Foram quatro dias de silêncio, até que, finalmente,
o presidente Michel Temer decidiu se pronunciar, na semana passada, sobre o
massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus. Apesar da demora, o
presidente tem falado mais quando comparado com sua antecessora. No entanto,
prefere discursar de Brasília, uma escolha que reduz os riscos de se expor em
outras cidades. Nos seus pronunciamentos, o foco tem sido quatro grandes eixos:
relações diplomáticas do Brasil; relacionamento com o Congresso; políticas
sociais e, principalmente, a defesa do governo e das medidas tomadas para
tentar debelar a crise econômica, quase sempre mencionada em suas falas.
Com o uso de um software de análise de discurso, o
GLOBO reuniu os 118 pronunciamentos oficiais de Temer desde que ele assumiu
interinamente em maio do ano passado. Até o fim de 2016, o presidente somou 233
dias à frente do Palácio do Planalto. Foram dias complicados. Entre maio a
dezembro, o país viu o impeachment de Dilma, a cassação e eleição de presidentes
da Câmara, a aprovação de medidas no Congresso e delações premiadas, uma delas
com referência explícita ao presidente Temer. Tudo isso em meio a uma forte
crise econômica.
A análise considerou a frequência das palavras e o
grau com que elas se associam estatisticamente, formando grupos com alguma
identidade temática. A análise mostrou que há quatro eixos nos discursos do
presidente. O principal é formado pelo que se poderia classificar como “defesa
do governo”. Cerca de 36% do conjunto das palavras mais associadas podem ser
interpretadas com essa temática. São discursos em que Temer buscou justificar
suas decisões e explicar as situações econômica e política do país. Nesse
grupo, as palavras mais mencionadas são “não”, “porque”, “recessão” e
“instabilidade”. O segundo grupo (33%) tem um caráter mais diplomático e se
refere a discursos proferidos em viagens internacionais ou durante a Olimpíada
no Rio.
O terceiro grupo temático é focado em assuntos como
o Bolsa Família e outras políticas sociais (14%), e o quarto é direcionado ao
campo político (17%). Apesar desse último ocupar uma baixa proporção, é o que
apresenta palavras com o maior grau de associação entre elas, com destaque para
“Congresso”, “legislativo” e “emenda”. Sua baixa proporção pode ser explicada
pela decisão de Temer de ficar mais em Brasília, onde tem oportunidade de
realizar contatos políticos pessoalmente, dispensando a apresentação de
discursos. Cerca de 71% de todos os pronunciamentos oficiais do presidente
foram proferidos de Brasília, proporção acima do registrado por Dilma no início
dos dois mandatos. A ex-presidente falou de 24 diferentes cidades, considerando
os 233 primeiros dias do seu segundo mandato, enquanto Temer de apenas oito. (Agência O Globo)
0 comentários:
Postar um comentário