BC mantém Selic em 11% "neste momento", mesmo com inflação ainda elevada

 Ainda que a inflação siga em níveis elevados, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira manter, "neste momento", a taxa básica de juros em 11 por cento ao ano, encerrando o ciclo de aperto monetário mas deixando a porta aberta para voltar a subir a Selic em pouco tempo.
Em comunicado, o Copom informou que "avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11 por cento ao ano, sem viés".
A decisão, tomada numa reunião que durou quatro horas e meia, foi unânime e veio em linha com o esperado. Pesquisa da Reuters mostrou que 48 de 58 analistas consultados esperavam a manutenção da Selic agora.
Mesmo assim, para muitos economistas o Copom pode estar se arriscando ao parar de subir a Selic agora, com as expectativas de inflação elevadas por muito tempo ainda e rondando o teto da meta do governo, que é de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos. Pesquisa Focus do BC com economistas de instituições financeiras mostra que, pela mediana, o IPCA deve fechar com alta de 6,47 por cento neste ano e de 6 por cento em 2015. Diante deste cenário, já existem apostas de que o BC terá de voltar a elevar a Selic no fim deste ano, após as eleições, ou no início do próximo, o que foi reforçado com o comunicado desta noite.
"A única surpresa foi o 'neste momento'... porque a decisão de manutenção era antecipada. Mostra um Banco Central preocupado com a trajetória da inflação", afirmou o economista-chefe do banco J. Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall. "A possibilidade de subir o juros ocorre a partir do desfecho da eleição, já na reunião (do Copom) de outubro." Dirigentes do BC têm argumentado que os efeitos da política monetária ocorrem com "defasagens" e que a recente inflação nos preços dos alimentos é temporária, balizando a decisão de parar de subir os juros. Mas, por outro lado, o BC demonstra forte preocupação com a inflação de preços administrados e calcula que ela ficará em 5 por cento neste ano.
"A gente está bastante cético com inflação... Então o próximo passo da autoridade monetária vai ser um novo ciclo de elevação do juro (no final do ano)... O 'neste momento' pode incomodar um pouco o mercado. Pode dar a entender a alguns de que essa decisão de agora é muito temporária, vinculada ao momento agora, sem comprometimento com as próximas reuniões", afirmou a economista do Santander Brasil Tatiana Pinheiro.
Pesa ainda para o BC, segundo avaliação de parte dos agentes econômicos, o fraco desempenho da economia neste ano. Com mais altas de juros, a atividade poderia ser ainda mais afetada via consumo, justamente quando a presidente Dilma Rousseff tenta a reeleição.
MAIS DURADOURO
O BC iniciou este ciclo de aperto monetário em abril de 2013, quando a Selic estava na mínima histórica de 7,25 por cento, para tentar domar a inflação elevada. A última alta foi em abril, quando trouxe a taxa para o atual patamar de 11 por cento. Mesmo com a pressão sobre os preços ainda forte, o BC decidiu interromper agora o movimento, que se tornou o que durou mais tempo. O mais longo antes desse ocorreu entre 2004 e 2005, quando a autoridade monetária também elevou a Selic em 3,75 pontos, a 19,75 por cento ao ano, em nove altas seguidas, como agora. Naquele momento, no entanto, as reuniões do Copom eram mensais ainda; elas passaram a ser a cada cerca de 45 dias somente a partir de 2006. AE
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