A possibilidade de um novo julgamento do mensalão divide o PT e
preocupa o governo Dilma. Mesmo os petistas que temem o desgaste
provocado pela reabertura do caso avaliam, porém, que o presidente do
Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, interrompeu a sessão desta
quinta-feira, 12, e empurrou a decisão para a semana que vem apenas para
que a opinião pública faça pressão contrária aos réus.
A presidente Dilma Rousseff não quer que o julgamento invada a
campanha eleitoral de 2014 e ordenou a lei do silêncio no Palácio do
Planalto. De todos os réus do PT, Dilma só conversa com o deputado José
Genoino, que sofreu isquemia cerebral no mês passado e pediu
aposentadoria por invalidez à Câmara. Ela é distante do ex-ministro José
Dirceu, a quem sucedeu na Casa Civil em 2005, no auge do escândalo do
mensalão, e do deputado João Paulo Cunha.
No Planalto, dois petistas defendem a reabertura do julgamento: o
ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e a
titular das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Em conversas reservadas, no entanto, candidatos do PT a governos
estaduais dizem que o julgamento deveria terminar agora porque os
adversários vão fazer o partido "sangrar" na campanha se o mensalão for
revisitado. O Supremo começou a julgar os réus em agosto do ano passado,
durante a disputa pelas prefeituras, e o assunto foi um dos temas
preferidos dos rivais do PT. Logo após ser eleito prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad (PT) não conteve o desabafo, quando perguntado sobre o
tema pelo Estado. "Será que eu vou ter de passar a vida inteira
respondendo sobre mensalão?", devolveu ele.
Para o deputado Paulo Teixeira, secretário-geral do PT, nada pode
restringir o direito de um condenado à revisão de sua pena. "Nós não
podemos sacrificar um novo julgamento, que pode corrigir inconsistências
e equívocos cometidos na primeira fase, como a tese da formação de
quadrilha, com argumentos que não se sustentam", afirmou Teixeira.
"Serão 12 novas análises e creio que o Supremo não ultrapasse 60 dias
para fazer isso."
Teixeira disse esperar que Celso de Mello, ministro do Supremo, vote
na quarta-feira, 18, pela aceitação dos embargos infringentes dos réus
do PT. "A minha expectativa é que ele siga a tradição do Supremo. Se os
embargos infringentes valeram até hoje, por que agora não valem mais?
Não podemos ter um julgamento casuístico", insistiu.
A interrupção da sessão por Joaquim Barbosa foi considerada uma
"armação" por muitos petistas. Na opinião deles, o presidente do Supremo
só agiu assim para incentivar a pressão da mídia, no fim de semana,
contra o esperado voto favorável de Celso de Mello aos réus do mensalão.
Amigo de Dirceu, o ex-deputado Paulo Rocha (PT) disse acreditar na
reabertura do julgamento. "O Supremo não cometeria um ato de
autoritarismo num momento tão importante como esse", comentou Rocha, que
teve o nome envolvido no escândalo, renunciou ao mandato de deputado em
2005, para não ser cassado, e foi absolvido pelo Supremo no ano
passado.
"Um outro julgamento é necessário para mostrar as contradições, a
falta de provas e o uso indevido da teoria do domínio do fato", insistiu
o deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, numa referência à
teoria que define a responsabilidade do agente público pelo cargo
ocupado, mesmo sem haver ato de ofício.AE
- Blogger Comment
- Facebook Comment
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
0 comentários:
Postar um comentário