A maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vê com
“dificuldade” a criação do partido a tempo da ex-senadora Marina Silva
disputar a eleição de 2014 pelo fato de a Rede Sustentabilidade não ter
conseguido alcançar o número mínimo de apoios exigidos pela lei. Nesta
quinta-feira, 03, os ministros da corte decidem o futuro da Rede. Quatro
dos sete integrantes do TSE afirmaram ao Estado que o problema é
aritmético, e não jurídico, e avaliaram que a tendência é negar o
registro.
A presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, disse que não pode
antecipar expectativas e o voto que vai dar no caso da Rede, mas
sinalizou com uma sugestão à ex-senadora. Na opinião da ministra, para
que Marina se candidate à Presidência - o que “seria legítimo e bom para
o povo” -, a Constituição exige apenas que ela esteja filiada a um
partido. “É legítimo ela buscar já um grupo que tenha essa afinidade de
discurso”, afirmou, ao ressaltar que o País tem 32 partidos que poderiam
servir de opção a Marina.
“É claro que esse partido (a Rede) representaria uma trajetória, uma
vertente a que ela se propõe, mas eu tenho certeza que ela tem uma força
muito maior do que apenas essa circunstância”, completou.
O TSE deve julgar hoje o pedido de criação da Rede. Pelos dados do
tribunal, Marina Silva só conseguiu coletar 442.534 assinaturas. Desse
total, 339.827 foram registradas nos cartórios eleitorais e 102.707
encaminhadas aos Tribunais Regionais Eleitorais. De acordo com a Lei
Eleitoral, o mínimo exigido para criação de um partido são 492 mil
apoiamentos. Por conta disso, o vice-procurador eleitoral, Eugênio
Aragão, deu parecer contrário à criação do partido.
‘Criatividade jurídica’
Apesar da tendência da maioria, alguns dos ministros ouvidos ainda
deixam em aberto o voto apostando que em eventual “criatividade
jurídica” que possa constar no relatório da ministra Laurita Vaz. A
ministra deve abrir a sessão desta quinta-feira no TSE com a leitura do
parecer do processo de registro da Rede. Essa será a última audiência
ordinária da corte antes do dia 5 de outubro, prazo final para criação
de legendas que estarão aptas a disputar a eleição de 2014.
O ministro Gilmar Mendes fez ponderações sobre o caso. “Vamos
examinar em função das alegações que são feitas de que teria havido aqui
e acolá abusos na rejeição (de assinaturas). Há exemplos que estão
sendo mostrados (de abusos). Isso tem de ser examinado e o TSE está
sendo muito criterioso.”
Mendes não é membro titular do TSE, mas participará do julgamento em
razão da ausência do ministro Dias Toffoli, que fará viagem para
representar oficialmente o TSE. O ministro afirmou que aguardará o voto
da relatora, ministra Laurita Vaz, para decidir se libera ou não a
criação do partido.
Pesar coletivo
Em meio a um cenário controverso para a Rede, alguns ministros já
ensaiam nos bastidores um discurso de que não estão contra a candidatura
de Marina, mas apenas seguindo as regras. O próprio
vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, recorreu a argumentos
que fogem da questão jurídica ao publicar com “certo pesar” que Marina
não obteve o número mínimo de assinaturas. “Há que ser registrado certo
pesar pela não obtenção dos apoiamentos necessários à criação da
agremiação em questão”, argumentou Aragão.
O pesar se deve ao peso eleitoral da ex-senadora, fator que pode ser
considerado no dia do julgamento, tornando a decisão mais política do
que jurídica. Nas últimas eleições presidenciais de 2010, mesmo com uma
pequena estrutura partidária, em comparação com os demais candidatos,
Marina atingiu cerca 20 milhões de votos, sendo a responsável por levar a
disputa ao segundo turno. Atualmente, ela figura em segundo lugar nas
pesquisas atrás apenas da presidente Dilma Rousseff.
Um desfecho desfavorável a Marina na Justiça Eleitoral e ela mantendo
o discurso de que não há plano B, abre-se a temporada pela disputa do
patrimônio eleitoral da ex-senadora por aqueles que deverão disputar a
Presidência em 2014.AE
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