Espetáculos Nacionais - Porto Alegre Em Cena


A mar aberto – RN -Apanhado numa rede de emoções além da sua compreensão, um homem luta para se desvencilhar de seu desejo, num intenso conflito emocional que se desenrola ao sabor das ondas, em mar aberto. Preconceito, religiosidade, rudeza e culpa, estão presentes no espetáculo dirigido por Henrique Fontes e produzido em conjunto com o Coletivo Artístico Atores à Deriva. A mar aberto é livremente inspirada na obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa e, desde que estreou, em 2008, já esteve em importantes festivais no nordeste brasileiro, como o de Pernambuco, Garanhuns e Cariri.
A mulher que escreveu a bíblia – RJ - Sozinha no palco, Inez Viana conduz com brilho esse divertido espetáculo, dando voz às mulheres desprovidas de beleza. O premiado texto de Moacyr Scliar, merecedor do Jabuti, em 1999, foi adaptado para o teatro por Thereza Falcão e ganhou direção de Guilherme Piva. Em cena, as agruras de uma mulher que descobre, depois de submetida a uma terapia de vidas passadas, ter sido a mais feia entre as 700 esposas do Rei Salomão, há três mil anos. Rejeitada pelo soberano, ela é a única capaz de ler e escrever e, por isso, recebe a missão de registrar a história da humanidade. A atriz canta, dança, representa divinamente bem e estabelece intimidade com a platéia, que se diverte com a saborosa narrativa. Merecem elogios também o iluminador, Maneco Quinderé, e os figurinos de Rui Cortez.
A noite do barqueiro – SP - O diretor e dramaturgo paulistano Samir Yasbek traz sempre boas novas a Porto Alegre. Na edição de 2007 destacou-se com dois belos espetáculos que já contavam com a presença do ator Helio Cícero no elenco: O Fingidor e O invisível. Para esta edição do festival, diretor e ator trazem A noite do barqueiro, espetáculo comemorativo aos 30 anos de carreira de Cícero, merecedor de importantes prêmios teatrais, como Mambembe, APETESP e INACEN. Sozinho em cena, Helio Cícero brilha na pele de um homem que se encontra isolado numa ilha enquanto aguarda o final de uma forte tempestade e o raiar do dia para seguir sua viagem, Enquanto o tempo passa, ele reflete sobre a vida e questiona o sentido de sua existência. A noite do barqueiro foi premiado com o PAC da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo para espetáculo inédito de teatro.
Antes do café – SP - O dramaturgo Eugene O´Neil, Nobel de literatura, tem em seu currículo verdadeiras obras primas como Longa jornada noite adentro e Desejo sobre Olmos, textos que introduziram um tipo de representação expressionista ao teatro americano. Outro texto seu, Antes do Café, ganha montagem brasileira dirigida por Celso Frateschi. Em cena uma jovem mulher, que ganha a vida como costureira, espera o marido para o café. Eles estão em plena crise dos anos 20, nos EUA, transparecendo frustração com o casamento e a vida miserável que levam, sem dinheiro para comprar pó de café. Para a mulher, o marido poeta deveria deixar os devaneios e ir procurar trabalho. O marido, por sua vez, gasta o pouco dinheiro em bebida e chega tão arrasado em casa que nem conversa com a mulher. A impossibilidade de comunicação aparece como um elemento mais opressor que a própria fome. Sabiamente, esse elemento é acentuado na montagem pelo cenário de Sylvia Moreira, claramente inspirado nas pinturas de Edward Hooper, contemporâneo a O’Neill. Mas é o trabalho de ator o grande foco da montagem e onde também aparece a precisa direção de Frateschi, um encenador de mão cheia. Vale conferir!
Arthur Nestrovski, Luiz Tatit e Zé Miguel Wisnik – SP - Nestrovski e Wisnik presentearam Porto Alegre na edição passada do festival com um belíssimo show no Theatro São Pedro. Músicos, escritores, professores, ensaístas, ambos trazem na canção o seu forte. Para este ano, prometem um espetáculo ainda mais belo e rico com um convidado também pra lá de especial: Luiz Tatit, outro compositor de mão cheia. Definitivamente imperdível!
Ato – PE - O encontro de quatro personagens num universo inóspito, onde as boas condições de vida e a esperança de dias melhores estão escassas, é o mote para esta comédia sombria do grupo pernambucano Magiluth, que vem trilhando o rico caminho da pesquisa e da experimentação. Prêmio de melhor espetáculo e melhor maquiagem, no festival pernambucano Janeiro de Grandes Espetáculos, de 2009, a peça coloca em cena o jogo de poder e o sadismo desses homens aprisionados no tempo, amarelados, esquecidos. Lançando mão de uma linguagem gestual e unindo conceito, técnica e poesia, o grupo busca um trabalho de interpretação baseado na arte do clown, aliado a influências visuais expressionistas de desenho animado e quadrinhos. Assim, constrói a ótica do palhaço que brinca com suas próprias mazelas, dando-lhes um corpo lúdico e poético.
