A presidente Dilma Rousseff rebateu nesta segunda-feira, 21, a
declaração do ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli de que
ela "não pode fugir da responsabilidade" sobre a compra da refinaria de
Pasadena, nos Estados Unidos. Dilma, por meio de seu ministro da Casa
Civil, Aloizio Mercadante, reafirmou ter aprovado o negócio em 2006 com
base em um resumo executivo que não continha duas cláusulas importantes
do contrato.
Para evitar que o conflito se
estenda ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem Gabrielli é
próximo, Dilma aproveitou mais cedo o seu programa semanal de rádio para
enaltecer a gestão petista à frente da Petrobrás.
A
entrevista de Gabrielli ao Estado, publicada no domingo, irritou Dilma
por causa da cobrança feita pelo ex-presidente da companhia. Ontem ela
acionou Mercadante por telefone e pediu que ele divulgasse seu
posicionamento.
"Como já foi dito pela presidente e demais
membros do Conselho de Administração da Petrobras, eles assumiram as
suas responsabilidade nos termos do resumo executivo que foi apresentado
pelo diretor internacional da empresa", disse o ministro ao Estado.
"Este episódio está fartamente documentado pelas atas do conselho que
demonstraram que os conselheiros não tiveram acesso às cláusulas Marlim e
Put Option e não deliberaram sobre a compra da segunda parcela.
Gabrielli, como presidente da Petrobras à época, participou de todas as
reuniões do conselho e assinou todas as atas que sustentam integralmente
as manifestações da presidente."
A compra aprovada por
Dilma foi de 50% da refinaria em 2006 por US$ 360 milhões. A cláusula
Put Option obrigava a Petrobras a adquirir a outra metade da belga Astra
Oil em caso de desacordo comercial, enquanto a Marlin previa uma
rentabilidade mínima à sócia devido a investimentos que seriam feitos
para que a refinaria passasse a processar óleo pesado, como o produzido
no Brasil.
Após uma disputa na justiça norte-americana, o
negócio acabou custando US$ 1,25 bilhão à estatal brasileira. Em 2005, a
Astra tinha comprado a mesma refinaria por US$ 42,5 milhões. Segundo a
Petrobras, porém, a empresa belga teve outros gastos e teria investido
US$ 360 milhões antes da parceria.
A manifestação da
presidente expõe as contradições entre as versões defendidas por Dilma e
a atual presidente Graça Foster e a gestão anterior da companhia:
Gabrielli e o ex-diretor internacional Nestor Cerveró. Dilma e Graça
culpam a omissão das cláusulas pelo prejuízo de US$ 530 milhões
registrado no balanço da companhia, enquanto Gabrielli e Cerveró
atribuem à crise financeira internacional, às mudanças no mercado de
petróleo e à falta de investimento os problemas no negócio.
Na
entrevista, Gabrielli afirmou que a "presidente Dilma não pode fugir da
responsabilidade dela, que era presidente do Conselho" na época. Ele
concordou que o relatório preparado por Nestor Cerveró foi "omisso" ao
deixar as duas cláusulas de fora, mas afirmou que isso "não é relevante
para a decisão do Conselho". O ex-presidente da Petrobras disse
acreditar que o órgão presidido por Dilma aprovaria a compra mesmo se
soubesse das duas cláusulas. Na Câmara, Cerveró já tinha feito um
discurso na mesma linha de Gabrielli.
Dilma, porém, insiste
que o posicionamento seria diferente. Em nota ao Estado no mês passado,
afirmou que baseou sua decisão em um resumo "técnica e juridicamente
falho". Alinhada com Dilma, a atual presidente da Petrobras sustentou,
na semana passada, que a diretoria comandada por ela não teria também
dado o aval à compra, que na visão de Graça Foster "não foi um bom
negócio".
‘Renascimento’. Com a exposição cada vez maior
das diferentes versões, Dilma tenta adotar uma linha de defesa da
Petrobras e exaltar o que considera acertos da gestão petista em um
aceno a Lula, Gabrielli e ex-integrantes da companhia.
No
programa de rádio Café com a Presidenta, defendeu o papel da estatal no
que definiu como "renascimento" da indústria naval brasileira e elogiou o
antecessor. "Graças à política de compras da Petrobras iniciada no
governo Lula e desenvolvida no meu governo, renasceu uma indústria naval
dinâmica e competitiva, que irá disputar o mercado com as maiores
indústrias do mundo", disse.
A política destacada por
Dilma, porém, não tem sido capaz de atender às demandas da estatal. O
Estado mostrou no domingo que a Petrobras transferiu a conclusão de duas
plataformas de exploração de petróleo para o estaleiro Cosco, na China,
para tentar garantir o cronograma de produção do pré-sal da Bacia de
Campos. O Sindicato de Metalúrgicos do Rio de Janeiro estimou a perda de
5 mil postos de trabalho com a medida. AE
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