferença é que a sigla, liderada pelo deputado Paulinho da Força, contou com o apoio de outros 15 parlamentares e de toda a estrutura dos 2,1 mil sindicatos que formam a Força Sindical.
O PROS tem uma história mais peculiar. O ex-vereador de Planaltina de Goiás (GO) Eurípedes Júnior começou a recolher assinaturas em 2010. Foram três anos viajando pelo País até coletar 1,5 milhão de assinaturas e conseguir o registro.
O caso do PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, destoa da regra. Ele lançou o partido em março de 2011 e em junho anunciava que já havia coletado mais de 1,2 milhão de assinaturas. A sigla do ex-prefeito contava com o apoio de um grande número de políticos profissionais. O partido foi aprovado em setembro daquele ano.AE
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