Transgênicos e agrotóxicos pautam debates no Congresso Brasileiro de Agroecologia, na Capital

"A luta contra os agrotóxicos e transgênicos: impactos e perspectivas" foi o tema do debate realizado na manhã desta terça-feira (26), no auditório principal do Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre, no segundo dia do VIII Congresso Brasileiro de Agroecologia. O evento tem apoio do Governo do Estado, por meio da Emater/RS- Ascar.
As palestras ficaram a cargo do professor e pesquisador da Universidade de Mato Grosso e membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Wanderlei Antônio Pignati, do membro do Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade - Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (GEA-Nead) e representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Leonardo Melgarejo, e do integrante da Rede de Ação em Praguicidas e suas Alternativas para a América Latina (Rapal), Javier Souza.

Conforme dados apresentados pelo professor Pignati, o Brasil utilizou na safra 2012/2013 cerca de 1 bilhão de litros de agrotóxicos, colocando o país como o maior consumidor mundial destes produtos. "E temos que levar em consideração que cada litro de agrotóxico é diluído em 100 litros de água. Imaginem o volume destes venenos despejados no meio ambiente", questionou.

Monoculturas e efeitos ao meio ambiente e à saúde
Ao analisar os mapas de consumo e o de produção agrícola, Pignati verificou que as áreas de maior utilização de agrotóxicos são aquelas onde se concentram os principais Estados produtores de monoculturas, como soja, milho e algodão, especialmente em grandes áreas.
"Em propriedades de até 10 hectares, somente 27% dos produtores utilizam agrotóxicos. Em áreas acima de 100 hectares, este índice salta para 80%", explica. Pignati falou ainda que a evolução da área cultivada e da produtividade no Brasil não justifica o crescimento exponencial do uso de agrotóxicos.

Outro aspecto abordado pelo professor da Universidade de Mato Grosso foram os efeitos dos agrotóxicos ao meio ambiente e à saúde humana. "Estudos feitos de 2007 a 2011 demonstram que as intoxicações agudas estão aumentando: dobrou em homens e triplicou em mulheres. Foram mais de 33 mil intoxicações notificadas e se sabe que, para cada caso registrado, existem outros 50 não notificados".
Segundo estudos apresentados, os agrotóxicos causam problemas psiquiátricos, neurológicos, depressão e mutagênicos, estando ligados também à ocorrência de câncer, malformações, suicídios e abortos.

Práticas alternativasO engenheiro agrônomo Javier Souza, responsável pela Rapal - uma instituição argentina que congrega ONGs, universidades e entidades da sociedade civil e promove ações de investigação, sensibilização, capacitação e intercâmbio de saberes e práticas, além da difusão de alternativas agroecológicas em diversos países da América latina -, falou sobre a "artificialização da natureza", conceito utilizado por ele para descrever a alteração dos ciclos, fluxos e das relações com a natureza pela tecnologia, abrangendo aspectos sociais, ambientais e econômicos.
"A tecnologia tem sido tratada como elemento indispensável para a agricultura, o que tem causado alguns problemas, como os relacionados às resistências genéticas", observou Souza.
Além da questão dos transgênicos, Souza tratou da problemática dos agrotóxicos: uso excessivo; atividades em que são usados; ausência de controle, fiscalização e monitoramento; contaminação dos alimentos; e impactos para a saúde.
"O mercado de agrotóxicos na Argentina passou de 120 milhões de litros, em 1997, para cerca de 300 milhões de litros, atualmente", destacou. Segundo Souza, são as crianças as mais prejudicadas pelos agrotóxicos. "Elas começam a ser contaminadas ainda durante a sua formação e depois são alimentadas por leite materno com resíduos de venenos", afirma.

Transgênicos
O painel foi fechado pela palestra com o representante do GEA-Nead/MDA, Leonardo Melgarejo, que se deteve às questões relacionadas aos Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
Conforme Melgarejo, o uso de variedades transgênicas na agricultura têm sido um dos principais responsáveis pelo crescimento vertiginoso da consumo de agrotóxicos no país, havendo a necessidade de se utilizar produtos cada vez mais fortes e tóxicos devido à resistência criada por plantas e pragas.

Segundo Melgarejo, não houve um ganho significativo com a introdução e liberação de variedades de soja transgênica no país. "O ganho anterior [à liberação] não é inferior ao que temos agora", afirmou.

Estudos insuficientes e elaborados pelos próprios interessados; pesquisas inadequadas e de curto prazo; desprezo a normas da CTNBio, como não realizar testes a longo prazo e em animais em gestação; omissão de dados necessários para conferência dos resultados apresentados; e descaso a aspectos socioeconômicos são apontados por Melgarejo como as principais problemas relacionados à questão dos transgênicos no Brasil, segundo informações do governo estadual.
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