Dias que precedem eleições são ainda mais emocionantes em um Estado com características singulares: o Rio Grande do Sul é único que não reelegeu governador desde 1998 e onde raramente os resultados são previsíveis antes do pleito. Às vésperas da semana em que boa parte dos votos é decidida, a artilharia de cada um dos três principais concorrentes ao Palácio Piratini já está posicionada.
José Ivo Sartori (PMDB) ambiciona ser um terceiro elemento forte o bastante para quebrar a polarização formada pelas candidaturas de Ana Amélia Lemos (PP) e Tarso Genro (PT) e ir para o segundo turno. Quer passar a imagem de um "gringo" competente, mas bem-humorado, com um jingle divertido e frases de discursos mais próximas do público.
Empatado com Ana Amélia, segundo pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira, Tarso Genro (PT) aposta no destaque a programas sociais para as classes mais baixas, procurando ficar colado à imagem da candidata à reeleição na Presidência, Dilma Rousseff (PT).
Enquanto o petista deve seguir pedindo explicações para Ana Amélia (PP) quanto às polêmicas envolvendo uma fazenda em Goiás e o cargo de confiança (CC) que ela exercia no gabinete do marido no Senado na década de 1980, a adversária planeja ignorar as provocações. Até a semana passada, quando Ana Amélia estava à frente nas pesquisas, o clima era de euforia nos bastidores da campanha.
No discurso oficial, o tom foi sempre de cautela, de que ainda há muito trabalho até a decisão na urna. Com a divulgação dos dados do Datafolha, que apontou empate entre Ana Amélia e Tarso, não se descarta rever alguns planos para a próxima semana.
Rafael Madeira, cientista político e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), lembra que o Estado costuma ter uma eleição peculiar em que sempre aparece uma oposição forte ao governo que amplia a tensão na disputa. Por aqui, a tradição também é de escolher o candidato nos últimos dias. Madeira acrescenta a essa constatação a proporção que a corrida ao Palácio do Planalto tomou após a morte de Eduardo Campos, com Marina Silva (PSB) ultrapassando Aécio Neves (PSDB), atrasando ainda mais as escolhas para os governos locais.
César Steffen, professor do curso de Publicidade da UniRitter, aposta que os próximos dias serão de campanhas mais agressivas:
– Essa virada repentina faz com que o candidato que está ganhando posição intensifique o tom da campanha que se mostrou positiva e o que está perdendo posição, reveja as estratégias. É uma hora em que novos fatos tendem a aparecer para tentar uma virada.
Steffen avalia que as propostas dos concorrentes estão mais vazias, apresentando temas de interesse, mas sem ações concretas:
– Até porque os cofres públicos estão estourados e também eles não têm certeza de que seus projetos serão aprovados. Eles não querem se comprometer. Não deve ser diferente nos próximos dias.
Discursos de esperança e de transformação
É nas redes sociais que as intenções dos candidatos devem ganhar força, quando militantes levantam polêmicas envolvendo os adversários, aquecendo os debates informais.
Assim como Steffen, a professora de Marketing Político e Eleitoral do Curso de Relações Públicas da PUCRS, Souvenir Dornelles, nota um discurso de promoção da mudança em quase todos os candidatos. Para a professora, há influência direta, em um discurso quase místico de esperança e transformação, das manifestações do ano passado:
– É o reflexo de um 2013 tenso, em que o governo se deu conta de que o povo atualmente tem outra postura e consegue se posicionar quando quer.
As pesquisas têm mostrado que uma camada silenciosa vai se manifestar nas urnas. De acordo com o último Datafolha, são 14% indecisos e 4% de brancos ou nulos.
– Esse também é um reflexo pós-manifestações. Ouve-se um discurso geral de que o voto será por eliminação porque não existe um candidato ideal – pondera Souvenir.
Ana Amélia31% na última pesquisa Datafolha
Clima de "já ganhou" em xequeNa semana que passou, nos bastidores da campanha de Ana Amélia Lemos circulava um clima de "já ganhou". No debate da TV Pampa, a candidata encerrou a sua participação dizendo que os adversários podem "espernear" que ela vai ganhar a eleição. Integrantes da coordenação de campanha mostram preocupação com o "salto alto":
— O clima é de muito trabalho, isso sim – disse Marco Aurélio Ferreira, o coordenador. Presidente do PP, Celso Bernardi disse que o empate revelado na última sexta-feira pelo Datafolha não deve mudar os planos para a última semana:
— Não devemos mudar toda uma estratégia só por causa de uma pesquisa.
