Em 2011, quando a revista satírica francesa Charlie Hebdo foi alvo de um atentado a bomba, um dia depois de ter nomeado o profeta Maomé como "editor-chefe" de sua edição seguinte, o editor Stephane Charbonnier mostrou a jornalistas os destroços da redação da publicação.
"Não temos mais computadores, não sobrou nada", disse ele.
"Isso me mostra que estamos certos em publicar a revista, em desafiar os (extremistas) islâmicos e dificultar a vida deles assim como eles dificultam a nossa. Isto (referindo-se ao atentado) é o ato de extremistas idiotas, certamente não de todos os muçulmanos que moram na França. É um ataque contra a liberdade."
Charbonnnier, 47, conhecido como "Charb", é uma das 12 pessoas mortas nesta quarta-feira por atiradores que invadiram a redação da revista em Paris.
Ele já havia recebido ameaças de morte no passado e havia estado sob proteção policial.
Segundo relatos, ele estava em uma reunião editorial com seus colegas quando atiradores mascarados abriram fogo com fuzis Kalashnikov, supostamente gritando "Allahu akbar!" (Deus é grande).
A revista, ideologicamente de esquerda, perdeu outros cartunistas famosos no ataque, conhecidos pelos apelidos de Cabu, Tignous e Wolinski.
'Vivo sob a lei francesa'
Como mostram as declarações de Charbonnnier em 2011, ele era um forte defensor da publicação de cartuns retratando Maomé - a representação gráfica de Maomé é considerada por alguns grupos islâmicos como ofensiva.
Em 2007, a Charlie Hebdo foi processada por associações islâmicas francesas ao publicar 12 charges satíricas do islã que haviam sido impressas originalmente - e alvo de polêmica - pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten.
"Maomé não é sagrado para mim", disse Charbonnnier à Associated Press em 2012, após o atentado contra a redação da revista. "Não culpo muçulmanos por não rirem de nossos cartuns. (Mas) eu vivo sob a lei francesa. Não vivo sob a lei do Corão."
A sátira anti-establishment da Charlie Hebdo ia além da religião: a revista tirava sarro da extrema direita francesa, de aspectos do catolicismo e do judaísmo.
O jornal belga La Libre Belgique diz que uma charge de autoria de Charb nesta semana foi assustadoramente profética: tinha o título "Ainda não houve ataques na França" e mostrava um militante islâmico com um balãozinho que dizia: "Espere! Ainda temos até o fim de janeiro para apresentar nossos desejos" - uma piada com desejos de feliz Ano Novo.
Charb era o editor mais recente da revista, tendo assumido o posto em 2012. AFP/G1
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