Balangandãs – Show de Ná Ozzetti – SPCanções imortalizadas na voz de Carmem Miranda estão no disco e no show Balangandãs, de Ná Ozzetti, que vem abrilhantar ainda mais a programação do Em Cena. A cantora paulista voa alto neste novo e belo trabalho. “Comecei a ouvir com mais frequência as gravações de Carmem Miranda, e elas me chamaram a atenção imediatamente pela forma como a cantora brincava e valorizava, tanto o conteúdo das canções, como seus próprios recursos vocais” Ná Ozzetti selecionou para este trabalho 15 canções e dividiu com o violonista Dante Ozzetti e com o violoncelista e guitarrista Mário Manga a tarefa de compor os arranjos. O resultado se viu na temporada paulista, com grande sucesso e agora o público gaúcho poderá conferir este que será, sem dúvida, um dos grandes sucessos do festival.
atata – BA - Completamente embriagados de Nelson Rodrigues e dos desdobramentos que a vasta obra do dramaturgo proporcionou ao grupo, o Dimenti, da Bahia, escolheu textos pinçados da obra do autor para comemorar seus 10 anos de existência. Nada mais sensato. Em Batata, propõe um diálogo entre a obra teatral de Nelson e a obra de alguns dos mais inventivos autores baianos contemporâneos. São textos confessionais que, de diferentes maneiras, abordam a relação íntima entre amor e morte, passando pelo humor, a gaiatice debochada, as alcunhas e apelidos, enfim, os verdadeiros tipos rodrigueanos. Criativo e vibrante, o Dimenti traz à Porto Alegre um espetáculo original, inventivo e merecedor de atenção. Vale conferir!
Caio F. – Três monólogos - PEO espetáculo Fio Invisível da Minha Cabeça, da Companhia do Ator Nu e fragmentos das peças Praiazinha e Dama da Noite, da Cênicas Companhia de Repertório, ambas de Recife, são a base dos Monólogos de Caio F. A idéia de juntar monólogos de obras distintas em uma única função partiu de Luciano Alabarse, coordenador do Em Cena, quando estava em Recife assistindo a espetáculos pernambucanos. Ao prestar esta homenagem ao autor gaúcho, amigo de uma vida inteira, e um dos mais importantes escritores do Brasil, uniu o Rio Grande do Sul ao Pernambuco. Muito bem aceita pelos atores pernambucanos, a iniciativa terá sua estréia nesta 16ª edição do Festival de Porto Alegre e deve lotar a sala de admiradores e amigos de Caio F.
Cru – RSLivremente adaptado de textos do jornalista, diretor e roteirista Marcelo Mognol, de Caxias do Sul, Cru é a nona montagem da Cia Teatral de Atores Reunidos, e comemora os 10 anos da trupe. Em cena está o desejo incontrolável, a pele, o corpo, a saliva, o olhar, a fome. Cru é carne exposta, é visceral. O que se vê em cena não é um espetáculo antropofágico e sim o recolhimento poético, a análise densa da vida, do desejo e da morte. Sempre há uma fenda... é por ali que a luz passa.
Dolores – BH - Um mergulho no universo dramático, irônico, kitsch e sensual do cineasta espanhol Pedro Almodóvar foi o mote para a nova criação da Mimulus Cia de Dança, conhecida mais no exterior do que no Brasil, e por isso mesmo, presente nesta edição do festival. O resultado é um espetáculo de dança atrevido, embalado no mundo e na trilha sonora dos filmes de Almodóvar, com seu humor ácido, sua plasticidade peculiar, seus personagens demasiadamente humanos. Dolores, além de ser um nome feminino, remete ao tema da dor, amplamente explorado pelo cineasta em seus filmes. Na montagem, o sentimento surge traduzido pela mescla entre a linguagem da dança de salão e as referências da dança contemporânea. A coreografia é uma criação coletiva do grupo com a luxuosa assistência de Tindaro Silvano e de Mário Nascimento, coreógrafo que esteve recentemente em Porto Alegre com o belo espetáculo Faladores.
