Morador de rua cuida da limpeza do estádio em Porto Alegre
César trabalha no Beira-Rio e dorme embaixo de viaduto
Entre centenas de funcionários temporários contratados pela Fifa para a Copa do Mundo no Beira-Rio, em Porto Alegre, poucos carregam a credencial da entidade como se fosse uma relíquia. Não se trata de orgulho por trabalhar para a entidade que comanda o futebol mundial, mas medo de ter de pagar uma "fortuna" de US$ 200 em caso de perda. César Augusto Martins, 31 anos, não tira o crachá nem para dormir. No caso dele, porém, há um contexto que agrava a situação: ele é morador de rua e dorme embaixo do viaduto Otávio Rocha, no Centro de Porto Alegre.
Nascido em Uruguaiana, ele é carpinteiro e se inscreveu no Sistema Nacional de Empregos (Sine) para concorrer às vagas de serviço de limpeza do estádio. A única exigência era de que o candidato não tivesse ficha na polícia.
Conseguiu o trabalho e atualmente enfrenta um turno de 12 horas de trabalho pela noite e madrugada na empresa contratada pela Fifa para o serviço, sete dias por semana, por uma remuneração mensal de R$ 800.
“Limpo os banheiros, os vidros, limpo o estádio por dentro e por fora.
Quando consegue, César dorme em albergues. Mas ele mesmo admite que vive na rua por opção, já que seu pai mora no bairro Restinga, na Zona Sul de Porto Alegre.
"Não me dou com ele, nem com a minha madrasta. Pelo menos não passo fome”, afirma, referindo-se aos voluntários que passam pelo local todos os dias oferecendo comida. "Aqui na rua não me incomodo. Não me importo nem com o barulho dos carros".
Apesar de passar as noites na rua, não reclama de cansaço, nem do movimento em uma das vias mais movimentadas da capital. Só se mostrou assustado em meio ao protesto que passava pelo local na tarde de segunda (23), quando cerca de 80 manifestantes fizeram um ato contra a Copa do Mundo no Brasil.
Mesmo trabalhando no maior evento que Porto Alegre já recebeu, César considera o serviço como qualquer outro. "O funcionário também não tem direito a nada. Não pode olhar o jogo, não ganha ingresso", reclama.
A empresa que terceirizou os serviços de limpeza do Beira-Rio para a Fifa, a qual contratou César, é a KM Limpezas Especiais. Ao G1, a KM confirmou ter contratado moradores de rua como uma oportunidade de inclusão, mas não pôde confirmar o nome de César Augusto Martins Alves como funcionário. Segundo a empresa, há um contrato de confidencialidade e sigilo assinado com a Fifa.
G1
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