— O clima é de muito trabalho, isso sim – disse Marco Aurélio Ferreira, o coordenador. Presidente do PP, Celso Bernardi disse que o empate revelado na última sexta-feira pelo Datafolha não deve mudar os planos para a última semana:
— Não devemos mudar toda uma estratégia só por causa de uma pesquisa.
Sem bate-bocaOs responsáveis pela campanha dizem que a candidata não deve responder a provocações, referindo-se às propagandas de Tarso Genro que cobram explicações de Ana Amélia sobre as polêmicas envolvendo uma fazenda em Goiás e um cargo de confiança ocupado no gabinete do seu marido no Senado, em 1986.
– Não vamos reagir porque são mentiras. Vamos apostar em dizer que algo bom vai acontecer para o Estado – argumentou Bernardi.
– Não vamos reagir porque são mentiras. Vamos apostar em dizer que algo bom vai acontecer para o Estado – argumentou Bernardi.
Foco na Região Metropolitana e CapitalA partir deste final de semana, caravanas percorrerão Porto Alegre e Região Metropolitana. Na quinta-feira, a candidata deve ir ao Interior para o ato de encerramento da campanha, em Lagoa Vermelha.
Tarso Genro31% na última pesquisa Datafolha
Atacar Ana AméliaO programa eleitoral de Tarso Genro deve seguir explorando o pedido de explicações a Ana Amélia sobre não ter declarado uma fazenda em Goiás e de que ela ocupou um cargo em comissão no gabinete do marido. O coordenador do programa de governo de Tarso, Marcelo Danéris, diz que as críticas mais fortes a Ana Amélia serão focadas no plano de governo.
Colar na imagem de DilmaNa reta final, deverão intensificar a imagem de Tarso colada à de Dilma. Os coordenadores de campanha querem deixar claro à população que os dois têm o mesmo programa de governo e que as obras federais em execução no Estado são resultado da afinidade entre os dois projetos. Depoimentos da presidente elogiando Tarso serão explorados no horário eleitoral da TV.
Investir nos bairros mais humildesUma das principais estratégias é investir na busca por votos da classe C, que mais foi beneficiada pelos programas do governo federal e ganhar uma imagem mais popular. O percurso dos militantes, com a presença do candidato, será focado na Região Metropolitana e em Porto Alegre. Carlos Pestana, coordenador da campanha, conta ainda que nesta última semana começam os preparativos para o segundo turno. Outras grandes apostas são os comícios de Rio Grande, Pelotas e Santa Maria, agendados para segunda-feira. Além disto, pretendem explorar os feitos do governo atual, mostrando os pontos que melhoraram no Estado durante a gestão de Tarso.
José Ivo Sartori17% na última pesquisa Datafolha
Corpo a corpo no InteriorA grande estratégia do PMDB é pedir para que os militantes do partido passem de casa em casa no Interior, divulgando as propostas de José Ivo Sartori. A intenção é fazer com que o nome dele seja mais conhecido, como adianta o presidente do partido, Edson Brum. Na última semana, a coordenação da campanha decidiu por não fazer comício em Porto Alegre. O coordenador Sebastião Melo diz que é por falta de verba. O último ato será uma caminhada no dia 2 na Capital.
IndecisosCom esperança de chegar ao segundo turno, o partido planeja conquistar os indecisos, com o argumento de quebrar a polarização no Estado, mostrando que Sartori é o único candidato que cresce nas pesquisas e seria uma alternativa de mudança. Mas também se pensa em resgatar os que já decidiram o voto mais por rejeição ao oponente do que por identificação com as propostas do candidato. A coordenação diz, entretanto, que evitarão atacar pontualmente qualquer adversário.
Bom humorA ideia é explorar o bom humor, como o apelido "Sartorão da massa" que faz sucesso nas redes.
– Mas sem perder a seriedade – afirma Edson Brum.
Os programas têm mantido um caráter animado, e deve ser assim até o final. Na linha descontrada, acumulam-se imagens como as de Sartori jogando capoeira ou tocando gaita divulgadas no canal da campanha no YouTube, e, no programa eleitoral, o candidato utiliza termos populares como "é de pequenino que se torce o pepino".
– Mas sem perder a seriedade – afirma Edson Brum.
Os programas têm mantido um caráter animado, e deve ser assim até o final. Na linha descontrada, acumulam-se imagens como as de Sartori jogando capoeira ou tocando gaita divulgadas no canal da campanha no YouTube, e, no programa eleitoral, o candidato utiliza termos populares como "é de pequenino que se torce o pepino".
Fonte: Zero Hora
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