Dúplice – GO - Duas pessoas distintas, dois lugares diferentes. Situações semelhantes num mesmo instante. Um e outro, você e outro você, você e você mesmo, dobrado fingido, forjado. Do encontro de um bailarino ator e de um ator bailarino surgem dois mercadores representando a mesma mercadoria. Dois artistas cênicos “vendendo’ a mesma cena. Dois pólos antagônicos interdependentes. Duo e duelo. Com parco aparato tecnológico, a trama se desvela sustentada pela cumplicidade e o diálogo corporal, num jogo cênico e sonoro. Dúplice chega a Porto Alegre depois de ter sido selecionado para o Festival de Artes Cênicas Goiânia em Cena, em 2008, onde foi contemplado com o prêmio de melhor espetáculo.
Les Noces – SP - Com duas peças marcantes do repertório internacional, a São Paulo Companhia de Dança participa pela primeira vez do festival de artes cênicas de Porto Alegre. E já vem em grande estilo, com dois clássicos do século XX, Les Noces e Serenade, respectivamente da russa Bronislava Nijinska e do norte-americano Geroge Balanchine.As coreografias têm em comum sua relevância e pioneirismo no contexto da verdadeira revolução que o século XX operou. Les Noces (1923), delineada sobre a música homônima de Igor Stravinsky, traz à cena as primeiras inovações modernistas e um conteúdo ousado para a época: a situação das mulheres obrigadas a aceitarem casamentos arranjados. Serenade (1935), com música de Tchaikovsky, adapta para os palcos os exercícios realizados nas aulas de balé, movimentos de riqueza inesgotável. A mais nova companhia de dança da cidade de São Paulo promete um espetáculo grandioso, realmente imperdível!
Medida por medida – RJ -Gilberto Gawronski gosta de desafios e, justamente por isso, decidiu dirigir pela primeira vez uma peça de William Shakespeare, aliás, primeira montagem desse texto que se tem notícias do Brasil. A comédia Medida por medida tem o elenco integralmente masculino composto por 13 atores, com as personagens femininas também interpretadas por homens. A escolha do elenco traz um elemento de comicidade e faz referência à época do autor, quando não havia mulheres nas encenações. Comportamento, sexualidade, erotismo e hipocrisia do poder são linhas condutoras da peça passada em Viena, cuja primeira montagem data de 1604, na Inglaterra. Gilberto Gawronski tem uma carreira repleta de momentos poéticos, de extrema sensibilidade, que marcaram as produções brasileiras contemporâneas. A montagem do texto Na solidão dos campos de algodão, de Bernard Marie-Koltès, no 2º Porto Alegre em Cena, comoveu e encantou o público que lotou o teatro em todas as sessões programadas.
No Salto – show de Leo Cavalcanti - SPDiz o ditado que a fruta não cai longe do pé. Foi assim com Leo Cavalcanti, filho de Péricles Cavalcanti, um dos compositores mais queridos entre as estrelas da MPB. Enquanto grava seu primeiro disco, Leo apresenta o show No salto, e recebe elogios por onde passa, mostrando ser um cantor de verve afiada, que vai da voz grande à voz comedida com facilidade e sutileza. Influenciado por um leque variado de estilos que inclui música árabe, flamenco, soul, blues e música brasileira em geral, Leo Cavalcanti produz um som bem pop, cosmopolita e contemporâneo e surpreende por sua performance carismática, alternando momentos bem dançantes com outros mais contemplativos. Mas em todos os momentos, cria-se uma atmosfera do sagrado, de uma busca ao divino da música e do movimento. Um show para encantar as platéias!
O dragão – SP“ - Um espetáculo de grande impacto, de considerável beleza, que faz do teatro instrumento de reflexão ao apresentar sem comentários – porém com grande consciência - a maldição que é a guerra”. Essas são palavras da renomada crítica teatral Bárbara Heliodora sobre o mais novo espetáculo do Amok Teatro, uma das grandes companhias de teatro do Rio de Janeiro. Baseada em acontecimentos reais, a peça aborda o conflito entre Palestinos e Israelenses para falar do ser humano e de um sentimento sem fronteiras: a dor e os horrores da guerra. Resultado de um longo trabalho de pesquisa, Ana Teixeira, diretora do grupo, coloca em cena quatro relatos surpreendentes, histórias que se cruzam e derrubam os muros entre judeus e árabes, mostrando que não há inimigos na dor. O Amok já esteve presente em outras edições do Porto Alegre em Cena, sempre com espetáculos belos, poéticos e provocadores.
O silêncio dos amantes – RJ -O Porto Alegre em Cena prima pela qualidade das montagens que traz a capital gaúcha todo o ano. Nesta edição não será diferente e o festival selecionou uma belíssima adaptação de contos de Lya Luft, O silêncio dos amantes, abordando um tema muito atual, que são as dores profundas causadas pela impossibilidade de comunicação entre os seres humanos. O renomado diretor teatral Moacyr Góes dedicou-se muito ao projeto e convidou os atores de sua nova trupe, a Cia. Escola 2 Bufões, a encarar esse desafio em quatro monólogos surpreendentes. A montagem, ao mesmo tempo austera e impregnada de poesia, tem como destaque a bela cenografia de Paulo Flaskman, uma espécie de “caixa de pandora” de onde emergem os personagens, numa alusão ao inconsciente.
