O ex-presidente Lula liberou seu herdeiro político, Fernando Haddad (PT), de fazer visitas semanais a ele em Curitiba e autorizou o PT a revisar pontos do programa de governo para tentar ampliar as alianças -e o discurso- no segundo turno.
A instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte, por exemplo, deve ser uma das propostas retiradas do plano.
Nesta segunda-feira (8), Haddad se reuniu com Lula na sede da Polícia Federal, na capital paranaense, e ouviu do ex-presidente que era preciso "ir para a rua fazer campanha" e tentar conter o avanço da onda em apoio a Jair Bolsonaro (PSL).
Lula deu carta-branca ao candidato para firmar sua identidade própria e conversar com diversos partidos, sem restrições.
A ideia é que os acordos formais se deem entre siglas de centro-esquerda, como PDT, PSB e PSOL, mas haja espaço para formar uma frente em defesa da democracia.
Nesse grupo, poderiam entrar líderes de partidos como o PSDB, por exemplo, que tem como um de seus ícones o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem boa relação com Haddad.
Em São Paulo, o candidato relatou a conversa com Lula para dirigentes do PT em um encontro ampliado da coordenação de sua campanha.
Depois da reunião, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), foi escalada para verbalizar publicamente as decisões e afirmou que as visitas de Haddad a Curitiba vão "depender da dinâmica da campanha".
"Temos agora menos de 20 dias [de campanha]. Não sei qual será o tempo e a disposição para isso [manter visitas semanais a Lula]. Se for possível, ele vai, se não for possível, vai fazer campanha", declarou Gleisi.
Ela admitiu ainda que há uma "solicitação" de partidos para que a Assembleia Nacional Constituinte não conste do programa de governo e que "possivelmente haverá uma revisão" do texto.
Gleisi repetiu Haddad em seu pronunciamento no domingo (7) e disse que o PT fará um "chamamento aos democratas", e que não haverá restrição a partidos para as conversas no segundo turno.
"Não temos restrição. Se as pessoas tiveram noção do que está em jogo e defenderem a democracia [conversaremos]. Não significa um pacto programático e que possamos mudar substancialmente propostas", completou.
A campanha de Haddad também incorporou o senador eleito pela Bahia, Jaques Wagner, para comandar as articulações políticas.
Wagner tem bom trânsito entre políticos, empresários e integrantes das Forças Armadas -ele foi ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff- e vai integrar a equipe de Haddad nas três semanas do segundo turno.
O clima na campanha petista um dia após ser chancelado o segundo turno contra Bolsonaro é de apreensão. A avaliação é de que reverter o quadro de votos, 46% para o capitão reformado contra 29% de Haddad, é "muito difícil".
Bolsonaro venceu em todas as regiões do país, menos no Nordeste, mas avançou sobre estratos do eleitorado petista e tem o apoio da maior parte do mercado financeiro seduzido pelas ideias de seu guru, o economista Paulo Guedes.
De perfil conciliador, Wagner chega justamente para tentar ampliar o arco do diálogo, não só com políticos mas também com empresários e tentar esfriar os ânimos dentro do PT.
Uma ala importante da coordenação defende que o eixo do segundo turno seja o debate econômico, com a radicalização do discurso e sem acenos ao mercado, enquanto o grupo mais próximo a Haddad quer que o candidato faça movimentos que amplie seu arco de apoio, inclusive com empresários e investidores.
A desconstrução de Bolsonaro se dará pelos direitos sociais, tentando mostrar inconsistências de suas propostas e que ele vai retirar direitos da população.
A preocupação da campanha é que não será possível vencer a eleição conquistando apenas os votos da centro-esquerda e centro-direita, mas também o eleitor tradicionalmente lulista que migrou para Bolsonaro.
Por isso, avaliam, o discurso focado no eleitorado mais pobre é tão importante.
A campanha, porém, ainda não encontrou um antídoto eficaz para combater as notícias falsas contra o petistas que circulam nas redes sociais e querem reforçar essa área no segundo turno. Com informações da Folhapress.
(Folhapress) Foto: Estadão
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