A deputada venezuelana Maria Corina, hoje principal líder da oposição
ao governo de Nicolás Maduro, chegou nesta quarta-feira, 2, a Brasília
para participar de uma audiência pública no Senado. Corina, que teve o
mandato cassado na semana passada, disse esperar o apoio do povo
brasileiro. Questionada se esperava uma posição mais clara do governo do
Brasil, respondeu que "o tempo para a indiferença já passou".
"O
regime do senhor Maduro nessas últimas semanas passou uma linha
vermelha. No passado se tratou de enterrar as violações da democracia e
dos direitos humanos, mas, graças ao movimento dos estudantes, se tirou
essa fachada e o mundo pode ver o que acontece com os testemunhos nas
redes sociais e os meios de comunicação internacionais", afirmou ao
chegar no aeroporto de Brasília. "Na Venezuela, não há democracia. Há um
regime que atua como uma ditadura e por isso não há espaço para a
indiferença. Porque a indiferença seria a cumplicidade."
Maria
Corina teve seu mandato cassado em uma sessão em que estavam apenas
deputados governistas. A alegação é que a parlamentar feriu a
Constituição ao aceitar usar o assento do Panamá na Organização dos
Estados Americanos (OEA) para falar sobre a situação de seu país. O
depoimento não aconteceu, mas a Suprema Corte ainda assim manteve a
cassação. Maria Corina se nega a aceitar a decisão. "Eu sigo sendo
deputada. Eu sou porque assim o decidiu o povo venezuelano e nem o
senhor Maduro nem o senhor Cabello (Diosdado Cabello, presidente do
Congresso) tem o poder para destituir um deputado. É uma aberração, é um
ato que só acontece em ditaduras", afirmou.
Na semana
passada, Maria Corina encontrou com o presidente a Comissão de Relações
Exteriores do Senado, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), em Lima, no
Peru, e foi convidada a falar ao parlamento brasileiro. "Eu fiquei muito
chocado com o que ouvi", explicou o senador. A deputada estará às 14h
no Senado e amanhã irá para São Paulo, onde conversará com um grupo de
venezuelanos.
"Esse é uma oportunidade que me deu o senador
Ferraço para que a voz de toda a Venezuela seja ouvida e a verdade
sobre o que acontece no nosso país possa ser conhecida de primeira
fonte, porque nós estamos vivendo e sofrendo, disse. "Os valores como a
democracia, a institucionalidade, que são tão arraigados no Brasil estão
profundamente enterrados na Venezuela. Por isso precisamos tanto de
vocês, das suas vozes no parlamento, por isso estou tão agradecida."
Maria
Corina foi recebida por Ferraço e por dois venezuelanos. Luis Flores,
morador de Brasília, e Heitor Aguilera. O último, economista que mora em
São Paulo, tirou um dia de folga para vir a Brasília receber a
parlamentar e entregou a ela um buquê de rosas brancas. "Na Venezuela
não tem democracia e nem se pode chamar de ditadura. É simplesmente um
país falido, é pior que uma ditadura", disse. "A deputada representa a
Venezuela do futuro, da paz, do diálogo. Como cidadão, não posso deixar
de demonstrar meu apoio", disse. AE
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