Pássaro da noite – SP -A elogiada montagem Pássaro da Noite, do diretor paulista Marcos Alvisi, estrelada por Luana Piovani, estará em destaque nesta edição do Em Cena. A peça, além de apresentações em teatro tradicional, realizará sessões nas regiões da descentralização, uma iniciativa que deu certo e que leva o teatro às comunidades que nem sempre tem acesso à arte. “Luana é obstinada e nunca, jamais, irá pelo caminho mais fácil. É uma trabalhadora incansável, com um amor desmedido pelo teatro que comove todos à sua volta”. Com esses elogios Marcus Alvisi define a atriz que, por sua vez, afirma que o monólogo é um divisor de águas em sua vida e em sua carreira. Em cena está uma bela mulher absolutamente só, num fim de noite, voltando de uma festa. Em torno dela, uma noite sem fim e sem fatos. Entre rimas e prosas, o autor Zé Antônio de Souza nos conduz a uma viagem através dessa enigmática personagem, seus abismos, seus fantasmas, que se apega a reminiscências buscando uma tábua de salvação, um sentido para sua vida.
Qualquer coisa de intermediário / show de Adriana Calcanhotto – RJ - O nome deste belíssimo espetáculo, um verdadeiro presente ao público do Em Cena, já define sua natureza e intenção. Qualquer coisa de intermédio é imagem captada de um poema do português Mário de Sá-Carneiro, que aparece integralmente no show, porém sob a forma de canção. A poesia portuguesa de Camões e Fernando Pessoa, o fado, a canção provençal de Arnaut Daniel, a expressão artística portuguesa moderna de Amália Rodrigues, os versos de Fiama Hasse Pais Brandão, e ainda a reverência à musa Carmem Miranda fazem deste espetáculo um dos mais aguardados de Adriana e consequentemente, do Porto Alegre em Cena.
Rainhas – SP - O embate entre duas rainhas famosas da história - Maria Stuart e Elizabeth I - se multiplica em cena em um duelo cênico entre duas grandes atrizes: Isabel Teixeira e Georgette Fadel, dirigidas pela também brilhante Cibele Forjaz. Adaptado da obra de Friedrich Schiller, a trama parte de um fato real que é a disputa pelo trono da Inglaterra travada pelas duas rainhas inimigas. A diretora e as atrizes optaram aqui por subverter o clássico de Schiller e criaram um espetáculo com base em improvisações gravadas em vídeo e depois transcritas dramaturgicamente, formando o roteiro. Ao final deste processo é que as atrizes ficaram sabendo qual personagem caberia a cada uma delas, num resultado surpreendente tanto para as artistas quanto para o público. Um espetáculo instigante que vale a pena assistir!
Senhora dos afogados – SP -O diretor paulista Zé Henrique de Paula ousou nesta montagem de Nelson Rodrigues e foi bastante elogiado pela crítica brasileira. O espetáculo está ambientado no século 19, o que reforça ainda mais o atrito entre instinto e convenções arcaicas da sociedade brasileira. A história da família Drummond, em cujo sangue corre desejo e repressão é contada aqui de forma surpreendente e lírica, entremeada por 11 canções que atuam como porta-vozes dos anseios e fluxos de pensamento dos personagens. O pai é acusado de assassinato, a mãe sofre com falta de amor, a filha quer ser a única mulher da família. Esta tragédia escrita em 1947 está intacta e traz a densidade característica do universo do dramaturgo, além de um ótimo elenco. Tempo fragmento – PE - As escolhas permanentes impostas às pessoas e os questionamentos que derivam dessas escolhas são o mote principal de Tempo fragmento, a mais nova criação do renomado bailarino e coreógrafo pernambucano Ivaldo Mendonça. O contraste entre os corpos quase imóveis e movimentos velozes, o desafio à gravidade e a busca tênue pelo equilíbrio estão presentes nessa bela montagem. No palco três bailarinos – entre eles o próprio diretor -, se multiplicam em solos, duos e trios, interagindo entre eles e ensaiando um “namoro” com a tecnologia em uma das cenas, onde usam o recurso do bluetooth. Também pela primeira vez uma trilha sonora é especialmente composta para um espetáculo de Ivaldo. O músico Júlio Moraes criou uma trilha percussiva, pontuada por ruídos de sons diversos, de água até a música eletrônica. Thiago Rinaldi - RS - Show com o músico gaúcho. Foto do espetáculo O silêncio dos Amantes: Divulgação
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